Há dois dias, o mundo – desde líderes internacionais a cibernautas anónimos nas redes sociais – indignou-se, mais uma vez, com os Estados Unidos da América. O presidente Donald Trump anunciou a suspensão da contribuição norte-americana para a Organização Mundial de Saúde. O período de provação – de 60 a 90 dias – serve para que se investigue a relação desta agência especial da Nações Unidas com a China.
A indignação é, até certo ponto, justa. Independentemente do que se esteja a passar, a OMS tem desempenhado um papel importante em todo este problema, nem que seja um dos menos conhecidos: a angariação de fundos para o combate à pandemia. Mais a mais, e está é a crítica mais séria ao presidente americano, não temos substituto para este organismo, e retirar-lhe cerca de 15 por cento do financiamento em plena pandemia não deixa de ser insensato. Mais uma vez, o presidente norte-americano, e a sua falta de inépcia diplomática, conseguiu irritar quem já anda com os nervos à flor da pele, com tantos problemas políticos. É compreensível.
Menos compreensível é a tolerância internacional com a própria OMS e a China. Ou por incompetência ou por cumplicidade, a Organização Mundial de Saúde geriu esta crise pelo diapasão chinês: repetiu o discurso oficial de Pequim, elogiou a China antes de tempo e trata Taiwan, que na prática está a combater o vírus sozinha, como uma não existência. E, claro, nunca apontou o dedo ao regime chinês pelas suas responsabilidades na disseminação do vírus, ainda que seja essa uma das funções do regulador mundial da saúde pública.
Os EUA conseguiram, pelo menos, uma coisa. A Organização Mundial de Saúde continuará a desempenhar o seu papel, mas não será vista acriticamente, como uma organização universal neutra, que não é, nem nunca foi. É melhor que assim seja.
Mas não resolve o problema de fundo. Ainda andamos à procura de uma liderança – que não seja a chinesa – nesta crise, que se manterá, nesta e noutras dimensões nos próximos tempos. Trump poderá romper com quem quiser. Mas cabe a uma grande potência reconstruir o que destrói. Liderar. Ficar a meio caminho não ajuda ninguém. Nem sequer os Estados Unidos.