Numa recente entrevista, um dos melhores filósofos da atualidade, Yuval Noah Harari referiu que “O fundamento da natureza humana não mudará, pois somos animais sociais… e por isso precisamos do contacto físico”. Concordo inteiramente com essa visão, mas também acredito que, depois desta pandemia, passaremos a ser animais sociais, mas muito mais digitais.
O que temos assistido, nos últimos meses, é uma reestruturação muito acelerada no modelo social, económico e cultural com novas propostas de valor complementar e de agilização de processos, através de meios digitais.
Se analisarmos o que se está a viver na atualidade, não se trata de estarmos sequer a falar de novas tecnologias, pois a maioria das tecnologias que ajudaram à adaptação desta “transformação digital à força” já existem há vários anos.
Retirando o tema (importante) da saúde da equação de análise da situação económica, verificamos que a crise, que agora iniciamos, criará uma nova era na forma como as empresas terão de ver o digital, os seus colaboradores, parceiros e clientes.
Muitas transformações se avizinham no ecossistema de mercado económico nacional e internacional.
Dois fatores serão determinantes: o primeiro é a impreparação para o digital centrado no foco da necessidade do cliente, o outro é a radical alteração dos modelos de procura. Em ambos os casos, assistiremos ao desaparecimento abrupto de empresas e à reconstrução de uma nova economia com novas empresas, novos modelos de negócio e novas profissões, por força da nova espécie de animais sociais mais digitais, que habitam mais o planeta terra.
A impreparação para o digital de muitas empresas deveu-se, em primeiro lugar, à impreparação de líderes empresariais com o conhecimento e visão das potencialidades do mundo digital. Se recuarmos ao final do século passado, lembrar-nos-emos da Kodak que tinha tudo para continuar a ser líder, mas ignorou o fenómeno da fotografia digital! A necessidade de entender os benefícios potenciais de eficiência interna trazidos pelas transformações digitais é crítica, tal como a capacidade de criar novos modelos de negócio capazes de garantir soluções para as necessidades e novos hábitos digitais dos clientes. Se a esta impreparação, adicionarmos as falhas na componente tecnológica essencial para capacitar as empresas com arquiteturas modulares e escaláveis, cria-se a “tempestade perfeita” para a não sobrevivência.
Quanto ao fator de radical alteração dos modelos de procura, que vivemos e viveremos, tal obrigará a uma readaptação brusca por parte das empresas. Entender que o cliente que havia “já não há”! Seja por imposição de confinamentos, por questões de “medo” psicológico ou por mudança simples (mas rápida) de hábitos. O cliente final continuará a ser de “carne e osso”, mas mudou os seus hábitos. O modelo de procura alterou-se radicalmente, basta pensar em exemplos como os modelos de mobilidade ou de turismo. Há setores que foram como que “linchados” em praça pública. O mercado que existia, já não existe! Nesse contexto, importa mais aprofundadamente entender este “novo ser social digital”, que apareceu neste mundo, para mudar internamente a empresa e capacitar as organizações com as funcionalidades que responderão.
Já não estamos na 1ª Revolução Industrial ou na época das primeiras linhas de produção industrial, onde Henry Ford, em 1913, se dava ao luxo de dizer “o seu Ford T pode ter qualquer cor, desde que seja preto”. O poder de escolha ou de decisão está agora no cliente. O mercado assim o determinou! A tecnologia impôs um mundo digital, onde a informação é mais visível e acessível a todos. Não queiramos impor um modelo de sociedade, quando é a sociedade que nos impõe o seu modelo digital.
Queiram os líderes empresariais escolher de que lado estão: dos que apenas são animais sociais ou dos animais sociais digitais?