Um destes dias, Pedro Magalhães divulgou, via twitter, um estudo com uma mensagem intrigante: “Contra as mulheres, os homens lutam mais”.

O trabalho é verdadeiramente interessante. Um economista japonês (Eiji Yamamura) e uma australiana (Alison Booth) analisaram umas corridas de barco que existem no Japão. Nessas corridas, não há diferenciação de sexo e homens e mulheres competem entre si. Para ser mais preciso, homens e mulheres são aleatoriamente distribuídos por diversos grupos e depois competem dentro desses grupos. Naturalmente, há grupos só de homens, só de mulheres e mistos. No estudo há 200 mulheres (que participaram em 15.500 corridas) e 1.400 homens (que participaram em 127.000). Como a mensagem indica, uma das conclusões destes académicos foi que os homens, quando competem contra mulheres, empenham-se mais, pilotando o barco mais depressa e com mais agressividade. Confesso que este resultado não me surpreendeu. Afinal, qual é o homem que gosta de ser ultrapassado por uma mulher? Mas o que mais me chamou a atenção foi que as mulheres se comportam como os homens. Empenham-se mais e pilotam com mais agressividade quando competem contra mulheres. Já contra os homens, vão mais devagarinho e esforçam-se menos por ganhar. Ou seja, parece que também as mulheres não suportam ser ultrapassadas por outras mulheres. Assim de repente, parece que a irmandade masculina é mais coesa do que a feminina.

Não sei muito bem como interpretar estes resultados. Não sei se é uma questão de rivalidade feminina ou se são as mulheres que se sentem condicionadas por terem medo de competir contra os homens — isto, ao mesmo tempo que o ego dos homens os obriga a ser mais competitivos contra as mulheres. Não sei, mas a verdade é que resultados similares aparecem muitas vezes na literatura científica e surgem de diversas formas, como mostro a seguir.

Num outro trabalho académico muito bem conduzido, Berta Esteve-Volart (professora da Universidade de York) e Manuel F. Bagues (professor na Universidade de Helsínquia) estudaram as contratações no sistema judiciário espanhol. A pergunta a que procuraram responder era simples. Será que júris com mais mulheres evitam que as candidatas sejam prejudicadas nas suas candidaturas? Depois de analisarem cerca de 150.000 candidaturas, a resposta não podia ser mais desoladora no que à irmandade feminina diz respeito. Um candidato homem via as suas probabilidades de sucesso aumentarem quando aumentava o peso de mulheres no júri. E, claro, as mulheres candidatas viam a suas possibilidades de sucesso reduzir-se. Graças a um trabalho estatístico bastante cuidadoso, os autores investigaram ainda a fonte da discriminação. Seria a competência dos homens candidatos sobrestimada ou, pelo contrário, eram as mulheres candidatas que eram subestimadas? E qual a fonte do erro? Seriam as juradas ou os jurados que estavam a distorcer os resultados? A resposta, mais uma vez, é pouco simpática para as mulheres: os resultados sugerem que são as juradas que beneficiam os candidatos homens.

Para terminar, refiro mais um trabalho académico, este levado a cabo em Israel. Dois economistas, Bradley Ruffle e Ze’ev Shtudiner, responderam a 2500 anúncios de emprego. Para cada anúncio, enviavam um par de CVs quase idênticos. A única diferença é que num CV era incluída uma fotografia e noutro não. A foto podia ser de um homem bonito, de um homem feio, de uma mulher bonita ou de uma mulher feia. Os resultados são fáceis de descrever. Enquanto os homens bonitos devem incluir fotografia, os homens feios têm mais hipóteses de ser chamados a uma entrevista se enviarem um CV sem foto. Mas com elas passava-se o contrário. As mulheres bonitas eram sistematicamente prejudicadas. Como explicar este resultado? Os autores exploraram várias hipóteses. Começaram por descartar a possibilidade de, por coincidência, terem enviado o CV com as fotas de mulheres bonitas para os empregos mais difíceis. Depois descartaram a explicação de que estivessem a ser vítimas do estereótipo da mulher bonita e burra. Finalmente chegaram a uma explicação bem mais prosaica. A imensa maioria das pessoas encarregada da selecção dos candidatos era mulher. 93%, para ser exacto. Ou seja, era a inveja que penalizava as mulheres mais bonitas no momento de serem convocadas para uma entrevista.

Ao contrário do que Annie Lennox e Aretha Franklin cantam, sisters ain’t doin’ it for themselves.

https://www.youtube.com/watch?v=VtUWs6muGzg

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