A História já nos tem vindo a demonstrar o quão favorável é a vulnerabilidade de uma sociedade para a ascensão de líderes, para a manipulação de massas e para o controlo de determinadas agendas políticas. Em certos momentos é especialmente conveniente o culto de uma sociedade desinteressada e silenciosa. O povo é a coisa mais importante do mundo, mas só e apenas quando se mantém calado e quieto. Quantas vezes é que os grandes ditadores não cultivaram na sua sociedade uma ausência de carácter político para que dessa forma a pudesse guiar ao sabor das suas vontades e dos seus desejos?

Estou certa de que em Portugal o cenário não é assim tão diferente. Em nome próprio manifesto a minha profunda preocupação com a sociedade portuguesa e com as fragilidades que apresenta. É inequívoco o seu total alheamento e o seu cada vez maior afastamento. Evidentes são, também, as repercussões que já temos sentido e que se traduzem numa perda de liberdade em detrimento de um ganho de território por parte da classe política. Inconscientemente, temos vindo a colocar parte da nossa liberdade nas mãos de quem não confiamos e de quem nos tem sujeitado a um tremendo imobilismo.

Estou convicta de que em Portugal a estratégia dos últimos anos tem sido a de despolitizar para avançar, despolitizar para conquistar, despolitizar para controlar, despolitizar para manipular. A conveniência de uma sociedade desligada e silenciosa nunca fez tanto sentido como agora.

É importante não nos concentrarmos exclusivamente nos valores da abstenção, mas, também, na forma como a classe política assume a realidade nacional e como tanto gostam de nos enrolar com a mais pura ficção, como nos tentam enganar e como nos tratam, frequentemente, como ignorantes.

O retrato social de hoje vai ao encontro daquilo que são os desejos da nossa classe política parasita que nos acorrenta à inacção e ao profundo vazio de soluções e de ideias. Pintam-nos cenários fantásticos, realidades que não existem. O que é que somos nós senão um Portugal de faz de conta? Mas manso vai o povo! Somos a arma mais poderosa nas mãos de quem tudo quer, nas mãos de quem tudo nos faz perder.

Tomarmos consciência de que a nossa maior fraqueza é a maior força para alguns pode ser o primeiro passo para a mudança.

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