Parece-me que Marine Le Pen pode muito bem vir a ser a próxima Presidente da República Francesa.

Os quatro pontos percentuais que a separaram de Emmanuel Macron na primeira volta das presidenciais facilmente se ultrapassarão na ronda final se uma fatia significativa dos sete milhões e meio de franceses que votaram em Jean-Luc Mélenchon optar por ela no dia 24 de Abril. O que parece plausível, visto tratar-se de um eleitorado inorgânico, heteróclito e volátil, cujo voto é essencialmente de protesto – e portanto mais facilmente reorientável para uma candidata anti-sistema como Le Pen do que para o representante oficial do regime que é Macron.

Em tempos normais, a vitória de Le Pen não me desagradaria de todo. Sobretudo por poder representar (como o Brexit no Reino Unido representou) o retorno do princípio soberanista. Uma reacção contra a utopia mercantilista pan-europeia, a qual tem conduzido ao desmantelamento e desarmamento dos Estados Nacionais, ao enfraquecimento do Atlantismo e à decomposição do Ocidente como conceito geo-político e civilizacional.

Acontece, no entanto, estar em curso uma guerra na Ucrânia que não é apenas a guerra da Ucrânia. Trata-se de um grosso enfrentamento geo-político que opõe o bloco eurasiático, protagonizado pela Rússia, ao bloco ocidental, representado pela Aliança Atlântica.

Ora, perante um tal conflito, a Senhora Le Pen e o Rassemblement National têm mantido uma atitude estranhamente alheada e até equívoca. Que pode explicar-se afinal pela sua conhecida dependência financeira da Rússia e correspondente instrumentalização política por parte de Putin.

Posto isto sou levado a concluir principalmente duas coisas. Em primeiro lugar, que uma eventual vitória presidencial de Marine Le Pen provocará enorme perturbação política na tecno-burocracia paneuropeísta – o que me parece ser bastante bom. Em segundo lugar, que isso poderia significar também a neutralidade ou neutralização da única potência militar nuclear existente na União Europeia durante esta pasmosa guerra que a Eurásia trava com o Ocidente, até ver na Ucrânia – o que seria, indiscutivelmente, muitíssimo mau.

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