“Morreram 470 pessoas/dia na última semana de 2023 e mortalidade tem aumentado ainda mais em 2024. O médico de Saúde Pública Tato Borges aponta o tempo frio e a vulnerabilidade dos idosos como causas.” (Jornal Observador de 04/01/2024)
Foi há um mês.. Como não abriam telejornais (é verdade que dois ou três políticos ainda pegaram nisto, mas a Comunicação Social preferiu ignorar o tema), ao contrário dos anos da pandemia, em vez de alarmados em casa, com máscaras na cara, olhando para isto com a atenção que a vida dos nossos concidadãos merece, desta vez ninguém ligou nenhuma: Portugal atravessava uma fase negra de mortalidade, destacando-se como o pior país da Europa.
Dia 2 de Janeiro passado morreram 551 pessoas. Para acharmos um valor superior (578), temos que recuar a 2017 – em nenhum dos mil dias/3 anos de pandemia morreu tanta gente. Se os mortos com Covid motivavam metáforas como aviões a cair, como é que agora não houve interesse noticioso? Talvez porque já temos a explicação: foram as festas de Natal e Ano Novo. Tivéssemos apenas trocado umas compotas e a coisa tinha sido mais ligeira.
Estúpido? Sim, estúpido, fosse em 2021, 2017 ou 2024. Os próprios dados da Google mostravam que foi, apenas e só, mais uma das imensas mentiras de António Costa, que certamente sabia que estava a mentir, mas que governava uma maioria de pessoas que sabia que, uma vez tolhidas pelo medo, acreditavam em qualquer patetice e que contava com um exército de jornalistas comprados com as ajudas públicas para dar crédito às aldrabices.
Então a que se devem estas cifras negras de mortalidade?
Nunca se perguntaram porque é que morre mais gente em Janeiro que em Julho? Nunca se perguntaram porque é que a esmagadora maioria das vítimas com Covid se concentraram no(s) Inverno(s)? Repararam na coincidência de o pior momento da pandemia ter sido simultâneo com o recorde batido da temperatura mínima mais baixa alguma vez registada na Península Ibérica (-34,1ºC)? Repararam que quando há um mês tínhamos tanta mortalidade, estávamos sob “jatos polares”, “rios atmosféricos” e “comboios de tempestades”? Ou na coincidência da mortalidade excessiva ter cessado com o começo da onda de calor?
Talvez não. E se não, também nunca terão associado a mortalidade ao frio. Não obstante, se o quiserem fazer, não faltam avisos e recomendações produzidas pela DGS por exemplo, ou estudos acessíveis sobre o impacto do frio na mortalidade, incluindo sobre a diminuição da esperança média de vida (à volta de 1 ano a menos), explorando os padrões (a maioria do excesso de mortalidade em Portugal deve-se a problemas cardíacos, sobretudo no Inverno e nas regiões do Norte e Centro – onde faz mais frio), sobre a pobreza energética ou sobre os custos para o SNS… (Já agora, poder-se-ão perguntar pelas filas de ambulâncias à porta dos hospitais… Deviam-se a procedimentos idiotas. Estivessem em vigor há um mês – por exemplo com os doentes a não saírem da ambulância antes de encaminhados – e o cenário caótico teria sido o mesmo.)
Contudo, como dizia Freud, “as massas nunca tiveram sede de verdade. Elas querem ilusões e não vivem sem elas”. E foi isso que tiveram durante a pandemia (de máscaras de pano ou papel a certificados digitais, maior vacinação do mundo, restrições ilegais, horas com maior ou menor contágio, etc., etc.): ilusões para dominar um estado de medo em que haviam sido colocadas propositadamente. Afinal estávamos em crise pandémica. Crise, esse termo usado e abusado por políticos e que hoje permanentemente paira sobre nós – pandémica, inflacionista, económica, política, climática… Antes, depois da tempestade vinha a bonança, agora a seguir a uma crise temos… Outra crise. E o medo, a manipulação, a ilusão e as falsas promessas. Quem apelar à verdade? Um bandido de um negacionista.
Assim foi tantas e tantas vezes durante a pandemia, e mesmo com as trapalhadas e trapaças, a maioria não abria os olhos. Lembrem-se por exemplo do que foi com a vacinação de crianças, incluindo pareceres escondidos ou técnicos substituídos, ou depois com a variante Ómicron. Quem poderia dizer que sendo uma criança ou sendo esta última variante, apanhar Covid não só não era o fim do mundo como até podia ser positivo conferindo imunidade natural? Ninguém podia ou era chalupa, porque tudo, mas tudo, tinha que estar enquadrado com uma terrível peste que gerou uma horrenda crise de saúde pública, e que só ficaria tudo bem se cumpríssemos um conjunto de medidas idiotas (é engraçado falar e lembrar com algumas pessoas na altura cegos seguidores e que hoje ainda dizem que não, que eles não faziam…).
Com a crise climática passa-se o mesmo.
O mais recente exemplo? A onda de calor. O Expresso leva o catastrofismo ao limite: se já há uma onda de calor em Janeiro, imagine-se quando chegarmos ao Verão. Porque para o Expresso se Janeiro for chuvoso, isso significa que o ano é chuvoso? Bem, talvez não sejam assim tão parvos e simplesmente estejam comprometidos, tal como o Público admitiu estar no caso da pandemia, em contribuir para o medo coletivo. Não está sozinho o Expresso. Em toda a comunicação social se multiplicam peças sobre o quão dramático foi passarmos por uns dias amenos entre os 10 e os 20ºC.
Antes, quando havia um grande transtorno meteorológico faziam-se procissões e rezas. Ao fim de uns dias o Santo da terra lá fazia um milagre. Agora não apelámos ao divino porque nem reparámos na crise de mortalidade que atravessávamos, mas São Pedro lá nos ajudou. Drama? A onda de calor foi abençoada. Poupou centenas de vidas de portugueses. E isso foi… bom.
Coisas positivas nas Alterações Climáticas? Pois… as mudanças no clima trarão impactos, negativos uns, positivos outros – na mortalidade (a ONU gosta muito de falar do aumento de mortes por calor sem nunca mencionar as mortes a menos por frio… Mas mesmo após o Ruanda ou mais recentemente os terroristas do Hamas infiltrados, há muita gente que ainda acha que aquilo é uma organização credível), como em solos agrícolas para países nórdicos, navegabilidade do Ártico, procura turística na época fria, maior crescimento vegetal, eventual aumento de biodiversidade (expandindo-se as áreas mais biodiversas em detrimento das mais pobres), etc., etc.
Mas não se pode dizer isto. Não soa bem com crise. E tem que haver uma crise. Tem que ser mau. A malta tem que ter medo (os jovens sofrem de ansiedade? É artificialmente provocada por muitos que depois a lamentam). Tendo medo, aceita as ilusões e restrições de quem as pastoreia – impostos em cima de impostos, negociatas de renováveis destruindo a natureza, controlo público sobre liberdades alheias inclusive ao nível do prato que cada um come, desculpas esfarrapadas para qualquer coisa que corra mal… Tudo uma crise climática permite, menos questionar algumas das alarvidades que fazem capas de jornal.