Independentemente do que se possa achar sobre o papel e méritos de Luís Paixão Martins na vitória do PS nas eleições legislativas de 2022, é inegável que o conhecido guru de comunicação socialista produz com alguma frequência observações sagazes e ocasionalmente também muito pertinentes. A TAP constituiu um bom exemplo disso mesmo. No final do ano passado, a 30 de Dezembro de 2022, Luís Paixão Martins escreveu no Twitter:

“2023 é o ano para o Estado se desfazer da TAP. Se o governo não o fizer a toxicidade pública da TAP vai acabar por marcar os destinos político-partidários do nosso país por uma geração.”

Os acontecimentos desde então – com destaque para os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito à Tutela Política da Gestão da TAP – têm dado inequivocamente razão a Luís Paixão Martins. Aliás, considerando tudo o que tem vindo a lume e os efeitos altamente danosos daqui resultantes para o governo e para o PS, é caso para concluir que António Costa deveria ter prestado mais atenção a Luís Paixão Martins, enfrentando em devido tempo Pedro Nuno Santos e não tendo se deixado enredar a este ponto na TAP.

A re-nacionalização da TAP, além de economicamente irracional e altamente lesiva dos interesses do Estado português e da economia nacional, está a revelar-se também um desastre político. Para satisfazer a birra ideológica de Pedro Nuno Santos e da ala mais radicalizada do PS, avançou-se com uma nacionalização que já custou mais de três mil milhões de euros e tudo isto num dos países mais pobres da Europa.

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Graças em boa parte à Comissão de Inquérito, o caso Alexandra Reis revela-se como apenas a ponta de um enorme iceberg de gestão danosa, excessiva informalidade e promiscuidade política que ficarão para o futuro como um estudo de caso de más práticas. Um caso mais grave ainda se se considerar que a TAP está, por várias razões, sujeita a um grau de escrutínio bem superior ao que acontece em regra no sector público e nomeadamente em outras empresas públicas de menor dimensão ou com mais reduzida exposição pública.

Recorde-se que a CEO da TAP Christine Ourmières-Widener foi escolhida em 2021 pelo mesmo governo que a demitiu por via de uma conferência de imprensa em 2023, um processo que sintetiza bem a desastrosa actuação da tutela política sobre a TAP. Importa realçar também que nada disto acontece por acaso ou por falta de aviso, sendo que a este propósito vale a pena destacar o livro Milhões a Voar: As mentiras que nos contaram sobre a TAP, da autoria de André Pinção Lucas e de Carlos Guimarães Pinto, publicado no início de 2022 pela Aletheia em parceria com o Instituto Mais Liberdade.

Ao fim de pouco mais de um ano de maioria absoluta, a toxicidade pública da TAP vem agravar o desgaste político do governo, do PS e de António Costa, ele próprio visivelmente (e compreensivelmente) cansado e pessoalmente desgastado pelo exercício ao longo de já quase uma década de funções como Primeiro-Ministro e pela difícil gestão de um partido em estado de guerra civil interna. António Costa que tem vindo a ser forçado a comentar publicamente o dossier TAP em modo de contenção de danos e que inclusivamente demitiu retroactivamente um Secretário de Estado já demitido (Hugo Mendes, o governante que se referiu por escrito em correspondência com a CEO da TAP ao Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa como “o nosso maior aliado”).

Perante tudo isto, é justo destacar o excelente desempenho da IL e em particular do deputado Bernardo Blanco, relativamente ao qual não resisto a recordar o que escrevi aqui no Observador há alguns meses e que nos últimos dias acabou por ser confirmado e amplamente reconhecido a propósito da sua participação na Comissão Parlamentar de Inquérito à Tutela Política da Gestão da TAP:

Uma nota final para o deputado Bernardo Blanco, que protagonizou uma notável intervenção na convenção, ao nível aliás das excelentes intervenções que tem tido também na Assembleia da República. Pela sua juventude, Blanco não será (ainda) uma opção para a liderança da IL, mas deixou mais uma vez indícios de ter um potencial sem paralelo no partido. Se a IL tiver futuro, esse futuro deverá passar necessariamente a médio prazo por Bernardo Blanco.

Um potencial que pode agora ser confirmado por todos quantos seguem ou participam nos trabalhos da Comissão de Inquérito à TAP, com destaque para o deputado socialista Carlos Pereira (fiz double-check para não cometer a indelicadeza vulgar de me enganar no nome).