O inverno é curto, mas bem mais frio e húmido do que pensamos, e quando chega, somos sempre de certa forma por ele surpreendidos. Mas tal como aparece, logo depois do outono, também tem o seu fim quando dá a sua vez, à esperada primavera. O frio que caracteriza o inverno, atinge o seu auge pelo Natal, mas as lareiras acesas, a família e as boas comidas confortam-nos e fazem de um bom substituto para o calor do sol. Se a meio dum convívio destes, espreitarmos para fora das janelas, somos confrontados com o facto de que, embora abafado pelo momento, o frio ainda está presente.

Janeiro é longo, mas os dias já se notam maiores, é um minuto e tal por dia o tempo em que o sol se vai aguentando suspenso, antes de se esconder atrás do horizonte, crescem os dias. Nos dias muito escuros, em que chove sem parar, talvez tenhamos neles a oportunidade para provarmos as azeitonas, de conserva ou as verdes pisadas. Se já estiverem doces, vamos precisar de pão mole e vinho tinto.

Em fevereiro tudo muda, o primeiro sinal, que nos apanha de surpresa numa manhã inesperada, com a sua beleza e que quebra a monotonia, são as flores brancas ou cor-de-rosa das amendoeiras.

A partir daqui, começa a contagem para tudo o que se segue. A erva vai crescendo, de um dia para o outro, cresce em altura e ganha um ar mais fibroso. As árvores de fruta vão-se manifestando, depois das amendoeiras seguem-se os pessegueiros, as pereiras e as macieiras. Diz-se que a primavera, em climas mediterrânicos, pode começar cedo, com a floração das amendoeiras, como mais tarde, pela floração das oliveiras.

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No campo as azinheiras e sobreiros iniciam o seu crescimento vegetativo, as copas tornam-se numa mistura de tonalidades de verde, parecem pinturas impressionistas. As oliveiras também fazem o mesmo, os tons de verde variam entre o claro, o escuro e o acinzentado.

As vinhas quebraram a dormência, já lançaram os seus rebentos, e em alguns deles já se veem os futuros cachos que um dia nos vão dar o vinho. As gavinhas procuram apoio para se enrolarem e assim, em segurança, suportarem o peso da fruta que por baixo delas vai aumentando o seu peso.

É altura da Páscoa, as celebrações religiosas preenchem os dias santos. Testemunhamos a beleza e exuberância das procissões, e a dos antigos rituais das missas católicas. No Domingo de Ramos as folhas das palmeiras, oliveiras e rosmaninhos adornam as igrejas ou são levadas em mão por tantas crianças ou adultos praticantes.

Com os primeiros dias quentes aparecem as primeiras flores, as pastagens ficam brancas, depois amarelas. Mais para a frente vêm os roxos e por fim o encarnado das papoilas. Os animais descansam com a barriga cheia de erva fresca e os borregos enchem as encostas, conhecem-se pela sua lã branca, mais clara do que a das suas mães. As searas vão aclarando, até ficarem amarelas tostadas, já o trigo castanho bronzeado. O verão chega, e as cigarras cantam alto, comem-se os primeiros figos que já estão maduros e gordos.

As ribeiras que corriam com força estão agora reduzidas a pegos ou poças, onde os girinos lutam contra o tempo para sair e procurar refúgio, tornando-se rãs. As vinhas estão com porte, os cachos bem visíveis. Os dias já são grandes e as noites quentes.  Janta-se na rua, por baixo das estrelas. Já apetece vinho branco e peixe grelhado.

Nos quintais e nas ruas os animais de companhia procuram as sombras das fachadas ou das árvores e passam o dia deitados, estendidos ao comprido.

Nas povoações, as pessoas caminham já do lado sombra, o ar já está quente demais.

Em todas as terras há festas, romarias e arraiais. É também época taurina, de corridas em praças ou à vara larga. Seguem-se os Santos, o Santo António, São João, e o São Pedro. O tempo aquece e as senhoras dão uso aos seus leques, uns negros outros encarnados e outros com desenhos decorativos de flores, por exemplo. As esplanadas enchem-se de gente, bebem-se frescas imperiais ou sangria em jarros, comem-se tremoços ou caracóis.

Mas as estações não são estáticas. Agosto lembra-nos que o verão não é eterno. Há sempre uma noite fria ou um dia de trovoada. Setembro chega, é o mês das vindimas, e do regresso às escolas. Em outubro colhe-se a azeitona, há castanhas, romãs e diospiros, o ciclo está a fechar-se, e logo a seguir ao São Martinho já será inverno novamente.