Num cenário político frequentemente tumultuoso, é crucial reconhecer os momentos positivos e até festivos que se destacam. Quatro eventos recentes capturaram a nossa atenção, não apenas pelo seu significado individual, mas também pelo contraste que proporcionam em relação a um contexto político muitas vezes polarizado e caracterizado pela rigidez ideológica.

Primeiramente, a atitude exemplar do Papa Francisco ao telefonar ao presidente eleito Javier Milei, após a sua vitória eleitoral na Argentina. Milei tinha-o criticado duramente e o Papa demonstrou um espírito de fair play e civilidade que não é comum na esfera política. Num mundo onde as divisões políticas muitas vezes parecem intransponíveis, gestos como este oferecem uma mensagem poderosa de abertura ao diálogo, até com os mais improváveis personagens.

Em segundo lugar, a interrupção temporária do conflito entre Israel e o grupo Hamas, visando a libertação de reféns, proporcionou um breve, porém significativo, momento de tréguas numa região assolada pela instabilidade. Não é fácil derrotar uma ideologia cujo objetivo é destruir o Estado de Israel através do terrorismo, mas será preciso continuar a trilhar caminhos políticos e diplomáticos para salvar o futuro de Gaza depois da guerra.

A celebração inaugural do 25 de novembro na Câmara Municipal de Lisboa representa mais uma libertação da narrativa ideológica que pretende branquear a deriva totalitária vivida em 1975, depois da promessa de liberdade trazida pelo 25 de abril. Nas palavras do Presidente da Câmara, Carlos Moedas, o 25 de Novembro significou “vitória da democracia sobre o radicalismo”.

Outra boa notícia foi ficarmos a saber que apesar da pressa em aprovar, à revelia do povo, a lei da eutanásia, o governo não vai avançar com a regulamentação por “ser uma matéria demasiado complexa”. A sociedade civil pode assim mobilizar-se para que a lei, promulgada a 16 de maio de 2023 pelo Presidente da República, possa vir a ser revogada pela próxima maioria parlamentar. Com a libertação de mais esta lei ideológica, o futuro governo poderá trabalhar para que os cuidados paliativos humanizantes sejam mais acessíveis a toda a população e a solução para a dor e o sofrimento não seja a morte assistida.

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