Foi dada há dois meses a notícia entusiástica nos grandes meios, de que a Índia tinha posto 104 satélites, cada um na sua órbita geo-estacionária, e num só lançamento do foguetão. Deles, 96 eram dos EUA, 3 da Índia e os restantes eram do Israel, do Cazaquistão, dos Emiratos Árabes, um Israelo-Suíço e um da Holanda+Bélgica+Alemanha+Israel. À exceção de um, Indiano, que pesava 714 kgs, todos os outros eram dos que se poderiam pôr na categoria de nanosatélites, de pequeno peso.

A Índia já tem vindo a oferecer um serviço de ‘pôr em órbita’ satélites de outros países — a um preço muito acessível, com precisão –, que não têm capacidade de dispender com os próprios sistemas de lançamento, que são caros de desenvolver e exigem uma estrutura científica experimentada. O ISRO-Indian Space Research Organization, promoveu a ANTRIX, uma empresa que faz o marketing dos seus serviços de lançamento de satélites, a preços muito convidativos. Assim, qualquer país com capacidade para fazer satélites de comunicação ou para qualquer finalidade, tem o serviço de lançamento ao seu alcance, a preços acessíveis.

Entende-se bem o que quero dizer se pensarmos, por exemplo, que a sonda enviada para o Marte, lançada em Novembro de 2013, chegando ao seu destino em Setembro de 2014, custou a ridícula quantia de €54 milhões. À Europa e aos Estados Unidos poderia custar nunca menos de 10 vezes mais. Só há 4 países que dominam a técnica: os EUA, a Agência Espacial Europeia e a Rússia, para além da India, agora. Mais ainda: a India pôs a sonda na órbita do planeta Marte logo na primeira tentativa, coisa que nenhum dos outros fora capaz de fazer; os indianos tinham feito um bom trabalho de casa, para que nada falhasse, com um escol de cientistas muito preparado.

A Índia já lançou mais de 180 satélites desde 1999, de 23 países. O maior número pertence aos EUA, de quem a Índia lançou 114. Entre 2013 e 2015, 28 satélites estrangeiros foram colocados em órbita, criando receitas para a Índia de $101 milhões. Para reduzir ainda mais os custos de cada lançamento, daria jeito reutilizar os foguetões, como, de facto se está a pensar fazer.

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A Índia tem grande domínio no comando à distância para colocar cada satélite na sua órbita própria, em sincronia com o movimento da terra, e fazer os acertos posteriores necessários. Os 104 satélites foram colocados nas respectivas órbitas em cerca de 18 minutos. Desde 1994 este é o 36º lançamento seguido, com sucesso, dos seus PSLV- Polar Satellite Launch Vehicles.

Todos os media importantes deram realce a este episódio que é o record mundial, ultrapassando os 37 satélites que os russos puseram em órbita, há cerca de seis meses, num só foguetão.

O Presidente do ISRO afirmou que a Índia estava preparada para criar uma estação espacial, mas isso é uma decisão do foro político, que depois exigirá um cuidado planeamento na sua realização. Afirmou também que apesar de parecerem muitos os satélites a poluírem o espaço, fora da atmosfera terrestre, há necessidade de lançar muitos mais para melhorar as comunicações e para se ter uma informação mais exacta e local do estado do tempo.

Um feito recente do ISRO foi lançar uma satélite de comunicação, oferta da India aos países da SAARC, para apoio em casos de desastres naturais. Os países da SAARC são Bangladesh, Afeganistão, Nepal, Sri-Lanka, Butão e Maldivas. O Paquistão não aderiu por ter o seu próprio programa.

Acaba de ser lançado com êxito um satélite de mais de 3 toneladas de peso, o que representa um salto na perícia Indiana, que se estende agora a toda a gama de satélites. Isso também abre perspectivas ao ISRO de missões espaciais tripuladas.

Professor da AESE-Business School; Dirigente da AAPI- Associação de Amizade Portugal-India