Deputados romenos propõem que o Tik-Tok seja banido da Roménia ou no mínimo regulado. Isto na sequência dos resultados de uma sondagem em que mostra que 15% dos jovens eleitores entre os 18 e os 35 anos tencionam votar num partido de extrema-direita (Aliança para a União dos Romenos). Um número considerável de países europeus proibiu o uso do Tik-Tok em aplicativos governamentais (computadores, telemóveis, etc.). O  mesmo fizeram as instituições da União Europeia. Há poucos dias Joe Biden assinou uma lei que abre caminho para a ilegalização do Tik Tok, dados os riscos para a segurança nacional dos EUA associados a uma empresa chinesa ter os dados de cerca de 150 milhões de cidadãos americanos.

Desde o escândalo da Cambridge Analytica que estamos cientes que há um grande perigo associado ao uso maciço  de aplicações como o Facebook, o Youtube, o X ou o Tik Tok. A quantidade imensa de informação pessoal que é fornecida às grandes empresas que as gerem, permite o seu uso por terceiros com objetivos quer comerciais quer políticos. Mas é o mais recente desenvolvimento da inteligência artificial generativa que potencia esses riscos  ao aperfeiçoar os algoritmos que permitem personalizar cada um de nós como objeto de publicidade, informação e mesmo de notícias falsas. O impacto que isso tem na erosão das democracias é já visível.

Para além da necessidade de dar mais relevo ao fact checking, há três coisas que me parecem essenciais acautelar para evitar ou minorar a erosão da competição política democrática. A primeira, é os jornalistas, em particular os editores, não se demitirem do seu papel de mediadores. Os factos, são os factos, mas cabe aos editores decidirem se lhes querem dar relevância ou não. O alegado crime de traição à pátria cometido pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, é um fait divers construído com objetivos mediáticos que poderia e deveria ser notícia menor em qualquer órgão de informação. Teve o destino esperado, o chumbo na Assembleia da República (AR). Porém, foi tratado jornalisticamente desde o seu início como sendo uma notícia de relevo nacional. Quem beneficiou com isso? Quem ganhou visibilidade? Os suspeitos do costume.

A segunda, é os deputados, e em particular o Presidente da Assembleia da República (PAR) terem a perfeita noção que tudo aquilo que se passa no plenário é transmitido simultaneamente em dois espaços comunicacionais distintos. Por um lado, os meios de comunicação tradicionais que, em geral, tentam veicular o contraditório e a dialéctica parlamentar ajudando a formar a opinião cívica individual. Por outro, as redes sociais, onde vídeos criteriosamente escolhidos com os “melhores” soundbytes e performances são produzidos e canalizados pelos algoritmos para os já convertidos, ou a converter, para transmitir a “verdade”.  Para minorar a democracia espectáculo em que vivemos isto sugere uma intervenção minimalista do PAR restrita aos limites constitucionais da liberdade de expressão (ex. o discurso de ódio). O PAR deve ser sobretudo um árbitro, não entrar na argumentação política e respeitar e fazer respeitar a Constituição e a instituição parlamentar.

A terceira, é todos os partidos ganharem competências para utilizar com eficácia as redes sociais. A dualidade de espaços comunicacionais, um regulado (meios de comunicação social tradicionais), outro praticamente não regulado (plataformas de redes sociais) introduz uma distorção na competição política democrática. As redes sociais tendem a alimentar a polarização e o extremismo político pois é aquilo que geralmente produz mais likes. Ou seja, tendem a produzir uma assimetria na representação política. Não me parece que a solução seja uma particular plataforma (e.g. o Tik Tok) ser proibido, pois se tal acontecer os vídeos muito vistos ou potencialmente virais deslocar-se-ão para outras aplicações. Em Portugal, como na Europa, são os partidos populistas, em particular partidos de extrema-direita que melhor têm usado as redes sociais. Os debates televisivos ou na rádio, na presente campanha eleitoral europeia, são certamente úteis, mas uma grande parte da população, sobretudo jovem, não os vê e consome notícias por meios alternativos no seu telemóvel. Os partidos democráticos não populistas têm de perceber que o grande desafio desta década, e das democracias atuais, é o de diminuírem a grande desvantagem que têm no uso das redes sociais, face aos partidos populistas.

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