A terra tremeu, nasceram comentários e comentadores. Questiona-se a resistência dos prédios cuja construção ou intervenção seja anterior à entrada em vigor dos regulamentos antissísmicos. Percebe-se. É suposto que quem habite ou frequente construções posteriores a uma determinada data se sinta seguro, ou pelo menos mais seguro. Devia ser assim, mas de facto não é. É que coexistem dois “Portugais”: o Portugal racional, das novas construções e das obras de reforço das antigas, onde a tecnologia aumenta a segurança do edificado, onde foram gastos milhões no reforço de escolas e outros edifícios e o Portugal irracional, onde militam os “defensores” do património. Neste Portugal a cal é rainha e a tecnologia fica à porta. Sejam habitações privadas, ou monumentos, a “norma” (ilegal) é promovida por um conjunto de pessoas, por norma arquitectos, sem formação em engenharia, nenhuma em estruturas e zero em sismos. Proclamam, por escrito, sentenças de morte a prazo. Se recordarmos 1755, lembrar-nos-emos que muitos faleceram nas igrejas que frequentavam no momento do terramoto. Hoje como então morreriam. Sempre que haja cheiro a “classificado” o cimento é banido, como os pilares e vigas (mesmo os invisíveis), as fibras de reforço dos rebocos não são bem-vindas e materiais compósitos então nem pensar.
No dia de defuntos, que virá, espero que haja justiça. Um técnico do Estado não pode alegar desconhecimento de que vivemos num país sujeito a sismos, que os edifícios de alvenaria não resistem a sismos, que os edifícios têm pessoas dentro (foi para isso que foram criados) e que se os edifícios colapsarem as pessoas sofrem e muitas poderão morrer.
Importa reverter de imediato esta política assassina e rever todos os pareceres dados pelas instituições ligadas ao “património” (cujo nome foi mudando), para tentar reanalizar os riscos, informar os proprietários e o Estado, que foi o responsável por esta loucura, disponibilizar fundos para repor a segurança nos prédios. Pelo caminho deverá abrir processos aos responsáveis quer pelas perdas do próprio Estado, quer pelas dos particulares.