Os fenómenos naturais estão, na sua maioria, muito acima do nosso “pay grade”. Contudo, séculos de experiência e troca de experiências, investigação e desenvolvimento da técnica, tem baixado o impacto devastador de muitos desses fenómenos. Das obras marítimas para “adoçar” o impacto dos oceanos nas margens costeiras, à tecnologia antissísmica inserida nos edifícios. Portugal tem uma história nesta matéria, após 1755, os prédios lisboetas, passaram a incluir soluções que melhoravam o comportamento do edificado em caso de sismo (as célebres “gaiolas”). Ao arrepio da técnica e até do bom senso, a DGPC, tem um entendimento diverso da necessidade de segurança.

Conto uma história passada comigo. Uma igreja não classificada teve uma intervenção nos anos 50. Por via dessa intervenção, que acrescentou forças não suportadas pelas paredes, estas começaram a flectir. Foi proposta uma solução: inserir pilares e cintas dentro das paredes (confinar a alvenaria, é o termo) e rebocar as paredes com argamassas armadas (de cimento e areia, com fibras). A DGPC chumbou o projecto. Num ofício que enumerava uma grande quantidade de decretos (quase nenhum aplicável ao caso) limitava a intervenção ao uso da cal. Rebocos com cal, nada de cimento ou pilares.

Como dizia um professor meu, há uma classe que diz da cal o que não diz da própria mãe, só que neste caso a cal pode ser madrasta.

A visão de Marrocos nos últimos dias, se outros estudos não houvesse, faz-nos perceber a ineficácia da cal enquanto produto para aumentar a resistência antissísmica das edificações, mas é esta opção (que não é garantidamente solução) que tem sido imposta pela DGPC nos nossos monumentos. Ou seja, quando o sismo vier, “eles” vão cair e todos vamos ter muita pena e ainda maior quando se perceber que não vai haver dinheiro para os recuperar. Mas a culpa morrerá solteira. Ou melhor, será do sismo.

A maioria dos nossos monumentos foram reconstruídos no Estado Novo. Com o dinheiro que havia. Foi criada uma imagem de pedra amontoada a fingir de alvenaria de pedra. Só que a original era feita em perpianho, grandes blocos que ocupavam a parede toda e não pedras ligadas com argamassas de cal… dos anos 40. Como os nossos antepassados não eram desprovidos de inteligência, as paredes de alvenaria de pedra “amontoada” eram rebocadas. Talvez seja tempo de o voltarmos a fazer, com soluções de contenção, enquanto é tempo.

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