D. Américo Aguiar, Presidente da Fundação JMJ 2023, entregou há dias uma mochila ao Papa, como se estivesse diante de um peregrino entre peregrinos, o que é verdade mas não é a verdade toda. Recuo a 2000, às origens deste mega evento, e neste caminho até Lisboa pergunto o que posso esperar desta bagagem de Francisco: um danoninho tutti frutti ou um shot de longa metragem?
As JMJ são para aqueles que por força da idade e natureza ainda não cancelaram as perguntas sobre o sentido, fazendo assim ius ao pessoano >”Querendo quero o infinito”. Em vão tudo conspira para as arrumar como ilusão, a de a felicidade ser possível agora, JÁ, como uma espécie de promessa não cumprida, admitindo a inutilidade de qualquer esforço para deslindar as implicações de tal démarche.
Apesar de vender como inverosímil a concretização de tal sonho, o jovem é aquele que não desiste e se compromete a gritar por ele incessantemente. No limite dá a vida em carris de procura, que não foi ele a construir, na certeza de que só há sentido se tudo fizer sentido e se ele fizer parte deste. Ele vai até às portas da morte, e às pequenas mortes diárias, não se importando em dar a vida pela obra de um Outro, do qual desconhece o rosto, mas sem o qual nada tem lógica.
Milhares de jovens dão a sua vida pelos outros, lutando assim todos pela felicidade universal, apesar de tudo o que a parece obstaculizar, em particular e ao rubro, a injustiça, a mentira e o ódio. Assim Manoel de Oliveira – um jovem com 104 degraus subidos sob o nosso olhar expectante – na sua primeira metragem com argumento próprio, o Non ou A vã glória de mandar, faz dizer a um dos guerreiros: “Só se conquista o que se dá!”. É neste retorno que se dá o que engrandece o indivíduo. As proezas juvenis, mais ou menos heróicas, revestem o homem de uma maturidade que o investe como protagonista da História.
É por isso que a mochila que aqui me fez chegar não é igual às outras. O backpack de Francisco com nada se deve confundir. A riqueza da JMJ inclui sem sombra de dúvida a diversidade cultural de jovens que a Portugal peregrinam, mas transcende-a. Se há riqueza na diversidade, quanto maior é aquela que a sustenta! A riqueza da JMJ não reside em qualquer desígnio estratégico mas em ter o seu foco no centro do cosmos e da história. Sem a Redemptoris Hominis, a fraternidade, a Frattelli Tutti, não tem sustentabilidade.
Não se trata aqui de convicções religiosas! O centro do cosmos e da história só pode ter um Redentor, Jesus Cristo, Deus feito um de nós para nos salvar ou devolver ao que somos. Esse centro não pode ser um projecto de salvação, por muito verde, azul ou branco que seja. Cadáver adiado ou vã glória de poder, rebentará na poeira do tempo.
Ao meu coração não basta a mochila que contenha apenas inspiração espiritual ou um encontro com um Deus sem rosto. O meu coração precisa de encontrar Aquele que o conhece como ninguém, pela simples razão de o ter feito e fazer em cada seu bater ou vibe. Na realidade a fasquia é o infinito: é Jesus que tu procuras quando sonhas com a felicidade; é Ele que te espera quando nada te satisfaz com o que encontras; Ele é a beleza que tanto te atrai; é Ele quem te provoca com aquela sede de radicalismo que não te permite adaptar ao compromisso; é Ele que te exorta a despir-te das máscaras que tornam falsa a vida; é Ele quem lê no teu coração as decisões mais verdadeiras que os outros gostariam de sufocar. É Jesus quem desperta em ti o desejo de fazeres algo grande com a tua vida, a vontade de seguir um ideal, a recusa de te deixardes engolir pela mediocridade, a coragem de te comprometeres com humildade e perseverança na tua melhoria e na da sociedade, tornando-te mais humano e fraterno ( S. João Paulo II, Roma, 2000, Vigília de oração com os jovens).
A ponte no horizonte do Altar do Parque Tejo no dia 6 de Agosto simboliza uma miragem, ou a passagem para a outra margem? A resposta implica conhecer o Dono da Obra. Será Buda, Confúcio ou Maomé? Será o Papa ou Pontífice (=que faz pontes)? Nenhum deles!
O Dono da Obra, Jesus Cristo, escolheu no entanto a primeira Pedra sob a qual edifica a humanidade: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mateus 16, 18-19). Esta é a verdade e utilidade da Igreja, que não é a de um facilitador ou social host mas é a de convocar todos os jovens a criarem um mundo digno desse nome, sabendo que Sem Ele o fogo que experimentam em todo o seu ser se reduzirá a cinzas. É o seu Espírito que nos faz dizer «Creio», servindo-Se de nós, depois, para testemunhá-Lo por todos os cantos da terra, lembra e bem o Papa.