No século XVI, o Rei D. João III levou a cabo um intricado jogo diplomático com a Santa Sé para conseguir trazer a inquisição para Portugal. O seu principal alvo eram os Judeus. Com um império em decadência, o Rei de Portugal precisava de dinheiro de forma desesperada. Perante esta dificuldade, nada melhor que condenar à fogueira uma parte minoritária da população, que também correspondia à parte mais rica e instruída. O objetivo último era fazer reverter para a coroa os bens dos judeus.
Esta situação do século XVI é de alguma forma comparável com a que vivemos depois do 25 de Abril. Derrubada uma ditadura anacrónica e absurda, o estado português enveredou por uma política económica que no essencial é muito parecida às perseguições religiosas do tempo de D. João III. Tal como no passado, os detentores de capital começaram a ser perseguidos por motivos ideológicos e financeiros. Para implementar o socialismo era necessário que o estado se apoderasse do património das classes mais favorecidas.
Em 1975 Portugal encetou uma política absurda de nacionalizações de empresas e a consequente perseguição dos detentores de capital. Em nome dos amanhãs que cantam, uma parte substancial da nossa economia foi reduzida a cinzas nas fogueiras da inquisição de esquerda. No século XVI eram os frades dominicanos que do alto dos púlpitos incendiavam a população contra os judeus. No pós 25 de Abril, a extrema esquerda, inspirada por algumas das ditaduras mais sanguinárias da história da humanidade, fez exatamente a mesma coisa contra os ricos e os grandes proprietários agrícolas. Enquanto o fervor revolucionário acendia as fogueiras da intolerância ideológica, tal como no século XVI, os perseguidos tiveram de abandonar o país. Com eles também o cidadão comum teve de ir engrossar os bairros da lata de algumas cidades europeias.
No século XVI os crimes cometidos pela inquisição a mando do estado tiveram como justificação a doutrina da Igreja Católica. Na terceira república têm como justificação a doutrina da Igreja do 25 de Abril. Para a esquerda, destruir a economia, e por consequência a vida das pessoas, é “Cumprir a Abril”.
Passado o tempo das nacionalizações e da consequente destruição dos meios de produção às mãos do estado, teve de vir o FMI para evitar a total destruição económica do país. Estas intervenções do Fundo Monetário Internacional são comparáveis às intervenções sistemáticas que Roma fazia em Portugal com o objetivo de moderar o pendor assassino e rapinador da inquisição portuguesa.
Tal como algumas bulas papais que conferiam alguns direitos aos cristãos-novos, as reformas estruturais para a adesão de Portugal à CEE vieram criar alento naqueles que pensavam que o fanatismo da esquerda portuguesa tinha sido deixado para trás. Durante esse tempo, tudo parecia fazer crer que o país estava mesmo a caminho de se tornar uma das nações mais desenvolvidas da Europa. Puro engano. A prazo, o regresso da esquerda ao poder voltaria a incendiar o ódio contra empresas, empresários e demais detentores de capital.
António Guterres e José Sócrates tiveram de alguma forma a capacidade de conter esse ímpeto inquisitorial da esquerda portuguesa. Mas com António Costa voltaram a acender-se as fogueiras da inquisição de esquerda. Derrotado nas eleições de 2015, teve de se juntar com a extrema-esquerda antidemocrática para evitar a sua morte política. Esta situação levou o PS para a esquerda como nunca se vira.
De 2015 para cá, foram nacionalizadas empresas por razões ideológicas, foram criados impostos especiais sobre o capital e sobre os cidadãos com maiores rendimentos. Quando não foi possível criar mais impostos, criou-se legislação que condiciona a atividade das empresas e dos cidadãos e os persegue com multas. Um rol interminável de taxas e taxinhas ajuda a engrossar o saque. Tudo isto em nome da doutrina da Igreja do 25 de Abril. Aquela que promete sistematicamente o paraíso socialista aos seus crentes. Curiosamente também os judeus do século XVI foram alvo de impostos especiais.
Numa das prédicas mais famosas da história recente de Portugal, uma das sacerdotisas mais proeminentes da Igreja do 25 de Abril disse que era preciso ir buscar dinheiro a quem o estava a acumular. O auditório repleto de crentes fanáticos irrompeu num fervoroso aplauso. Este discurso teria deixado os frades dominicanos do século XVI com uma lágrima no canto do olho.
Em nome da Congregação para a Doutrina das Alterações Climáticas, o estado passou a perseguir os donos de automóveis, utilizadores de sacos plásticos, consumidores e produtores de carne, eletricidade, gás, petróleo, empresas do sector florestal, etc. Esta congregação é atualmente uma das mais poderosas da Igreja do 25 de Abril. Ela consegue justificar a continuação do saque fiscal.
Tal como alguns religiosos do século XVI, os comentadores e partidos de esquerda disseminaram o ódio sobre os empresários do alojamento local. Instigando o ressentimento dos que não têm casa, contra os detentores de capital que revitalizaram as cidades portuguesas. Ter hoje um alojamento local em Lisboa ou no Porto, é como ser judeu no século XVI. No tempo em que havia tolerância ideológica, o turismo era visto como uma atividade fundamental para o país, hoje é visto pelos religiosos da Igreja do 25 de Abril como um grave problema que urge combater. O próximo alvo serão os hotéis.
Para êxtase dos fanáticos da Igreja do 25 de Abril. António Costa converteu-se num género de Tomás de Torquemada dos tempos modernos. Adquiriu o gosto de sovar empresas em praça pública. Desde as empresas na área da energia, até às de distribuição alimentar, vai tudo na ponta da baioneta. Os clérigos da Igreja do 25 de Abril têm por hábito responsabilizarem as empresas privadas pelos falhanços das políticas socialistas.
No século XVI era a Santa Sé que moderava os impulsos assassinos e rapinadores de D. João III, hoje é a Santa Bruxelas que evita que a inquisição de esquerda se torne uma cruzada anticapitalista. Tal como os fades dominicanos do século XVI, também alguns dos pregadores mais fanáticos da Igreja do 25 de Abril não perdem uma oportunidade para mostrar o seu ódio aos judeus e ao estado de Israel.
Perante a possibilidade de morrerem queimados nas fogueiras de D. João III, os judeus portugueses foram-se refugiar na Holanda. Aí utilizaram o seu conhecimento e o seu capital para ajudarem a construir o império comercial holandês e o capitalismo moderno. Ainda hoje lá está a Sinagoga Portuguesa de Amesterdão. Nos dias de hoje, perante o inferno fiscal que se vive em Portugal, uma parte substancial das empresas cotadas na bolsa de Lisboa também se foi refugiar nos Países Baixos. O mesmo acontecendo às novas gerações de portugueses que, perante a falta de perspetivas, continuam a rumar aos países que levam a cabo as políticas que a Igreja do 25 de Abril abomina.
À semelhança da Revolução Liberal e da implantação da República, será que vamos precisar de uma revolução para fazer a separação entre o Estado e a Igreja do 25 de Abril? Espero que não…