Esta semana festejou-se o dia internacional da mulher. Este dia, oficializado em 1910, após um movimento de luta das mulheres operárias nos EUA que no início do século passado organizaram marchas a exigir redução dos períodos de trabalho, melhores salários e também o direito ao voto, tornou-se em 1975 uma celebração reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU). Desde então têm surgido inúmeras organizações no sentido de garantir a equidade no local de trabalho, reduzir diferenças salariais entre homens e mulheres, garantir o acesso à educação por parte das mulheres, a liberdade de controlo da sua sexualidade, a igualdade no direito parental, entre muitos outros movimentos.

Tudo isto é de louvar. No entanto, segundo dados recentes, continuamos a ter uma discrepância enorme entre mulheres e homens em cargos de gestão: nas comissões executivas das empresas cotadas no índice PSI da bolsa de Lisboa, só 10.4% das funções executivas são exercidas por mulheres. O que é que isto evidencia? Evidencia que, apesar de todas as políticas e melhorias que se têm verificado, muitas coisas ainda estão por fazer.

As mulheres, desde sempre elementos fundamentais na construção dos valores familiares, e que começaram a ser finalmente reconhecidas como elementos ativos e válidos da sociedade, com capacidade intelectual para se distinguirem em diversas áreas da ciência, para liderarem empresas e gerirem recursos humanos, são no entanto, muitas vezes barradas à promoção, vendo-lhe a evolução de carreira negada em detrimento de outros candidatos que, por serem homens, são percecionados como mais capazes. Por vezes, nem os próprios decisores têm consciência desse preconceito na tomada de decisão, mas um facto é que acontece.

Não quero de modo algum soar a uma feminista ferrenha que usa este momento para reivindicar que todas as posições de topo sejam atribuídas a mulheres. Não, de modo algum. Mas temos que repensar os estigmas e preconceitos que muitos de nós ainda detemos e temos que fazer um esforço para efetivamente tentar contribuir para a igualdade entre géneros.

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Infelizmente, as mulheres ainda experienciam diariamente o que eu designo como um desafio ao empoderamento feminino. Em casa, no trabalho, na rua… persistentemente continuamos a observar comportamentos que são um desafio aos direitos de igualdade da mulher. As gerações mais jovens, designadas como geração Z e millenials, já foram educadas numa base da igualdade, tiveram professoras mulheres, viram as mães e avós a seguirem carreiras de sucesso, mas mesmo assim a desigualdade ainda está visível em pequenas situações do dia a dia que parecem impedir o atingimento da efetiva igualdade entre homens e mulheres.

Numa reunião de trabalho acontece muitas vezes os homens reagirem mais efusivamente a comentários oriundos de uma mulher, desdenhando com sorrisos sobranceiros a credibilidade dos mesmos. Mas o mesmo é raro acontecer em relação a comentários oriundos de homens. Estes podem ser totalmente irrazoáveis, mas ouvem-se e não se desdenham. No entanto, a mulheres são muitas vezes postas nesta situação de julgamento imediato, não lhes sendo sequer permitido confrontar o sorriso desdenhoso que receberam. E se o fizer é muitas vezes classificada como uma “refilona”, ou que tem “pêlo na venta”, comentários estes que me recuso sequer a comentar de tão ofensivos que são.

O que devemos então fazer como membros de uma sociedade que supostamente deseja a igualdade? Temos que lutar por ela. Temos que nos insurgir sempre que observamos um comportamento inadequado. Temos que nos insurgir sempre que ouvimos um homem ser apresentado pelo seu título de “Sr. Dr.” ou “Sr. Engenheiro” e a mulher, muitas vezes com mais graus académicos, ser apresentado pelo nome próprio, como se para ela os títulos não tivessem valor. Temos de combater as preconceções que “uma mulher depois de ter filhos tem dificuldade em evoluir na carreira”. Será que alguma vez ouvimos dizer que um homem depois de ter filhos terá mais dificuldade em evoluir na carreira? Não ouvimos, pois não? Então porque é que ainda dizemos estas coisas?

Temos que nos insurgir sempre que vimos as mulheres a ser sobrecarregadas com tarefas de office housework, ao contrário dos seus colegas homens. É contra este género de comportamentos que nos temos que insurgir. E sim, não devemos ter medo de sermos classificados como “refilões”, pois só com refilice, só com insurgimento contra práticas comportamentais que muitos ainda consideram normais é que seremos capazes de fazer a diferença por um mundo melhor, onde as meninas e meninos de hoje cresçam num mundo que preze a igualdade, que os trate com respeito e que estejam munidos de mecanismos para prevenir que alguma vez se sintam tratados de forma discriminatória face a outro indivíduo por simplesmente terem outro sexo.