Quem é quem? Quem faz o quê? Estas e outras questões afins têm vindo a alimentar a espuma dos dias em torno das Jornadas Mundiais da Juventude(JMJ). A confusão reinante e a ausência de consenso em relação a competências e obrigações, obriga-nos a recuar no tempo. Trata-se de um evento de milenares pretensões universais. A resposta às perguntas que se impõem, foi dada um vez na História: devemos dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César.

Curioso o mayor de Lisboa ter o nome “Moedas”. Bem sei que hoje em dia o nome é dado mais ou menos arbitrariamente, não trazendo consigo outro significado senão o de ter agradado aos progenitores mais ou menos próximos. Mas podemos nós ler outro sentido se nos ajudar a bem pensar o que afinal devemos dar a Moedas.

Apanhado no vendaval de opiniões acerca do que terá lugar em Lisboa em Agosto próximo, o político que se tornou mais notório entre nós como Comissário Europeu para a Inovação (2014-2019) disse há dias uma coisa que me chamou a atenção: “Nunca tivemos um evento deste nível e eu penso que, talvez, no futuro, nas nossas vidas, não voltamos a ter um evento deste nível, nem com este tamanho, nem com esta capacidade de unir o mundo .”(Carlos Moedas, por ocasião do Memorando de entendimento entre a CML e a Comunidade de Madrid).

Diante tal dimensão é natural que haja atropelos. Passa-se algo semelhante com aquelas crianças que tudo fazem para agarrar o brinquedo para si. A correria a que temos assistido impõe que se reconheça claramente a quem pertence o quê. O que deverão os principais atores fazer? O que deve Moedas fazer? E os Presidentes do Governo e da República? E o mayor de Loures? E o ex-vereador e agora coordenador do grupo de Projetos?

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O evento é vertiginoso, é o próprio Moedas a confessá-lo ao perguntar se nós queremos ou não ser naqueles dias o centro do mundo, como vamos ser, com jovens de todo o mundo que vão estar nesta cidade?

Não ignoramos que as JMJ são uma coisa da Igreja. Mas, e como tudo o que acontece, elas não são coutada de ninguém. As múltiplas dimensões das nossas vidas são, apesar da nossa tendência para a “bolha”, testemunho de que não há nada que me seja estranho, e que não há nada que seja estranho à política.

Este meeting de juventude não é portanto alheio à política. Mas como políticas há muitas, importa clarificar as águas. Neste ponto partilho a visão do engenheiro, ao dizer, ainda no mesmo encontro em Madrid: “a política [é] feita para as pessoas e com as pessoas”.

A política é aliás uma forma excelente de mostrar o que somos, o que são as pessoas, nas duas faces de uma mesma moeda. Ninguém – nem mesmo o católico praticante como se costuma impropriamente dizer – escapa a esta condição de ser uma mistura de bom e vilão, seja Américo, António, José ou Marcelo.

O que nos diferencia é a forma como vivemos as circunstâncias. Neste caso, as JMJ são um patamar para outros altares, ou um acontecimento que nos mostra o que é afinal o protagonismo. Tocamos aqui um ponto caro ao ex- Comissário Europeu, a inovação. Não será o Cristianismo a inovação mais inovadora de sempre?

Desde que o homem é homem, sempre procurou um caminho que o levasse a vencer os limites, a temporalidade. Difícil, quase impossível reconheceria Platão no Diálogo Fédon, assim como a dificuldade do náufrago perdido nas vagas do Oceano. A não ser que o próprio Deus viesse em seu auxílio. « Deus, de facto, amou de tal modo o mundo, que lhe deu o Seu filho unigénito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna » (Evangelho de S. João). É Ele o Redentor do homem, Jesus Cristo, centro do cosmos e da história – verdade chave do Cristianismo, pulmão do pontificado de S. João Paulo II, outro grande inovador por ter inventado as JMJ.

As JMJ serão a oportunidade única de reconhecer o Senhor da História ou apenas mais uma oportunidade para o mais ou menos velado, mais ou menos consciente, oportunismo dos palcos para o poder. Sem sombras de maniqueísmo, não temos a ilusão de que a vida se resolva com “nims”. Basta olhar para a História para ver quem foram, e quem são, aqueles que causaram mudanças, os que traçaram rumos de inovação, assim fazendo História.

Todas as inovações pretendem em última análise vencer a morte. Mas só um homem venceu a morte. Fora disso as soluções encontradas acabam por se afogar num ativismo materialista, que leva ao nada.

“Eu não tenho dúvida de que vamos ter um retorno enorme”, diz ainda Moedas na mesma ocasião. “E o retorno, acreditem, que vai ser multiplicado, tudo isto que vamos investir, por 10 ou por 20″.

A novidade – posso testemunha-lo – está porém em que as contas são outras. Não se trata de sermos pagos no futuro das ideologias que não nos querem ver felizes já, aqui e agora. O Senhor da História, de forma misteriosa, é pronto a pagar e paga bem: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de Mim e do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida” (Marcos 10, 29-30).