Você está comendo pouco. Deveria comer por dois. Você está comendo muito. Cuidado que depois, para perder esse peso, é uma dificuldade. Você deveria pegar leve no exercício físico, pode ser arriscado para o bebê. Você deveria se movimentar mais, fazer caminhadas, ficar parada é ruim para o bebê. Aproveite para dormir agora, depois não vai dormir mais. Não durma demais, senão é pior para se habituar depois que a criança nascer.
Desde que descobri que estava grávida, perdi as contas de quanta coisa já ouvi sobre meu corpo, sobre minha gestação, sobre meu bebê. Todo tipo de análise não autorizada foi feita e todo tipo de conselho não solicitado foi dado. Na maioria das vezes, não reagi de nenhuma forma, me limitei a sorrir e agradecer de alguma maneira. Não tive estômago para explicar que aquilo não era benéfico para mim.
Não entendo bem qual o pensamento que lidera essa forma de lidar com a gestante. Algo que oscila entre o paternalismo e o total desprezo pela privacidade da mulher. De fato, o corpo feminino é alvo de avaliações e julgamentos constantes, independentemente da gravidez. Mas a partir do momento em que desponta uma barriga de gestante, o mundo se sente à vontade para dizer o que quer que seja, de positivo ou negativo.
Eu não canso de me admirar com as infinitas perguntas sobre o parto – que acredito ser uma das questões mais íntimas e complexas para toda mulher. Questionamentos e opiniões sobre cesáreas, sobre partos naturais sem anestesia, partos humanizados ou qualquer outra escolha são colocados de forma incisivas, como se cada um dos invasores soubesse, por sua conta, o que é definitivamente melhor para a mãe e para o bebê, mais do que qualquer obstetra.
Alguns justificam dizendo que a gravidez é algo natural, que faz parte da vida. Mas sempre gosto de fazer uma analogia com o intestino – que também é natural e também faz parte da vida, mas que nem por isso as pessoas saem por aí perguntando como anda o funcionamento do intestino alheio, ou opinando sobre qual a melhor forma de evacuar. Nesse caso entende-se que é uma invasão à privacidade alheia, diferente do que acontece com a gravidez.
Consigo reconhecer que muitas vezes a intenção das pessoas é boa. Ninguém quer fazer mal. Mas o problema é que, em geral, elas fazem. Mulheres grávidas estão sensíveis e estão cansadas de comentários não solicitados. Sua barriga está enorme. Devem ser dois bebês. Sua barriga está pequena. Não anda comendo direito? Tudo isso gera stress. Tudo isso machuca em algum lugar.
Se a sua intenção é ajudar, espere ser solicitado. Sempre há algo de positivo a dizer, como “que bom te ver com saúde”, como “tenho certeza de que o bebê trará muita alegria” ou como “se eu puder ajudar com algo, conte comigo”. Há diversas formas de participar sem ser invasivo, de comentar sem gerar sentimentos ruins. Não é tão difícil assim.