- Mais um ano preenchido com Covid de manhã, à tarde e à noite. Já não é notícia. Mas se querem continuar a fazer o relatório diário, é favor contarem a história toda: número de infetados, número de internados, comparação com o ano anterior, comparação do número de infetados em internamento com o que se passa em países onde a vacinação não foi um caso de sucesso como em Portugal. Se contarem a história assim, completa, vão ver como o tema deixa de ser notícia num ápice.
- Mais do mesmo a 31 de janeiro. Se, depois de tudo o que se passou nos últimos dois anos, voltarmos a entregar ao país um resultado eleitoral semelhante ao de 2019, estamos a dizer a António Costa que a sua governação é a indicada para o país. Ao PCP e ao BE, que fazem bem em sair de cena sempre que as responsabilidades não derem para um outdoor a reclamar novas conquistas. Aos ministros, que a responsabilidade política é um valor descartável, mesmo quando aldrabam currículos para nomear os seus, ou quando se perdem vidas humanas pela incúria do Estado. Ao país em geral, que está tudo bem, vamos no caminho certo e termos uma economia cada vez menos competitiva não é um problema desde que o Estado continue a pagar tudo a todos.
- Mais 12 meses de um Presidente a traçar cenários para o futuro e a comentar evidências, sem tomar posições claras sobre a situação do país. Em 2022 pode desenhar-se um país diferente, mas para isso é preciso que Marcelo Rebelo de Sousa seja exigente no seu papel de Presidente. Tendo dissolvido o Parlamento antes de tempo, tem agora de arriscar ser impopular e garantir que, depois das eleições, não ficamos com um pântano maior do que aquele em que nos estamos a afundar.
- Um país em que a palavra liberdade é usada exclusivamente por aqueles que só pensam em limitar as opções e as oportunidades. A liberdade de escolha, na saúde, na educação, nas opções individuais, nas empresas que garantem o futuro do país, tem que deixar de ser um tabu. A caminho dos 50 anos do 25 de Abril, mais importante do que comemorar a efeméride é garantir que o país goza plenamente da liberdade que nos foi prometida.
- Um sistema de saúde que continua a desprezar a saúde mental, apesar de reconhecer que esta é a pandemia que mais se agravou com o Covid. É preciso desestigmatizar a saúde mental e trazer a doença para o centro do debate público. Só assim é possível prevenir, tratar e atenuar o impacto que esta doença deixada à solta tem em toda a sociedade, dos mais novos aos mais velhos.
- Uma injustiça travestida de justiça graças a processos que ninguém entende. São necessárias menos prisões preventivas e mais resultados efetivos. Para quem não é especialista no tema é incompreensível que processos semelhantes sejam rapidamente julgados noutros países, incluindo aqui ao lado, em Espanha, e em Portugal continuemos a viver em sobressalto, com casos que se arrastam durante décadas, tantas que muitas vezes, quando chegam ao fim, os responsáveis já não estão cá.
- Mais casos e casinhos a imporem-nos o pensamento único, a cultura do cancelamento e os polícias da linguagem. A diversidade é a maior riqueza do ser humano. Prefiro que regressemos ao lema “Todos diferentes, todos iguais” do que alinhar na utopia agressiva do “Temos todos que ser iguais”. Não quero pensar o que todos pensam, não quero viver como todos vivem, não quero ocupar lugares por via de uma quota. Quero dizer e escrever o que penso, comer o que me apetece, assistir aos espetáculos de que gosto, ler os autores da minha preferência e conhecer a História como ela foi e não à luz de uma ideologia que me é imposta.
- Ter um país a discutir a cultura do descartável em vez de procurar resolver problemas que nos colocam na cauda da Europa em matéria de apoio aos mais idosos, às pessoas com necessidades especiais ou na prestação de cuidados paliativos aos que estão em situação de sofrimento. Abrir a porta à Eutanásia, ainda que se lhe chame morte assistida, é em si mesmo um ato que contraria aquela que deve ser a nossa primeira missão enquanto sociedade: defender a vida, particularmente a dos mais frágeis e mais necessitados. Num país com um histórico tão mau nas respostas aos mais necessitados, a Eutanásia só pode ser encarada como um expediente para eliminar aqueles a quem não conseguimos acudir.
- Mais e mais estruturas políticas, mais administração pública e mais burocracia que só servirão para infernizar ainda mais a vida dos cidadãos. Não é com mais Estado que resolvemos os problemas do país, é exatamente o contrário. A regionalização não é, nem pode nunca ser a solução para o fim das assimetrias nacionais, nem para resolver o problema da desertificação do interior. Quem sabe o que é uma repartição pública, um ministério ou um balcão municipal só pode ficar de cabelos em pé com a ideia de vir a ter que bater a mais uma porta do Estado para resolver os seus problemas.
- Estarmos a caminhar para uma realidade terceiro-mundista em que a classe média está a desaparecer em nome de uma realidade fictícia, em que se quer aproximar o ordenado mínimo dos níveis europeus sem fazer nenhuma transformação na economia real. O país precisa de criar oportunidades para uma geração, a mais bem preparada de sempre, mas também muito talentosa, que, não vendo aqui condições para concretizar os seus sonhos, parte para outras paragens, onde o seu valor, o seu mérito e o seu talento são reconhecidos. Temos que parar de exportar cérebros que podiam bem dar a volta a este país.
- Fazer o discurso dos remediados que enchem a boca com a média europeia. Portugal precisa de ambição e de uma estratégia. Temos qualidades e talento para aproveitar as circunstâncias atuais a nosso favor. O digital e o teletrabalho eliminam um dos maiores obstáculos ao nosso desenvolvimento. Sermos um país periférico. A urgência em tornar as nossas economias mais sustentáveis pode abrir inúmeras oportunidades a Portugal, que tem condições únicas para desenvolver processos, tecnologias e produtos de ponta. Pensemos no mar que temos por explorar, agora que temos uma plataforma continental que faz de nós um dos maiores países europeus.
- Viver num mundo à beira da guerra em que os principais responsáveis políticos agem como se a História não nos tivesse ensinado nada. As “America t” e outras larachas deixaram o mundo à deriva e cada vez mais nas mãos de poderes totalitários e expansionistas como a China e a Rússia. O mundo precisa urgentemente de recuperar uma diplomacia inteligente e especialistas capazes de aconselhar os atuais políticos impreparados, para evitar um desfecho cada vez mais próximo. A ignorância foi no passado a principal causa de guerras e tragédias para a Humanidade. Há que abrir os olhos enquanto é tempo.
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As 12 passas que não quero engolir em 2022
Quero dizer o que penso, comer o que me apetece, assistir aos espetáculos de que gosto, ler os autores da minha preferência e conhecer a História como ela foi e não à luz de uma ideologia imposta.