E meus amigos, confirma-se, vamos mesmo todos falecer. Tirem daí o sentido, que também vós ireis patinar. Se até a Rainha Isabel II sucumbiu, não seremos por certo nós a esquivar-nos a abotoar o paletó. Sendo que, neste caso, num só falecimento pereceram dois mitos. O mito de que Isabel II seria eterna, e o mito da pontualidade britânica. Sim porque, ainda que aos 96 anos, parece-me indiscutível que a Rainha partiu cedo demais.

Tanto é que, apesar do relativamente expectável falecimento da monarca, a consternação com a sua morte foi tremenda. Houve até quem garantisse que em Londres a tristeza foi tão grande, que até o London Eye foi visto a chorar. Embora uma inspecção mais cuidada à roda-gigante tenha esclarecido que afinal não, não eram lágrimas, o que escorria do famoso equipamento turístico. Era WD-40. Que, naquele dia, o funcionário da manutenção tinha esguichado mais generosamente nos rolamentos – ou lá o que é – daquele famoso equipamento turístico.

Entretanto, o funeral de Isabel II será dia 19 de Setembro. Espera-se um mar de gente na capital britânica e depois nova multidão no Castelo de Windsor, onde o corpo será sepultado. Impõe-se, portanto, uma chamada de atenção aos presentes no dia do enterro, uma vez que o espaço em torno da sepultura pode revelar-se acanhado: mind the gap.

Bom, nem só do falecimento da Rainha Isabel II foi feito o obituário desta semana. Estes dias ficaram marcados por outro desaparecimento, ainda que menos mediático. Talvez por grande parte dos portugueses acreditar que o que havia por desaparecer já teria, antes, desaparecido por completo. Mas não, desta é que foi mesmo. O último pingo de vergonha que o Governo socialista possuía, sumiu com a nomeação de Manuel Pizarro para Ministro da Saúde. Digamos que o Governo sacudiu de forma enérgica este último pinguinho, para garantir que não ficava qualquer resquício de vergonha que viesse a revelar-se incomodativo. Como tão amiúde sucede quando o sacudir é falho de vigor.

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Mas o que importa é, enfim, termos Ministro da Saúde. É um descanso. Descanso só equiparável, aliás, ao alívio sentido pelo facto de esta nomeação vir provar ter havido exagero por banda de António Costa quando garantiu que José Sócrates aldrabou o PS. Certo, é capaz de ter havido uma ou outra peta por banda do engenheiro que aldrabava quanto ao facto de ser engenheiro. Mas, pelos vistos, o Primeiro-Ministro Sócrates não aldrabou o PS quanto à excelência dos membros do seu Governo. Como prova esta promoção de Manuel Pizarro, de secretário de Estado socrático a Ministro da Saúde costista. Este é um daqueles casos em que se aplica a conhecida máxima “Amigo do meu ex-amigo, meu Ministro da Saúde é.”

É o PS já sem um pingo de vergonha e António Guterres já sem palavras para qualificar fenómenos climáticos. Depois de visitar o Paquistão, que tem sido fustigado por chuvas fortes e inundações, Guterres afirmou estarmos perante uma “carnificina climática”. Sim, sim, “carnificina climática”. Depois das alterações climáticas e da emergência climática, eis chegada a carnificina climática. E aqui deixem-me ser totalmente honesto. Os meus sentimentos estão, como é óbvio, com as vítimas desta catástrofe. Agora, não desejando, de todo, mais fenómenos deste tipo, confesso-me curioso com a reacção de Guterres à próxima intempérie. Será que iremos testemunhar uma “chacina climática”? Ou um genocídio climático? Hum, se calhar aposto numa matança climática.

Enfim, numa semana de tantos imponderáveis, achei que seria reconfortante terminar com um toque de normalidade. Assim sendo, morreu mais um alto funcionário russo ligado ao petróleo e gás. Ivan Pechorin junta-se a uma série de mortes entre magnatas desde o início da invasão russa, e foi encontrado morto após cair do seu barco. Ou seja, normalidade é como quem diz. Tem sido mais normal estes magnatas caírem de janelas de hospitais do que de barcos.