A economia portuguesa não é mais complexa do que a de qualquer outro país europeu, provavelmente é até menos.  O que sucede é que os economistas portugueses que passam pelo Governo não entendem coisas básicas. É que a economia não é um terreno virgem e inexplorado à espera dos seus sábios conselhos e projectos. Nada disso. A economia é um sistema complexo que integra uma pluralidade de elementos em recíproca relação.

O que prejudica o investimento privado neste país não é a economia; é o que sempre foi ou seja, a justiça que não anda e beneficia os aldrabões, os caloteiros e os farsantes, a burocracia que é tentacular e kafkiana, as constantes alterações legislativas que se sucedem a velocidade vertiginosa,  a corrupção que alastra à vista de todos, as leis do trabalho que desmotivam qualquer empresário, a fiscalidade que é ladra, a produtividade do trabalho que é baixa porque o ensino é pouco ou nada exigente e não quer saber da profissionalização, a inépcia dos políticos profissionais, a polícia que não actua, a imprensa que é dominada por esquerdistas saídos de umas tocas e avessos ao sector privado, etc…

Os problemas económicos não se resolvem no nosso país através do ministério da economia que não serve para nada. Resolvem-se através dos outros ministérios. Não é na economia que está o problema. É muito fácil de compreender. Toda a gente percebe menos os sábios ministros da economia.

O português médio tem tanta capacidade para a actividade económica como qualquer outro, talvez tenha até mais. O pior é quando ele quer desenvolver a suas iniciativas neste país. Aí é que começam os problemas e estes não são obviamente económicos. Logo tudo se conjuga para o fazer desistir. Por muita propaganda da iniciativa privada jovem e da outra que se faça, é tudo mentira.

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Pois é senhores economistas portugueses, já governamentalizados e governamentalizáveis, a economia portuguesa é um sistema complexo e a dificuldade está não na diagnose do sistema em si, posto que para isso basta ter frequentado a universidade, mas na do comportamento concreto dos seus elementos ou seja, dos empresários privados nacionais e estrangeiros. E o comportamento dos empresários privados é racional. O que eles querem é verem-se livres de tanto Estado. Estes é que são os instrumentos da economia. Perceberam? Não são os vossos inúteis directores-gerais nem os bancos de fomento.

A economia é um sistema que não estabiliza automaticamente nem comporta soluções definitivas. Ficais pois muito desiludidos por não ver os empresários aplaudir as vossas sábias e, porventura bem-intencionadas, reformas? Não admira. É que os não conheceis nem calculais o que eles desconfiam, e com razão, das instituições e do poder político neste país.

Reformar a economia em Portugal? Comecem pelos ministérios da justiça, das finanças, da administração interna e da educação e, já agora, levem menos economistas para os centros de decisão. É que a compreensão que eles têm da realidade é muito mais escassa do que parece.