É tempo de libertar as crianças do ignóbil teatro das máscaras nas escolas. O uso de máscaras nas escolas é aberrante e, com os dados que temos hoje ao nosso dispor, é também completamente injustificável mesmo nos cenários mais extremos de prevenção de risco Covid – além de ignorar todos os outros riscos e impactos do uso das máscaras na aprendizagem e desenvolvimento saudável das crianças.

Apesar de ter esta convicção há já algum tempo, hesitei escrever sobre este tema por não estar certo da melhor forma de contribuir para o fim do uso da máscara nas escolas em Portugal. Regressado de uma viagem recente a Inglaterra onde o uso de máscara é hoje residual (poucas são as máscaras que se vêm mesmo nas lojas, nos comboios, nos autocarros ou nos aeroportos) reforcei a convicção de que já é tempo – mais do que tempo – de acabar com o teatro das máscaras, pelo menos para as crianças.

Vale a pena recordar que vários países desenvolvidos nunca impuseram nem mesmo recomendaram a utilização de máscaras nas escolas (em especial para as crianças mais novas). Desvalorizar os efeitos do uso generalizado e prolongado das máscaras no desenvolvimento de competências é ignorar a ciência e negligenciar as crianças, em especial as que se encontram em situação mais vulnerável e enfrentam maiores dificuldades e perdas de aprendizagem.

Acresce que Portugal tem hoje uma taxa de vacinação bem acima dos 90% – isto para além da proporção muito significativa da população que goza de imunidade natural por já ter contraído a doença. Se sabemos hoje que a doença tem – felizmente – baixíssimo risco para as crianças e se todos os adultos que assim optaram estão hoje vacinados, as máscaras nas escolas servem para proteger quem?

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O argumento mais revoltante em defesa do prolongamento do uso das máscaras é o de que as crianças já estarão “habituadas”. É óptimo que as crianças tenham, em geral, uma enorme capacidade de se adaptarem a condições adversas. Mas é péssimo e indigno que os adultos que têm a responsabilidade de proteger essas mesmas crianças e salvaguardar os seus interesses invoquem essa capacidade de adaptação como argumento para as continuar a sacrificar sem qualquer fundamento devido à sua própria cobardia.

Considerando todas esta razões, é de saudar a proposta apresentada pela Iniciativa Liberal no sentido de colocar fim ao uso de máscaras nas escolas portuguesas. Creio no entanto que é importante não polarizar este tema em termos de barricadas ideológicas ou partidárias. Importa formar um consenso alargado na sociedade portuguesa pelo menos para o fim imediato do uso da máscara nas escolas, englobando nesse consenso tanto quanto possível mesmo os segmentos da população que mantêm ainda grande aversão aos riscos associados à Covid.

Importa por isso realçar que a causa de acabar com as máscaras nas escolas reúne hoje o empenho público de figuras com posicionamentos políticos e ideológicos tão distintos como os deputados da Iniciativa Liberal (com destaque para Carla Castro e Rui Rocha) e a economista Susana Peralta. Vale a pena aliás a este respeito recomendar e citar o artigo de Susana Peralta publicado no dia 8 de Abril no Público (“Máscaras nas escolas: a coragem que falta”):

Aguardemos discussão da proposta da IL para supressão da máscara na maior parte dos espaços. Nas escolas é mais urgente. Deixo desafio ao PM e ministro da Educação. Amanhã crianças começam semana de férias para regressarem dia 18. Que voltem sem máscara.

Depois do medo sistematicamente incutido na população, exige-se da parte das autoridades uma orientação para acabar com o uso de máscaras nas escolas e dar, finalmente, prioridade à educação e ao saudável desenvolvimento físico, intelectual e emocional das crianças (ainda que mantendo liberdade de as usar para quem assim deseje). Depois do pânico irracional fomentado ao longo de meses, será agora desejável recomendar de forma explícita, fundamentada e pedagógica a sua não utilização em contexto escolar.

Ontem já era tarde para acabar com o teatro das máscaras, em especial nas escolas. É tempo de libertar as crianças e dar prioridade à sua educação e ao seu desenvolvimento.