1. É PIONEIRO DE UMA MUSEOLOGIA INTERCULTURAL O MUSEU QUE SUGIRO SUBSTITUA O MUSEU DAS DESCOBERTAS (NÂO APENAS NO NOME), E CUJO CONTEÚDO E OBJECTIVO PRINCIPAIS SÃO A PAZ.

Enquanto historiadora e museóloga, venho defendendo e actualizando, há cerca de 40 anos, um museu pioneiro mundial a nível da concepção, dos conteúdos e do objectivo de pacificador social.
Trata-se de pioneira museologia, a que chamo intercultural, focada no presente e no futuro e não só no  passado da Expansão e dos Descobrimentos, ainda pioneira  porque a Expansão e os Descobrimentos são complementados com uma moderna exposição da profunda  interculturalidade que esses acontecimentos, que revolucionaram o Mundo, proporcionaram: o Museu da Interculturalidade, ou com outro nome, mas o mais importante são os aspectos da concepção, dos conteúdos e o objectivo de Paz.

No início da década de 1980 fui uma das pioneiras da Museologia Social, e agora penso que a Museologia Intercultural  muito pode ajudar ao consenso e ao êxito deste museu tão significativo de e para Portugal.

Pretendo, enquanto voz da sociedade civil que procura pôr em prática o envelhecimento activo, gratuitamente ajudar Portugal, o meu País de que tanto gosto, a concretizar o sonho de um Museu dos Descobrimentos, sonho que  remonta ao século XIX, que  deve ultrapassar políticas de direita ou de esquerda, e  que, entretanto, recentemente soube em boa hora a Câmara Municipal de Lisboa querer agora criar.

O museu deve ser historicamente/cientificamente/museograficamente rigorosíssimo, ser apelativo, didáctico, actualíssimo, mas procurando unir e não dividir.

O museu deve ser prestigiante  para o Portugal do século XXI, e pode ser lucrativo, sobretudo devido  ao enorme interesse internacional e surto turístico.

Tal acontece sobretudo desde os meus dois últimos artigos publicados no “Observador”: “Museu da Interculturalidade de Origem Portuguesa, e não Museu das Descobertas”  (24 de Março de 2018), e  “Interculturalidade de Origem Portuguesa como Património Mundial, e mais elementos e sugestões para esse museu” (9 de Abril de 2018).

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Urge criar  museus construtores de paz e não de guerra, lembrando sobretudo que o International Council of Museums – ICOM, a maior organização internacional do sector, tem relações formais com a UNESCO, e esta tem estatuto consultivo na ONU, tendo ambas como objectivo máximo  a Paz.

Bem consciente de que este projecto precisa, desde a origem, de alargados grupos de historiadores e outros especialistas, em diversas áreas e épocas,  contactei e logo obtive  essencial apoio, como adiante pormenorizo,  de: a mais antiga academia portuguesa – a Academia Portuguesa da História (a que pertenço há décadas),  Academia das Ciências de Lisboa (sou colaboradora do seu Instituto de Altos Estudos), da Academia de Marinha.

A Academia Portuguesa da História, por decisão do Conselho Académico, de imediato aceitou colaborar “com o maior entusiasmo” no projecto de criação do   “Museu da Interculturalidade”.

Por outro lado, como um museu pela sua essência precisa de museólogos desde a origem, também logo contactei  o International Council of Museums – ICOM/UNESCO, a que pertenço há décadas, através  do Presidente do Conselho Internacional dos Museus ICOM/UNESCO Europa, o meu colega e amigo Prof. Doutor Luís Raposo, o qual também logo me felicitou e apoiou “com entusiasmo”.

Contactei ainda centenas de colegas museólogos e historiadores também através  das  3 vastas Redes  WorldWideWeb “museum”, “histport” e “archport”, tendo não só obtido apoios, mas também o pedido para que a Câmara Municipal de Lisboa e a Direcção-Geral do Património Cultural/Ministério da Cultura (que tem a tutela técnica de todos os museus) formalmente me convidem e ao  Presidente do ICOM Europa, para trabalharmos  num Programa  Preliminar de Concepção do Museu, com o que concordo se a Academia Portuguesa da História  também colaborar.

Também obtive o generoso elogio de eu e o Presidente do ICOM/UNESCO Europa sermos “dos melhores profissionais  que temos entre nós, e que poderão, sem qualquer dúvida executar um bom projecto museológico”.

Mais adiante, especifico estes e outros apoios.

Sempre com as preciosas colaborações da Academia Portuguesa da História e do Presidente do ICOM Europa, gostava de melhor e mais concretamente expor as minhas ideias e colaborar com as entidades já envolvidas neste embrionário e já tão polémico museu, para desinteressadamente as ajudar a um calmo e feliz nascimento deste museu sonhado há mais de 100 anos !!!

2. ACADEMIA PORTUGUESA DA HISTÓRIA COLABORA “COM O MAIOR ENTUSIASMO” NA CRIAÇÃO DO MUSEU DA INTERCULTURALIDADE

Antes da publicação do 1º dos meus dois referidos artigos, fiz questão de encetar contactos com a Academia Portuguesa da História, por sempre ter considerado essencial a sua colaboração neste projecto desde o início, a fim de que, com o seu garantido rigor científico em todas as áreas, exprima a reflexão crítica nacional e internacional, garanta a objectividade da análise dos aspectos mais e menos positivos e mais ou menos negativos, valorize  os pontos de vista, as experiências de todos os povos envolvidos nos diferentes espaços geográficos, una, num diálogo também intercultural, não só os portugueses, mas também os estrangeiros, una inclusivamente todos os muitos especialistas que é necessário consultar e todas as muitas instituições e entidades que é indispensável envolver, evitando quaisquer elitismos, populismos, vedetismos, melindres,  etc.,   ajudando a melhor conduzir o amplo processo também ele em paz.

Assim, logo em 27 de Março de 2018, recebi o ofício 21.GD. 2018, Proc. 6.2, cujo assunto é “Museu da Interculturalidade”, assinado pela Presidente da Academia Portuguesa da História, Prof. Doutora Manuela Mendonça:

“Na sequência dos nossos anteriores contactos, tenho o gosto de comunicar que, conforme  decisão do Conselho Académico, é com o maior entusiasmo que esta Academia aceita colaborar no projecto de criação do “Museu da Interculturalidade”.

Como muito bem diz e defende, “é tempo de nos reconciliarmos com o passado, a favor da inclusão, do diálogo, da solidariedade, da paz”. Importa, conhecendo e compreendendo   o processo histórico português, tudo fazer para criar laços e não alimentar cisões, muitas delas sustentadas numa visão actual  e sem a menor capacidade de, “viajando no tempo”, compreender as conjunturas   que ditaram cada actuação …
Ficamos, pois, à disposição para toda a colaboração necessária à condução do projecto que em tão boa hora nos apresentou”.

Como transcrevi na íntegra este importante documento no referido artigo publicado em 9 de Abril, remeto para lá.

3. OUTROS PONDEROSOS E MUITOS APOIOS

Entretanto, tenho também obtido outros  muitos e ponderosos apoios, directamente, por email, via linkedin, via facebook, pedindo desculpa por só mencionar agora os seguintes:

  • do Presidente da Academia das Ciências de Lisboa, Prof. Doutor Artur Anselmo (que logo me escreveu, considerando o projecto “do maior interesse”);
  • da Secretária-Geral da Academia das Ciências de Lisboa, Profª Doutora Maria Salomé Pais (que logo me escreveu “Muito bem parabéns. Espero que a sua magnífica ideia se concretize em todas as vertentes propostas”);
  • do Presidente da Academia de Marinha, Almirante  Francisco Vidal Abreu, logo disponível também para obter o apoio institucional formal;
  • do Presidente do Conselho Internacional dos Museus ICOM/UNESCO Europa (note-se que Europa em sentido amplíssimo, do Atlântico aos Urais e mesmo para lá, Azerbeijão, Israel, etc), com a mais-valia de ser  também, por nomeação da Comissão Europeia, o único português Membro do Comité de Partes Interessadas (as chamadas Vozes da Cultura) do Ano Europeu do Património Cultural,  o há décadas meu colega e amigo Prof. Doutor Luís Raposo (que logo, em 30 de Março, me escreveu a apoiar o Museu da Interculturalidade “com entusiasmo” em “tudo o que entenda útil”;
  • do Coordenador Nacional do Ano Europeu do Património Cultural, por proposta do Governo de Portugal,   Prof. Doutor Guilherme d`Oliveira Martins, também Presidente do Grande Conselho/Conselho das Artes do Centro Nacional de Cultura e Administrador da Fundação Calouste Gulbenkian (que de imediato me escreveu “Felicito-a vivamente pela pertinência das considerações. É indispensável pensar nestes temas e agir em conformidade”);
  • do Director do CLEPUL, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (a maior unidade de pesquisa da FCT do país, na área das ciências sociais e humanas), Prof. Doutor José Eduardo Franco, o qual logo também me escreveu “Excelente ideia! … Pode contar com todo o meu apoio;
  • do Conselheiro do Conselho Nacional de Educação,  sócio da Academia das Ciências de Lisboa, da Academia Portuguesa da História,  etc. o Prof. Doutor Pe. Joaquim Cerqueira Gonçalves, Professor Emérito do Departamento de Filosofia da Universidade de Lisboa, e que também tanto tem estudado a Cultura Portuguesa: “Obrigado pelo envio do seu texto, de valor e oportunidade indiscutíveis”;
  • do grande estudioso e categorizado coleccionador luso-alemão Rainer Daehnhardt: “Estou plenamente de acordo”.

Há também contactos e apoios a nível governamental, político, diplomático, de várias academias, universidades, autarquias, etc. Note-se que obtive apoios também vindos do estrangeiro: EUA, Brasil, Moçambique.

Anoto, a propósito da ligação e presença portuguesa no Mundo, o seguinte: a nossa Cônsul-Geral em Nova Iorque, a Ministra Plenipotenciária  Maria de Fátima Mendes, incluiu a criação do Museu da Interculturalidade entre as necessidades solicitadas ao Ministro dos Negócios Estrangeiros, Prof. Doutor Augusto Santos Silva; o Prof. Doutor Rodrigo Tavares, analista político e empresário português, que tem dedicado a sua vida profissional à busca de soluções inovadoras nas áreas de desenvolvimento humano e relações exteriores, é doutorado em Paz na Suécia, tem colaborado com a ONU,  foi em 2017  nomeado Jovem Líder Mundial pelo World Economic Forum, logo apoiou a criação do Museu da Interculturalidade, como anteriormente referi, e considerou agora oportuno falar no Brasil na criação do Museu, numa reunião sobre Lusofonia,  com políticos e embaixadores, portugueses e brasileiros.

Está em aberto o meu projecto museológico ser  concretizado em diferentes autarquias, havendo já sido manifestado interesse  na zona de Lisboa e no Norte.

Sou também amiga da Drª Catarina Vaz Pinto, Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, e como, por coincidência, estava eu a ultimar o 1º dos meus referidos textos quando tive conhecimento de a Câmara Municipal de Lisboa se estar  a preparar para finalmente e felizmente fazer um Museu das Descobertas, por cortesia, em primeira mão e como  ajuda, logo no próprio dia 24 de Março lhe enviei o meu 1º artigo, como anotei, tendo-me ela logo simpaticamente respondido.  Por declarações públicas quanto ao museu, a  Vereadora da Cultura tem  lembrado que na autarquia de Lisboa  “tudo está em aberto, até o nome”.

Dou ainda mais alguns elementos quanto a ponderosos apoios mais recentes.

Em 23 de Abril de 2018,  o meu há décadas colega e amigo Prof. Doutor José d’Encarnação, Professor Catedrático Emérito do Departamento de História e Arqueologia da Universidade de Coimbra e sócio da Academia das Ciências de Lisboa, divulgou (amavelmente acrescentando fazê-lo “com todo o gosto e aplauso”), através das suas 3 vastas Listas da Rede (WorldWideWeb)  “museum”, “histport” e “archport”,  a minha missiva intitulada “Museu da Interculturalidade, ou Disto, ou Daquilo, com diferentes nomes e conteúdos”, dirigida não só a ele, mas  aos  outros também colegas e amigos Prof. Doutor Luís Raposo e  Prof. Doutor Pedro Pereira  Leite e a “todos os outros Colegas e Amigos”.

4. POR PROPOSTA FEITA E DEFENDIDA POR COLEGAS MUSEÓLOGOS, PRETENDE-SE QUE A CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA E O MINISTÉRIO DA CULTURA ME CONVIDEM E AO PROFESSOR LUÍS RAPOSO, PRESIDENTE  DO CONSELHO INTERNACIONAL DOS MUSEUS-ICOM EUROPA, PARA APRESENTARMOS UM PROGRAMA PRELIMINAR DE CONCEPÇÃO DESSE MUSEU. PENSO QUE TAL SÓ FAZ SENTIDO TENDO DESDE LOGO A COLABORAÇÃO DA ACADEMIA PORTUGUESA DA HISTÓRIA, COMO SEMPRE TENHO QUERIDO.

Surgiu esse meu acima referido texto do passado dia 23 de Abril, como resposta ao Prof. Doutor Pedro Pereira Leite, que me tinha questionado e ao Professor Luís Raposo, no sentido de saber da nossa disponibilidade para dar seguimento à Proposta do Prof. Doutor Pedro Manuel-Cardoso para que a Câmara Municipal de Lisboa, em parceria com a Direcção-Geral do Património Cultural/Ministério da Cultura me convidem para, com o Prof. Luís Raposo, sermos os Coordenadores de “um grupo de trabalho, constituído formalmente em termos legais, com o objectivo de apresentar um Documento orientador do Programa Preliminar de Concepção desse museu”.

O Prof. Doutor Pedro Manuel-Cardoso  é Museólogo, Pós-Doutorado pela Universidade de Lisboa, membro do Conselho Internacional dos Museus – ICOM/UNESCO, e autor de alguns projectos museológicos, e fez-me esta simpática e estimulante surpresa por mail divulgado a toda a Lista “museum” no passado dia 19 de Abril.
Já atrás, no ponto 3, me referi ao Prof. Doutor Luís Raposo, Presidente do Conselho Internacional dos Museus – ICOM/UNESCO.

O Prof. Doutor Pedro Pereira Leite, Pós-Doutorado em Sóciomuseologia, Membro do Movimento Internacional para uma Nova Museologia (Board, 2016-2018) e do Conselho Internacional dos Museus-ICOM Portugal (Board, 2014-2017/2017-2020) é Investigador no CES, Universidade de Coimbra, Professor Associado na Universidade Lusófona de Lisboa, onde  integra o Conselho Executivo da Cátedra da UNESCO “Educação, Cidadania e Diversidade Cultural” (2018-2022); desenvolveu no CES o projecto de investigação de Pós-doutoramento “Heranças Globais: a inclusão dos saberes das comunidades como instrumento de desenvolvimento integrado dos territórios” (2012-2017).

Por mail de 24 de Abril de 2018, divulgado pela rede “museum”, o Professor Pedro Pereira Leite  escreve: “Devo começar por afirmar que quer a Profª Matilde Sousa Franco, quer o Prof. Luís Raposo são dos melhores profissionais que temos entre nós, e que poderão, sem qualquer dúvida executar um bom projecto museológico”, recordando que “essa “proposta e nomeação” dos dois distintos museólogos tinha partido do colega Pedro Manuel-Cardoso Pereira … é salutar todas as posições que a Professora Matilde Sousa Franco tem vindo a expressar, bem como é de saudar todos os apoios que tem vindo a recolher, o que naturalmente dá relevância ao seu projecto, e que veja esta questão como oportunidade para concretizar um projecto que há muito alenta. É também notável o esforço que desenvolve para alinhar o escopo gerador desse tal novo museu com a visão humanista que é característica conhecida desta nossa colega. É também de saudar os posicionamentos do Prof. Luís Raposo, que como bem sabemos tem desde há vários anos tomado posições corajosas e relevantes sobre os museus portugueses  … como argumentos “narrativas de racionalidade”… Na nossa modernidade é hoje necessário ousar criar narrativas inclusivas com base na dignidade humana. … uma narrativa sobre a identidade portuguesa poderia/deveria ser construída sobre uma leitura do presente. Uma leitura da diversidade dos portugueses como seres viajantes que trocam ideias, corpos, alimentos, sonoridade, sensibilidades, palavras. Essa é uma leitura que está por ser construída, e que este equipamento poderá ajudar a pensar se souber nele incorporar a diversidade da dignidade humana dos seus enunciados e contributos. A força da narrativa dum museu não está na abordagem do passado. Está em ele ser capaz de falar sobre o presente. Se assim não for, com mais ou menos tecnologia, com mais ou menos virtuosidade da sua museália, com mais ou menos milhões, é um museu moribundo. E “como sabemos um museu que não serve para a vida não serve para nada”.

5. PIONEIRA MUSEOLOGIA INTERCULTURAL. FILOSOFIA, CONTEÚDOS, LOCAL PARA ESTE MUSEU EM LISBOA

Começo por apresentar alguns aspectos muito práticos, o que já tive a preocupação de também fazer designadamente ao  Prof. Doutor Fernando António Baptista Pereira, Adjunto do Gabinete do Ministro da Cultura.

  • Como o museu pode ser inteira ou parcialmente interactivo, não é necessário retirar peças em exposição nos outros museus (podendo estes, se quiserem,  ceder peças guardadas em reserva).
  • Foi-me já generosamente oferecida pelo proprietário, Rainer  Daehnhardt, a possibilidade de exposição no Museu da Interculturalidade de objectos  da sua maravilhosa colecção  particular, cujas peças têm feito sensação em numerosas exposições, por exemplo no Museu Metropolitan de Nova Iorque (onde inclusivamente uma das suas peças em exibição foi a capa do catálogo de uma exposição sobre a Índia, como logo identifiquei ao admirar a magnífica mostra),  na XVII Exposição de Arte, Ciência e Cultura do Conselho da Europa com o tema “Os Descobrimentos Portugueses e a Europa do Renascimento” (realizada em Lisboa, 1983), em exposições  na Cordoaria Nacional, e noutros locais. Deve-se enfatizar o portuguesismo deste notável coleccionador luso-alemão, o qual tem sido mais apreciado no estrangeiro do que em Portugal…
  • Quanto a apoio financeiro à boa iniciativa municipal de Lisboa, já há abertura nesse sentido vinda do estrangeiro, lembrando que é uma iniciativa que pode ser altamente rentável.
  • Quanto a local, há  muitas vozes a favor da Cordoaria Nacional, por ser mais barato para os contribuintes, por ser adequado, pelo seu simbolismo, no que parece já haver convergência com entidades envolvidas …

Nos meus referidos artigos do “Observador”, 24 de Março e 9 de Abril de 2018, detalhadamente indiquei e defendi modernos e pacificadores princípios científicos a favor de uma designação e conteúdos inclusivos/interculturais de Expansão/Descobertas /Descobrimentos, explicações que vão granjeando mais adeptos.

Como nesses meus dois artigos também expliquei, eu própria (já desde os anos de 1990) preferi reconfigurar o meu  projecto museológico dedicado aos Descobrimentos, para Museu do Multiculturalismo de Origem Portuguesa, designação e conteúdos, que desde meados da 1ª década do séc. XXI actualizei  para interculturalidade.

Nos anos de 1990, adaptei à Museologia, de forma inovadora, o princípio do Multiculturalismo, mas como este caiu em desuso, cerca dos anos 2005 adaptei-o à Interculturalidade, concordando com o filósofo francês Jacques Demorgon  “o intercultural é o motor da evolução das sociedades”.

Há 17 anos, conversei longamente com a Jornalista Cristina Margato sobre o Museu da Interculturalidade, a que eu em 2001 ainda apelidava Multicultural.

Esta  publicou na revista do “Expresso”, em 24 de Março de 2001, pp. 90-92 o  texto que simpaticamente intitulou “O Museu de Matilde”, onde indica filosofia e conteúdos do Museu do Multiculturalismo de Origem Portuguesa (com a sigla  MMOP), e  termina-o escrevendo: “… A organizar através de uma sociedade tipo mista – a reunir Estado e mecenas, “como acontece com a Fundação de Serralves” –, o novo museu poderia ser instalado na Cordoaria Nacional, até “pelo significado do local”. Museu do “coração disperso”, por considerar   que Portugal tem de facto a alma espalhada pelos continentes, este espaço também serviria  para melhorar a própria relação dos portugueses com a sua história e com a identidade nacional. Não admira que Matilde Sousa Franco, na tentativa de definir em poucas palavras o projecto que idealizou, troque MMOP e a longa  palavra multiculturalismo por outro título: “Museu da auto-estima”. Porque acredita que “ao ajudarmo-nos a compreender-nos, podemos contribuir para a paz mundial”.

Lembro que, apesar da boa e unânime reacção a este artigo do “Expresso” de 2001, poucos dias mais tarde fui operada a um cancro, e entretanto meteram-se tantas outras coisas, que só no início de 2018 retomei este projecto, apesar de, para definir este museu dedicado aos Descobrimentos, ter, por exemplo, registado o conceito de Interculturalidade no Diário da Assembleia da República, X Legislatura, I Série, Nº 91, 15 de Junho de 2009, pp. 57-59, na Declaração de Voto em concordância com o Projecto de Resolução nº 469/X/4ª  — “Propõe a imediata suspensão da construção do novo Museu dos Coches e a abertura de um processo de discussão pública”. (O Projecto de Resolução foi rejeitado no Plenário da Assembleia da República, e a minha Declaração de Voto foi a única sobre  este problemático Museu dos Coches, o qual  desperdiçou hipóteses culturais e recursos, como veio sendo mais tarde genericamente admitido. É necessário aprender com vários erros museológicos cometidos ao longo de décadas, para que se não repitam agora…).

Sobre “A Identidade Nacional”, evoco agora  apenas  Vitorino Magalhães Godinho (1918-2011),  historiador  a quem tanto deve “a actualização e renovação dos estudos de história da expansão  portuguesa numa perspectiva mundial”, autor designadamente da fundamental obra “Os descobrimentos e a economia mundial”,  um dos pioneiros das Ciências Sociais, grande amigo de Jaime Cortesão (1884-1960),  este o autor da obra clássica “Os Descobrimentos Portugueses” e de António Sérgio (1883-1969), este por acaso meu tio-avô, através do qual tive o privilégio de contactos pessoais frequentes também com estes seus amigos.
Vitorino Magalhães Godinho no jornal “ABC”, Março de 1988, num artigo intitulado “Identidade Nacional”, relativo a toda a História de Portugal, escreve: “Para a cultura universal contribui com momentos altos: como o da invenção da caravela e da náutica astronómica, da cronística de Fernão Lopes e das tábuas de Nuno Gonçalves; ao abrir a Era Quinhentista, o mapa-do-mundo, as geografias e etnografias à escala do orbe, os autos vicentinos, o Esmeraldo. Para a segunda  metade do século XVI, a invenção da viagem científica por D. João de Castro, a História Trágico-Marítima, Mendes Pinto crítico e prodigiosamente universalista, o espírito científico-prático de Garcia de Orta, os Lusíadas e a Lírica camoneana, o Soldado Prático”.

Dever-se-á talvez salientar que o enorme contributo português para a cultura universal, de que justamente tanto nos orgulhamos e que data da época dos Descobrimentos, deverá constituir o cerne do museu, no entanto pareceu-me interessante acrescentar uma nova perspectiva intercultural, como já abordei nos dois anteriores referidos artigos do “Observador”.

A Museologia  a que chamo Intercultural, pode ser adaptada aos diferentes países, numa troca de culturas que, também aí,  procuro seja pacificadora, indicando-se  sempre a origem primeira de um produto, animal, planta, etc., mas depois as rotas de difusão, em que na época dos Descobrimentos os portugueses tiveram importante papel que  deve ser valorizado.  Explico melhor, com um exemplo que ando a estudar e já dei  anteriormente:  quanto aos perus trazidos da América, foram por nós difundidos com tanto sucesso na Índia, que o moderno hindi lhes chama “peru”, mas o francês “dinde” e o russo “indok” consideram a sua origem na Índia, quando, de facto foi portuguesa,  etc.

Quando refiro Interculturalidade de origem portuguesa não me restrinjo a esta, mas considero todos os envolvidos e os seus respectivos pontos de vista. Estes meus pressupostos coincidem com os do Prof. Doutor Vítor Serrão, como verifiquei, ainda em 24 de Abril de 2018, na sua comunicação “No Tempo de Francisco de Holanda”, na Academia de Marinha, e como confirmei em simpáticas conversas que depois tivemos.

O pioneirismo quanto à interculturalidade não se restringe à concepção teórica do museu, mas também à sua prática de especial dedicação a pessoas com diferentes culturas, fomentando a interculturalidade nas suas acções culturais internas, mas também nas levadas para fora do museu, sobretudo para zonas, como as das periferias de certas cidades como Lisboa, onde vivam pessoas com diferentes culturas, tendendo à sua melhor interacção e pacificação.

Sugiro  também que o pioneirismo quanto aos Descobrimentos e à Interculturalidade Portugueses conduza  à sua classificação como Património Mundial  Imaterial pela UNESCO,  o que será enorme mais-valia sobretudo para Portugal e  a CPLP, e para o seu prestígio no Mundo.

Tal constituirá um factor de orgulho também para a Diáspora Lusa e para  os outros muitos milhões de Luso-Descendentes espalhados pelo Mundo, de gerações que por vezes ascendem há  séculos.

Peço licença para lembrar que tenho inovado na Museologia e no Património Cultural em várias áreas, por exemplo:  a minha acção enquanto directora do Museu Nacional de Machado de Castro (1980-1984), foi pioneira no pedido de classificação de Coimbra como Património Mundial pela UNESCO (dizem  que o primeiro em Portugal),  e foi considerada, pelo próprio especialista Hugues de Varine, uma das pioneiras da Museologia Social, designadamente no programa de três anos “Coimbra Antiga e a Vivificação dos Centros Históricos”, este também pioneiro na defesa e valorização do património cultural (vide a minha publicação específica com esse título, editada pelo museu) ; a minha acção enquanto directora  do Palácio Nacional de Sintra (1984-1990) foi pioneira especialmente no pedido de classificação de Sintra como Património Mundial pela UNESCO, pois não quis pedir apenas a classificação do palácio e logo englobei “parte da vila, serra e monumentos”, o que deu origem a classificação inédita na UNESCO como paisagem cultural, etc.; quando fui deputada parlamentar, cabeça-de-lista por Coimbra,  independente, pelo Partido Socialista (2005-2009), fiz o relatório sobre o Património Cultural Imaterial da UNESCO, onde  propus a classificação por exemplo do Fado (de Lisboa e de Coimbra), das Festas do Espírito Santo (dos Açores e do Mundo Lusíada), das Festas dos
Tabuleiros de Tomar, o que tudo  logo foi aprovado por unanimidade, etc.

CONCLUSÃO

Porquê não sermos agora pioneiros quanto:

  • ao pedido de classificação pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade dos pioneiros Descobrimentos e Interculturalidade Portugueses?
  • a um Museu da Interculturalidade que os explique?

São ideias pacificadoras, que espero sejam aceites sobretudo pelo Ministério da Cultura e pela Câmara Municipal de Lisboa, e  as quais serão certamente bem-vindas neste Mundo tão sedento de Paz.

Assim, haja vontade!

Colaboradora do Instituto de Altos Estudos da Academia das Ciências de Lisboa. Sócia de: Academia Portuguesa da História, Sociedade Científica da Universidade Católica Portuguesa, Academia Nacional de Belas-Artes, ICOM/UNESCO-International Council of Museums; contacto: matildesousafranco@gmail.com