Conforme o velho ditado popular, por detrás de um grande Donald Trump existe sempre um grande Elon Musk.
Musk é de facto uma das chaves para se perceber a reeleição de Trump em 2024 e tudo aquilo que aí vem. Porque não foi tanto Donald a aproveitar-se de Elon como o contrário.
Provavelmente os algoritmos do X Twitter e outras redes sociais funcionaram na perfeição e acabaram por ter um impacto decisivo no eleitorado americano.
De facto, na programação informática os algoritmos direcionam a acção dos computadores. E na gestão das redes sociais são os algoritmos que determinam o modo como os conteúdos são filtrados, hierarquizados, selecionados e recomendados aos utilizadores.
Quando Elon Musk comprou em 2022 a muito popular e impactante rede social Twitter (a actual X Corp) invocou o princípio sagrado do free-speech. Anunciou que ia colocar em código aberto os algoritmos da plataforma, combater contas de lixo eléctrónico com fins publicitários (Spam) e promover a liberdade de expressão. Porém, estudos sérios recentes mostram como a X Twitter tem sido cada vez mais usada para espalhar a desinformação, assediar interesses hostis ou antagónicos e exercer um controlo mais efectivo sobre as multidões. Não pode portanto ignorar-se o valor estratégico do contributo da rede social de Elon Musk na promoção da candidatura de Trump. Sendo certo, como diz o outro, que não há almoços grátis.
Para já Elon Musk parece ter adquirido uma influência decisiva sobre a presidência dos Estados Unidos da América. Donald Trump, desta vez, é apenas um veículo, o foguetão político que Elon pretende usar para transportar a sua ambição estratosférica.
Na verdade, Musk também é um ícone do nosso tempo, capaz de fazer sonhar as multidões. Ele representa, mais do que ninguém, o pioneirismo, o optimismo e o sucesso económico que compõem o Sonho Americano.
Mais preocupante é o facto de Elon Musk simbolizar igualmente um individualismo sem limites. O triunfo da vontade individual. Talvez até o mito nietzschiano do Super Homem.
Ora isto encanta legiões de insatisfeitos e de jovens ambiciosos, sobretudo os mais dotados. Musk é a seu modo fascinante, como os candidatos a tiranos costumam sempre ser, de Alcibíades a Napoleão, Estaline ou Mussolini.
De facto, em Elon Musk, para lá do entrepreneur icónico e hiper-inovador, encontramos um desígnio inquietante de poder global. Ele quer ser o Big Brother que vigia e controla as multidões. Como nas terríveis distopias de George Orwell e de Aldous Huxley.
Aspira a um novo tipo de poder, praticamente ilimitado, sobre as consciências e o próprio destino da humanidade. Um poder formidável, que está para além da legitimidade e do direito estabelecido. Que escapa ao escrutínio dos governados e das instituições. Verdadeiramente, o poder de Leviatã.
Em suma, Elon Musk representa uma nova dimensão da Política. Que até aqui se baseava no domínio de território, da população e dos recursos económicos e militares. Agora, porém, o verdadeiro Poder assenta quase exclusivamente no controlo da tecnologia.