Noutro dia, perguntaram-me como se educa um adolescente para o sucesso. E eu fiquei embaraçado. “Ter sucesso é eleger um sonho e lutar por ele” — respondi. “Em que mundo é que anda?”, perguntou-me o pai. “Neste”, respondi. Mas, muitas vezes, tenho a sensação de que quem anda “na lua” talvez não seja eu.

Porque aquilo a que se vai chamando sucesso parece supor que não se tenha derrotas, nem dúvidas, nem vitórias “a safar”. E que se tenha, invariavelmente, boas notas, claro. Que se saiba (quase sempre) aquilo que se quer. Que se passe por todas as mudanças da adolescência sem sobressaltos. Que se seja quase indiferente aos diversos momentos maus duma família e aos solavancos que o mundo dá, dentro do corpo e fora da escola. Que se ponha, em primeiro lugar, os estudos e só depois o namoro. Que se seja sossegado e se tenha “bom comportamento”. Que as grandes causas sociais ou a política não passem de “distracções”. Que, mal se terminem os estudos, se comece a trabalhar. Que se seja “bom” naquilo que se faz. E que se ganhe muito dinheiro, de preferência, muito depressa. Mesmo que o sucesso resulte dum “casamento de conveniência” e não de um grande amor.

A nossa ideia de sucesso torna os adolescentes infelizes! Porque “robotiza” a adolescência. E transforma miúdos saudáveis, que entram na escola a perguntar “Porquê?”, em “produtos normalizados”. E faz com que, contra a sua vontade, se tornem, um ror de vezes, exemplos infelizes de “inteligência artificial”. A nossa ideia de sucesso é muito pouco amiga dum pensamento livre, interpelante e “escutador”. Porque não lhes dizemos que não se chega ao sucesso sem fazermos perguntas, sem nos pormos em causa, sem hesitações e sem contradições. Que as escolhas são sempre uma renúncia à omnipotência. E que o sucesso não se constrói à margem do desejo. Sem “um sonho” pelo qual se lute. E sem paixão!

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