Sendo uma marca de Portugal no mundo e somando já 77 anos de existência, naturalmente marcados por altos e baixos, seria displicente considerar que o futuro da TAP – Transportes Aéreos Portugueses é um tema indiferente à sociedade portuguesa. Tal como seria de esperar numa sociedade madura e que se quer informada, os recentes acontecimentos envolvendo a transportadora nacional têm suscitado um debate intenso e manifesta inquietação em milhares de portugueses que nesta época do ano recorrem aos seus serviços.
As notícias que nos chegam nos últimos dias sobre o desempenho da TAP no período estival não deixam, por isso, de ser alarmantes. Independentemente de se concordar ou não com a privatização, com a sua reversão ou com o facto de ser propriedade exclusiva do Estado, a verdade é que este dossier, pelo seu impacto social e económico, diz respeito à generalidade os portugueses.
Os prejuízos acumulados, a conflitualidade laboral crescente, a gestão política ziguezagueante e a aparente ausência de um plano estratégico de médio/longo prazo, obrigam a uma reflexão mais alargada sobre o tema, sendo, por isso, de evitar circunscrever a discussão pública ao tema da avaliação da injeção de capital público na TAP. Neste contexto, convém não perder de vista que uma parte importante da dinâmica económica nacional assenta no desempenho do turismo, onde a TAP tem, naturalmente, um papel essencial.
Sublinhe-se a este propósito o estudo conduzido pela Reduniq, de acordo com o qual a faturação do setor privado proveniente da utilização de cartões de débito e crédito estrangeiros em Portugal no segundo trimestre de 2022 já superava em 40% o valor alcançado em 2019. Nesta mesma linha, o Banco de Portugal previu em junho p.p. que o Turismo seria responsável por dois terços do crescimento do PIB de 2022, sendo que o Conselho Mundial de Viagens e Turismo previu que a contribuição total do setor para o PIB poderá, já no próximo ano, representar 17,4%. A Comissão Europeia, por seu turno, embora não deixe de rever em alta o crescimento económico português em 2022 tendo em conta o desempenho positivo do setor turístico, não deixa, porém, de alertar que esta previsão poderá ser prejudicada pela desorganização no planeamento de voos e pela falta de trabalhadores que se vem registando no setor da aviação nacional.
Preocupações semelhantes foram igualmente sublinhadas por outros stakeholders, como a AHRESP, que veio alertar para a possibilidade de turistas estrangeiros virem a exigir reembolsos e indemnizações com fundamento na onda de cancelamentos e atrasos ocorridos nas últimas semanas no aeroporto Humberto Delgado, prejudicando assim a imagem de Portugal no mundo.
Atendendo a que todos os indicadores apontavam para uma retoma abrupta do turismo no período pós-pandémico, seria expectável que os atuais constrangimentos tivessem sido evitados. Vir agora qualificar aquela retoma como um fator surpresa, e tentar com isso desculpabilizar o caos nas viagens e a desorganização logística instalada nos aeroportos, é, para não dizer mais, pouco crível.
Estes acontecimentos convocam quem tem responsabilidades de decisão sobre o futuro da companhia a adotar uma visão conciliadora, que assegure o alinhamento dos interesses dos trabalhadores com os da gestão da empresa, compatibilizando-os, e procurar dessa forma salvaguardar o superior interesse nacional.
Os tempos atuais exigem uma visão de médio/longo prazo, capacidade de antecipação das dificuldades e bom senso na tomada de decisões. Só assim será possível acautelar os interesses da companhia, dos seus trabalhadores e clientes, devolvendo à transportadora nacional o papel de instrumento essencial ao serviço da economia portuguesa.