Os últimos anos têm sido marcados politicamente pelo surgimento e crescimento de partidos de direita populista e extrema-direita, ameaçadores da democracia e capazes de destrui-la quando chegam ao poder. Muitos têm sido os textos, artigos e livros publicados a tentar encontrar a causa explicadora deste fenómeno. O problema é: não existe uma causa única, existe é um conjunto de causas que se agregaram e permitiram o crescimento destes partidos. Como são múltiplos os motivos provocadores, também não existe uma solução única, mas sim um conjunto de soluções a ser aplicadas simultaneamente, de forma a estancar o crescimento deste tipo de partidos no curto prazo e torná-los irrelevantes no longo prazo.

A infantilização do discurso e debate político é uma das ferramentas mais usadas pela direita populista, apresentando soluções muito simples para problemas deveras complexos, atacando o mensageiro em vez da mensagem, utilizando em demasia as piadas e o escárnio para comunicar, etc. Embora abusem desta técnica, não foram estes partidos a criarem-na. Os precursores da infantilização da linguagem política foram os líderes políticos das décadas de 80 e 90. Existindo várias diferenças, destacam-se duas principais: no fim do século passado, a discussão centrava-se nas políticas económicas, enquanto neste século o mediatismo tem ido para questões relacionadas com as políticas sociais, como a crise de refugiados, a luta pelos direitos das várias minorias e luta pela igualdade de género; outra diferença é a existência de redes sociais que aumentam o alcance destas mensagens políticas infantilizadas.

É impossível e inútil debater com as pessoas que já estão enamoradas pelos partidos de direita populista. Elas vão, simplesmente, distorcer todos os nossos argumentos, utilizar argumentos falaciosos (como o argumentum ad hominem), culpabilizar os outros pelas posições controversas do seu partido, ou seja, levar o debate para a cloaca onde estão habituados a lutar. Por esta razão, não devemos perder tempo a discutir com esta gente, devemos sim, procurar dialogar e debater com os moderados, entender as suas preocupações, ideias e projetos de vida, de forma a estes não se sentirem esquecidos por parte dos atores políticos e, assim, não procurarem refúgio no extremo da direita populista. Os pertencentes à sociedade moderada têm a obrigação de elevar o debate político e ultrapassar a infantilização da política que vem vigorando ao longo dos últimos anos.

Uma das táticas da extrema-direita é lançar uma afirmação polémica, causadora de uma enormidade de reações, com o objetivo de marcar o debate político mediático, nos dias seguintes, à volta dessa afirmação. E enquanto se discute essa polémica, não se debatem os verdadeiros problemas do país, como a corrupção, a crescente desigualdade social, o fraco crescimento económico ou o fraco desenvolvimento económico-social. Ao não colocarmos na agenda mediática a discussão destes problemas, eles vão continuar a existir e vão gerar sentimentos de injustiça e revolta num grande número de cidadãos. Esses sentimentos são aproveitados pela direita populista, com vista a angariar apoios, dessa parte da população que se sente injustiçada e esquecida, para o seu partido.

A normalização do discurso da direita populista é um dos maiores erros cometidos pela direita moderada e democrática. É um erro dialogar, fazer acordos e coligações com a extrema-direita. Os partidos moderados fazem esta normalização com o objeto de disputar e não perder eleitorado para os partidos da direita populista, porém, esta estratégia tem tido, como resultado, o oposto do desejado. A estratégia deve passar pela construção de uma barreira entre a direita democrática e a direita populista, e a apresentação de uma verdadeira alternativa política, sem cair em populismo e sem ceder à sede de poder. Isto poderá ter alguns custos no curto prazo, mas no longo prazo certamente compensará.

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