Recentemente, assistimos a uma tentativa, por parte da esquerda woke, de cancelamento de um deputado por ter dito que “os turcos não são propriamente   conhecidos por serem o povo mais trabalhador do mundo”.  Não tendo conseguido isso no plenário, tendo inclusive a oposição do próprio Presidente da Assembleia da República, tentaram de imediato cancelar o próprio Aguiar-Branco.  De facto, nos últimos anos, presenciamos a ascensão da cultura do “cancelamento”, um fenómeno social impulsionado pelas redes sociais e pela ideologia woke que visa silenciar e punir indivíduos por comportamentos ou declarações consideradas ofensivas ou inaceitáveis.

Os defensores dessa prática argumentam que essa é necessária para promover a justiça social e responsabilizar aqueles que causam danos a outros. No entanto, essa visão simplista ignora as diversas consequências negativas do “cancelamento”, que representam uma séria ameaça à liberdade de expressão, à coesão social e ao bem-estar individual.

A cultura do “cancelamento” opera como uma forma de censura moderna, silenciando vozes dissidentes e reprimindo o debate aberto de ideias. Ao impor uma linguagem “correta” e punir aqueles que se desviam dela, essa prática limita a criatividade, o humor e a sátira, elementos essenciais para uma sociedade livre e plural.

As acusações de ofensa na era do “cancelamento” baseiam-se em julgamentos apressados ​​nas redes sociais, sem a devida oportunidade para defesa ou contextualização. Os indivíduos são condenados publicamente e instantaneamente, sofrendo graves consequências para a sua reputação e carreira, mesmo que as acusações sejam falsas ou infundadas.

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Os critérios para o que constitui um “cancelamento” são vagos e inconsistentes, sendo aplicados de forma seletiva e dependendo da agenda do grupo maioritário. Aqueles que defendem o “cancelamento” frequentemente envolvem-se nos mesmos comportamentos que condenam nos outros, criando um padrão duplo inaceitável.

Para além disso, começa a ser demasiado evidente, o medo de ser “cancelado”. Esse sentimento pode levar à ansiedade, à depressão e a outros problemas de saúde mental. O assédio online e o abuso associados à cultura do “cancelamento” podem causar traumas psicológicos significativos, exigindo medidas para proteger a saúde mental.

A cultura do “cancelamento” cria “bolhas” online onde as pessoas se expõem apenas a opiniões semelhantes, reforçando visões extremistas e dificultando o diálogo construtivo. Esse isolamento leva à radicalização e à polarização, tornando cada vez mais difícil a comunicação entre grupos com diferentes visões de mundo.

A imposição de uma linguagem “correta” pela esquerda “woke” tenta ditar como as pessoas devem pensar e expressar-se, violando a sua autonomia individual. Cada indivíduo tem o direito de usar a linguagem da maneira que lhe parecer mais adequada, desde que não cause danos diretos aos outros.

Caso contrário, a cultura do “cancelamento” pode ser vista como uma forma de nova inquisição, onde grupos com visões dominantes perseguem e silenciam minorias e aqueles com opiniões divergentes. A história ensina-nos que a censura e a supressão de ideias nunca levam ao progresso, mas sim à estagnação e à opressão.

Esta cultura nega às pessoas a oportunidade de aprender com os seus erros, desculpar-se e crescer como cidadãos. Condenar eternamente alguém por um erro passado ignora a capacidade humana de mudança.

Se isto tudo ainda não for o suficiente para combatermos a cultura de cancelamento e o policiamento, veementemente, arriscamo-nos a dividir a em grupos antagónicos, criando ressentimentos e desconfiança mútua. Esta fragmentação social dificulta a cooperação e o trabalho conjunto para solucionar problemas comuns.

Nesse sentido, é necessário defender o direito à discordância, promover o diálogo construtivo e rejeitar a tirania do “cancelamento” para construir uma sociedade mais justa, tolerante e plural.