Os 140 caracteres do Twitter alimentam acesas discussões no mundo online que, por vezes, se encerram numa bolha sem repercussões na vida social. Porém, é lá que vemos a polarização de ideias a ganhar espaço. Um simples “eu gosto de bananas” desencadeia toda uma troca incendiada de ideias. Do género: “qual é o problema das laranjas?” “Só gosta das bananas porque são fáceis de descascar, privilegiado!”. Ou: “se gostas de banana é porque és a favor da colonização.” Poderíamos seguir neste diálogo de ideias até acabarmos na ofensa pessoal ou numa alucinante extrapolação sobre as ideias políticas por de trás da frase “gosto de bananas”.

Encerrar as discussões em zonas de preto e branco não promove o diálogo. Há muitas discussões que têm nuances cinzas que importa explorar. De salientar que os conceitos de esquerda e de direita que, hoje em dia, são usados como se fossem caixas encerradas são fruto de um mero acaso.

Quando na França foram convocados os Estados Gerais para discutir a grande crise financeira da França, Luís XVI estava longe de imaginar tal repercussão. A discussão sobre qual a verdadeira extensão do poder do rei colocou do lado direito aqueles que queriam mais poder para o rei para que não existisse uma grande rutura nacional. E do lado esquerdo ficaram os que queriam uma mudança mais radical, inclusive a destituição do próprio rei.

Portanto, um acidente de localização determinou dois conceitos que ainda hoje usamos: os de direita e os de esquerda. Claro, que estes conceitos não são estanques e foram evoluindo no decurso dos tempos. Hoje ser-se liberal é muito diferente de se ser liberal na europa do século XIX. Aliás, ser-se liberal na europa é diferente de o ser nos EUA. Ser de esquerda em Cuba é muito diferente de ser de esquerda em frança.

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O uso da expressão direita ou esquerda é meramente posicional, serve de referência. Onde nos posicionamos. Contudo, são conceitos que não se encerram, nem poderia ser de outra forma. Veja-se que os Jacobinos (esquerda) guilhotinaram Olympe de Gouges quando esta veio pedir direito ao voto para as cidadãs.

Importa conhecer os termos, mas não nos encerremos sobre eles. As sociedades evoluem e, por conseguinte, os seus conceitos também. A sociedade de hoje é diferente. Vive novas realidades e importa incluir estes novos contextos nas discussões. Para que estas não se polarizem e encerrem apenas em terminologia, que embora sejam importante, são apenas isso mesmo: termos que balizam. Que importa se a medida é de direita ou de esquerda se o que está em causa é a melhoria da qualidade de vida das populações?

O que realmente significa ser de esquerda ou de direita num mundo globalizado como o nosso?