Falar, escrever, anunciar ou declarar o amor a alguém, não é tarefa fácil para ninguém. Pelo menos, para mim. Na política, é ainda mais difícil: Mas que conversa é esta de se amar um país, uma cidade, as suas gentes!?

O tema surgiu-me com a paródia do RAP a Carlos Moedas. Parece mentira, mas é verdade. Moedas que não é lisboeta de gema, ama – verdadeiramente – Lisboa, e não tem receio de o dizer. Nem vergonha. Nem problemas em parecer ridículo com essas suas declarações de amor. Foi desta forma que entendi o “saiam-me da frente” e o “quero um lugar à mesa”, que viriam a ser alvo de rábula humorística.

Algum comentador leu na Wikipédia o termo Gravitas. Claro está, que quem se fia na Wikipédia e, pior ainda, nos nossos comentadores, fica a pensar que Gravitas é algo que tem a ver com gravata, ou com um ar gravoso. Ou seja, quanto mais macambúzio for um político, mais Gravitas terá. Não é assim.

Da Gravitas, tem de resultar a confiança, não o medo – ou o enjoo. Atentem neste exemplo: Centeno dava muito mais confiança (e estou a falar apenas em termos percepcionais) apesar do seu ar de fozzy bear, do que o carrancudo Medina (a quem não confiava a gestão de uma banca no mercado de Arroios (ainda lá aparecia a antiga Presidente de Freguesia a fazer o compras…)).

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O RAP, com o seu brilhante humor, parodiou Carlos Moedas. Fez bem e teve graça. A Moedas resta-lhe continuar a falar – e a agir – com o coração. Com amor.

Mas entendo o RAP. Seria difícil parodiar a gestão de Medina.

Que graça tem, deixar que cheguem a Putin os nomes dos seus opositores no estrangeiro?

Que riso se pode sacar, de uma câmara que viveu a gastar o que não tinha, para satisfazer franjas da população que poderiam vir a valer votos?

Que gargalhada se podia ter retirado de um executivo, sem ideias, sem rasgo, sorumbático e em transição para lugares ministeriáveis ou para assentos em conselhos de administração?

Que siso podia ter o humorista que gozasse com um partido, que, se estivesse à frente da autarquia, já tinha fechado o trânsito na Avenida Liberdade – sem olhar aos comerciantes, trabalhadores e moradores? Que tinha continuado a sanha desenfreada de ciclovias pop-up em qualquer beco, betesga ou viela?

E que graça teria um sketch que mostrasse uma câmara refém de demagogos que afirmam – sem se rirem – que esta é uma cidade racista, xenófoba e homofóbica? E a paródia que não era para o RAP, olhar para os Paços do Concelho e notar que a bandeira de Lisboa, passou a ter um fundo com as cores do arco-íris (em degradé).

No final, no tempo da punch line, não seria um silêncio confrangedor a receber o humorista, quando este dissesse que a oposição a Carlos Moedas reprovou a primazia, aos actuais e antigos lisboetas, no acesso às casas? São tantas as ideias, que o saudoso Gato Fedorento, poderia fazer uma série inteira, denominada “Almeida Correia”!

Voltemos ao amor: Leio de momento, a biografia do Marquês de Pombal, por Pedro Sena-Lino. Para aqui trago o seguinte desse livro: a capacidade dos homens desse tempo, colocarem no papel os seus sentimentos: Aos amigos, aos inimigos, à família, ao país, à sua cidade. Ninguém os gozava. A quase 3 séculos de distância, invejo a sua capacidade – na relação inversa com a minha – de escrever a dizer que amo os meus amigos, a minha família, o meu país, a minha cidade.

Acredito que esta barreira que fazemos aos sentimentos, faz de nós piores pessoas, piores políticos, piores humoristas e piores amantes.

Actualmente, não se escrevem cartas de amor. Tudo se reduz aos 140 caracteres e à necessidade de não se ser trucidado nas redes (embora se enviem pics de nudes, que é, provavelmente, a coisa mais estúpida – e menos sexy — que se pode fazer). Todos se dão ares de muita importância e tiram o coração da boca – da ponta da caneta já saiu há muito tempo.

Conclusão: Façam o que tenham a fazer, digam o que têm a dizer, escrevam o que têm a escrever, sem receio de serem gozados.

“Todas as cartas de amor, são ridículas
Se não fossem ridículas, não eram de amor”
Fernando Pessoa