Há uma questão que está a ser discutida um pouco por todo o mundo: a Inteligência Artificial (IA) vai mudar os processos de ensino e aprendizagem?

A IA pode ser usada para personalizar o ensino e torná-lo mais adaptado às necessidades e capacidades individuais dos alunos. Por exemplo, algoritmos de IA podem analisar os padrões de aprendizagem de cada aluno e ajustar o conteúdo, a velocidade e o estilo de ensino de acordo com suas necessidades específicas. Isso pode melhorar significativamente a eficácia e a eficiência do ensino, tornando-o mais eficaz e envolvente.

Além disso, a IA pode ser usada para criar ambientes de aprendizagem mais interativos e inclusivos, como jogos educacionais e simulações, que permitem que os alunos pratiquem e apliquem as suas capacidades num ambiente seguro e controlado.

A IA também pode ser usada para fornecer feedback mais imediato e preciso sobre o desempenho dos alunos, permitindo que os professores e os próprios alunos monitorem e ajustem o seu progresso de aprendizagem de forma mais eficaz.

No entanto, também é importante considerar os possíveis riscos e desafios associados ao uso da IA na educação, como a necessidade de garantir a privacidade e a segurança dos dados dos alunos, e a possibilidade de criar um desequilíbrio na equidade educacional, favorecendo alunos com maior acesso à tecnologia.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Em resumo, a IA tem o potencial de transformar os processos de ensino e aprendizagem, tornando-os mais personalizados, interativos e eficientes. Mas é importante considerar cuidadosamente os possíveis riscos e desafios associados à sua implementação, e garantir que ela seja usada de forma ética e responsável para maximizar os seus benefícios educacionais.

Caro leitor a pergunta inicial que fiz é minha, mas a resposta foi dada pelo ChatGPT. Como professor, vejo as potencialidades da Inteligência Artificial no ensino, mas também me preocupam os riscos associados à sua utilização. De qualquer modo estou convicto que a IA generativa, e aplicações como o ChatGPT, irão revolucionar os processos de ensino, aprendizagem e de avaliação e que é necessário desde já discutir o seu possível impacto para alterar e adaptar o sistema de ensino em conformidade.

Fiz alguns testes simples ao ChatGPT e aqui vão algumas conclusões preliminares a partir de quatro tipos de questões. Primeiro, questões de “autoavaliação” sobre o papel da AI. Na pergunta com que iniciei este artigo sobre o papel que a IA considera que terá nos processos de ensino e aprendizagem no futuro, apresenta os dois lados da questão: as potencialidades e os riscos. Esta a estratégia muitas vezes adotada de olhar para os dois lados de um problema como quando questionei se a IA deve responder a problemas sentimentais dos humanos. Aqui, depois de dizer as potencialidades da IA de ajudar numa variedade de problemas emocionais e psicológicos e de dar aconselhamento emocional até sobre problemas de saúde mental, alerta que, e agora cito apropriadamente, a IA “não deve ser vista como um substituto para o apoio e aconselhamento emocional humano. A IA pode fornecer informações e orientações úteis, mas não pode substituir a empatia, a compreensão e a conexão humana essenciais para a cura emocional e o bem-estar.” Interessante esta “autoavaliação”.

Um segundo grupo de questões foi sobre decisões políticas ou políticas públicas. Na pergunta sobre onde deve estar localizado o novo aeroporto de Lisboa, refere, de forma desatualizada as alternativas de OTA, Montijo e Alcochete. Sobre a cronologia dos acontecimentos da TAP, faz uma razoavelmente boa descrição cronológica, mas reconhece no final que ignora desenvolvimentos a partir de 2021. Ou seja, várias vezes refere que os seus dados estão desatualizados. Na pergunta sobre se as taxas de IRS devem descer em Portugal, começa assim a resposta: “A questão de se as taxas do imposto sobre o rendimento (IRS) em Portugal devem ser reduzidas é complexa e depende de vários fatores, incluindo as prioridades do governo em relação à política fiscal, as necessidades e capacidades do país em termos de financiamento público, e as expectativas da sociedade em relação à justiça fiscal.” Nada mal. Depois argumenta sobre os aspetos positivos e negativos associados a uma eventual descida das taxas de IRS. Ou seja, “ele” (ou “ela”) é relativamente bom quando aborda questões que têm fundamentos teóricos claros, mas tem pior desempenho se dados empíricos recentes são necessários para uma resposta.

Um terceiro grupo de questões foram de natureza bibliográfica. Se lhe peço bibliografia sobre determinado tópico em português de Portugal (para evitar referências a livros do Brasil) ele inventa obras que não existem juntando autores que nunca escreveram juntos (em inglês é um pouco mais preciso, e por vezes útil, embora bastante incompleto). Na sequência da sua má resposta indiquei com o dedo polegar para baixo que não tinha gostado da resposta e na caixa de comentários escrevi várias referências importantes sobre o tópico (facilmente verificáveis por “ela”), para testar a sua aprendizagem. Dias depois fiz a mesma pergunta e vi que o algoritmo de momento não processa e aprende com este tipo de respostas.

Finalmente, interessa-me particularmente as respostas dadas a questões que envolvem dilemas éticos. Devemos exportar resíduos urbanos para outros planetas? Aqui a resposta é bastante “inteligente”. Começa bem dizendo que na atualidade não temos a tecnologia e os recursos suficientes para exportar uma larga quantidade de resíduos para outros planetas, mas mesmo que tivéssemos haveria que considerar significativas “questões ambientais e éticas”. Porém, não desenvolve quais são essas questões éticas, concluindo que não sendo possível, nem eventualmente desejável, exportar, há que focar na redução da produção de resíduos e aumento da reciclagem. Em questões mais debatidas na sociedade – como a legalização da eutanásia que será uma realidade em breve após promulgação do Presidente da República– o ChatGPT apresenta os dois pontos de vista, éticos e morais, sobre a questão.

Estes, e outros, simples testes realizados ao ChatGPT, e a perspetiva que tenho em relação à evolução do conhecimento científico (que é imparável) e às suas aplicações práticas (de inevitável utilização em países democráticos) levam-me a concluir que irá haver uma revolução no processo educativo. O ensino, que hoje é muito baseado na transmissão de informação e de conhecimento e menos na solução de problemas concretos, passará a dedicar muito menos tempo aos primeiros e mais ao segundo. Aquilo a que se deverá dar primazia é à transmissão de competências para pensamento crítico, resolução de problemas, trabalho em equipa, estruturação de informação, pensamento analítico, ponderação de questões éticas. O uso do tempo de trabalho dos docentes deverá alterar substancialmente. A IA pode aliviar o trabalho administrativo e burocrático que neste momento é um factor de desmotivação e de burnout de professores sobretudo no básico e secundário, mas também já no superior. Essa redução pode e deve ser compensada com mais tempo de ligação e tutoria dos alunos de forma mais individualizada e de mais avaliação em sala de aula. Dado que rapidamente se tornaram parcialmente obsoletas as aplicações, hoje usadas, para detectar plágio em trabalhos individuais ou em grupo no ensino superior, sobretudo na licenciatura, mas também em teses de mestrado ou doutoramento, toda a avaliação de conhecimento deverá ser repensada. Talvez mesmo o epíteto de “avaliação de conhecimentos” deva ser alterado. É mais uma revolução que vem aí. Saibamos aproveitar as potencialidades da IA e combater os seus riscos, na certeza de que tudo não ficará como dantes.