“Se este é o momento de viragem, depende das ações que se vão seguir”
(Al Gore, ex-vice-Presidente americano e Nobel da Paz)

Na COP28 matou-se o borrego:  após tanta desconfiança e, nos últimos dias, alertas de que, como em edições anteriores, dali sairia uma mão cheia de nada, no fim aprovou-se o texto consensualizando o compromisso para o fim do fóssil.

E agora? Como chegou a sugerir Al Jaber, vamos todos voltar para as cavernas? Ou em vez de uma mão cheia de nada, temos uma cheia de coisa nenhuma? Al Gore está certo quando diz que depende. Porque sozinhas, só temos palavras. E palavras… leva-as o vento. Basta ver que de Glasgow (COP26) havia já saído o fim do carvão (a novidade agora é juntar-se o petróleo e o gás) e muitos países – também europeus – enquanto assinavam o compromisso com uma mão, aumentavam o seu uso com outra. De resto, como fazem notar a WWF ou a Unicef, o que alguns como Al Jaber ou John Kerry chamam de histórico, é apenas um texto vago que não explica como ou com que recursos se passará das palavras aos atos.

De facto, é aqui que a porca torce o rabo. Mas porquê, se como diz Greta Thumberg, é só os governos quererem? Porquê, se como diz Mann (autor do conhecido Hockey Stick), já temos a tecnologia necessária? Porquê, se como diz Hoekstra (comissário europeu para o clima), a energia renovável até já é mais barata? Porquê, se como diz Al Gore, é a pensar nas pessoas? Não devia, então, ser algo fácil? Ou há outra verdade inconveniente (título do livro de Al Gore)?

Não há uma, há várias verdades inconvenientes nisto tudo, que contrariam o facilitismo com que nos iludem – se fosse fácil já estaria feito:

  • Primeiro que tudo, o inferno está lá atrás. Se Guterres se alarma ao achar que caminhamos para o inferno, o que diria se caminhássemos para o séc. XIX? Hoje o clima até nos pode complicar mais a vida, não obstante vivemos mais, melhor e muito mais seguros (por milhão de habitantes morrem hoje 70 vezes menos pessoas por razões climáticas que há um século). Assim, é bom de ver que andar para trás é imensamente estúpido;
  • Depois, e como é consensual, a transição tem custos (o Conselho de Finanças Públicas no seu mais recente relatório aponta este aspeto como uma das ameaças à economia nacional). Em Lisboa ou Cascais não se vive em cavernas, todavia, muitos o fazem em tendas em jardins e muitos outros, mesmo com casa, passam frio lá dentro… No mundo, metade das pessoas não tem energia para se aquecer ou cozinhar… Diminuir e/ou encarecer energia é a pensar nelas sr. Al Gore? Por cá, recentemente, o aumento do IUC nos carros velhos também era pelo clima. De repente há eleições e a medida cai. Mas caiu porquê? Então não é a pensar nas pessoas e como estas querem o melhor, retribuem com votos? A verdade é que muito do acordado vai doer sobre milhões de pessoas que já vivem em situação aflitiva e com muitos outros problemas para os quais as soluções escasseiam. E assim sendo, muito disto não sobrevive em democracia, como o IUC também não sobreviveu. Vamos alinhar com os jovens ativistas (sabem eles o que é uma ditadura?) e acabar com a democracia em nome do clima?
  • Há, igualmente, que dizer que já estamos no caminho certo. O capitalismo trouxe prosperidade e consequente investimento em ciência e tecnologia que nos tem salvo (novamente, vivemos hoje muito mais seguros) e é a via para um futuro melhor (sim, já criou muita melhoria e alternativas, e vai continuar a fazê-lo). Pelo que desviarmo-nos do caminho (e muitos se anicham no errado pensamento de Malthus – reparem quantos se manifestam contra o consumismo alheio) é um tiro no pé. Se a transição custa muito dinheiro, não é destruindo a economia que o vamos ter melhores condições para a pagar, ou que vamos compensar lesados por forma a não votarem num qualquer partido que prometa cortar com injustiças (novamente, um perigo até para a democracia);
  • Outro aspeto é que, como diz sabiamente o povo, duas cabeças pensam melhor que uma. Achará o comissário europeu ou Mann que é preciso alguma ajuda para em mercados livres coisas mais rentáveis prosperarem? Achará Francisco Ferreira (ambientalista português) que a poluição dos grandes poluidores será deles em vez de dos consumidores, ou que pagarão eles em vez dos consumidores ou até que muitos pequenos poluidores geram menos poluição do que a eficiência das grandes empresas e organizações? São pensamentos ingénuos, patéticos até. Da soma das decisões conscientes de milhões de consumidores emana muito mais inteligência que de uma pequena elite iluminada que acha saber melhor que as pessoas o que é melhor para elas (basta aliás ver o que são os desempenhos ambientais de regimes totalitários: da Venezuela à China ou à ex-URSS são um desastre)…
  • Por último, mas não menos importante, isto não é uma guerra do bem contra o mal. Quantos não ridicularizaram desde logo o Presidente ou o país organizador desta COP? Os objetivos são para todos mas só alguns são dignos de sentar à mesa, é isso? “Temos mesmo de” e por isso que se lixe o voto popular, vamos impor isto e aquilo? A empresa X quer lucro, a outra só existe para salvar o planeta? As preocupações com os problemas das pessoas são, antes de mais, das pessoas. E todos os querem resolvidos. É à política – e não à ciência, com que alguns atiram areia para os olhos das pessoas – que cabe resolver. E há muitas maneiras de se matar pulgas, pelo que, em democracia, há sempre espaço para visões alternativas. Ainda bem, porque como vimos isto não é um mar de rosas, carece de inteligência e recursos, envolvimento e justiça.

As alternativas, são saudáveis e de saudar, e não devemos deixar que sejam menorizadas pelos que se julgam donos do debate público – da ONU à escala global, aos radicais de esquerda neste jardim à beira mar plantado… E não só no que ao ambiente diz respeito. Quem ouve a nossa esquerda, PS incluído, fica coma ideia que a direita, não tem legitimidade para falar de aspetos que a todos interessam – saúde ou habitação ou… ambiente. Temos é de ter arrendamento forçado ou banir os privados da saúde ou acabar com o fóssil. Mais construção? Mais liberdade de escolha em saúde ou educação? Mais crescimento económico, para apostar em coisas que vão da ciência à eficiência? Não pá, eles querem é lucros… As pessoas a fazer parte – como um todo, enquanto mercados – das decisões? Não, isto tem que ser por via de decisões centralizadas na cabeça de um conjunto de iluminados, uma espécie de Comité Central…

A estratégia é a de calar visões alternativas. Mas é uma fraude – umas amarras mentais que capturam o pensamento e monopolizam o debate. As grandes preocupações da sociedade são partilhadas por todo o espectro político, não um exclusivo de alguns bonzinhos de esquerda que a vetam aos mauzões da direita. Agora que estamos com eleições à porta, os partidos à direita do espectro têm mais uma oportunidade para quebrar estas amarras.

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