Continuam a aumentar os casos de infeção pelo vírus que está a colocar uma boa parte de Portugal em casa. Ligado a inúmeros veículos de informação para manter os cidadãos atualizados face ao panorama nacional, às novas regras, direitos e deveres, o País confronta-se agora com outra realidade. A começar pela catadupa de notícias falsas – as chamadas fake news – que acompanham o propagar do vírus e proliferam nos ambientes digitais. Fica aqui a pergunta: saberão os portugueses distinguir as informações credíveis das falsas?

Em primeiro lugar, tenhamos consciência de que, no momento em que surgem notícias de uma nova doença, os rumores tendem a espalhar-se mais rapidamente do que a própria doença. Sempre assim foi, mas agora, à conta das redes sociais, propagam-se com uma rapidez sem precedentes, abrindo caminho a fenómenos sociais como o pânico ou a discriminação, o que, como sabemos, acaba por ter impacto em vários setores da economia.

O novo coronavírus tem beneficiado de uma extraordinária amplificação comunicacional muito desvirtuada. A Organização Mundial da Saúde (OMS) chama-lhe infodemia e define-a como uma quantidade excessiva de informação sobre determinado problema, o que, obviamente, dificulta a identificação de uma solução eficaz. Por outra palavras, promove a desinformação, originando confusão e desconfiança entre as pessoas.

Perante uma epidemia, que origina sentimentos de incerteza e reações mais emotivas, há sempre a tentação de explorar o lado mórbido e sensacionalista, nomeadamente através da fabricação de notícias. E, neste caso em concreto, a lista já vai longa: que o vírus foi criado há anos num laboratório (envolvendo a China ou os Estados Unidos); que há muitos mais casos e mortes do que os relatados pelos governos e pelas agências de saúde internacionais; que seria possível eliminá-lo comendo alho, ou até mesmo recorrendo a secadores de mãos ou lâmpadas ultravioleta.

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A estimulação de um espírito crítico e a capacitação dos consumidores para adotarem comportamentos mais saudáveis, baseados na melhor evidência científica, são armas fulcrais contra a desinformação. Mas como é que o leitor pode distinguir a informação verdadeira da que não o é? A resposta é, na verdade, simples; grande parte da solução passa não só pelo próprio consumidor, que deverá esforçar-se por ir além das parangonas e filtrar o que as redes sociais e demais meios de informação divulgam nas suas plataformas, mas também pela adoção de um papel mais ativo por parte das grandes empresas tecnológicas globais, como a Google ou o Facebook, assim permitindo um combate generalizado à disseminação de informação falsa.

Uma vez que a situação, no nosso país ou no resto do mundo, pode muito bem piorar antes de melhorar, é essencial garantir que os cidadãos têm acesso à melhor informação, sobretudo em tempos de crise sanitária. Na melhor das hipóteses, a desinformação pode ofuscar mensagens importantes, o que, reconheçamos, não deixa de ser de uma extrema gravidade. Mas, no pior dos cenários, pode gerar comportamentos irracionais, que amplificam a transmissão de doenças.

Por isso, mais vale prevenir do que remediar, para que a Internet (e todos os restantes meios de informação) não se torne na autoestrada da desinformação.

Guia para detetar fake news

Não se deixe enganar. Embora muitas notícias pareçam verdadeiras à primeira vista, existem ferramentas para detetar informações falsas.

  1. Pesquisar a fonte – Saia da notícia e pesquise mais sobre o site em que é publicada. Qual o tom das restantes informações? São credíveis ou sensacionalistas e inverificáveis?
  2. Verifique o autor – Faça uma pesquisa rápida sobre o autor. É credível? Existe mesmo?
  3. Verifique a data – Muitas vezes circulam na internet conteúdos antigos, que são reutilizados fora do seu contexto temporal.
  4. É uma piada? Se parecer demasiado fora do contexto, pode ser uma sátira
  5. Fale com quem sabe. Se tem dúvidas, procure a informação das fontes oficiais – Direção Geral da Saúde e INSA, por exemplo.