Passada a espuma dos dias de chumbo do Orçamento e do anúncio, pré-anunciado, do Presidente da República de legislativas a 30 de Janeiro conseguimos hoje perceber um pouco melhor que, afinal, toda a esquerda queria eleições antecipadas. Marcelo Rebelo de Sousa, numa intervenção em que, embora se possa discordar, explicou muito bem o que fez e porque o fez, parece não ter conseguido evitar dar ao PS, ao PCP e ao BE aquilo que afinal queriam, apesar de dizerem que não. Porque se o PS queria eleições antecipadas, o PCP e o BE fizeram tudo para satisfazer esse seu desejo – que não defende os interesses do país, mas ajusta-se muito bem à situação política actual e às perspectivas para a economia.

Quer o PCP como o BE sabiam perfeitamente que era manifestamente impossível ao PS aceitar medidas que alterassem significativamente a legislação laboral, dar um salto no salário mínimo ou eliminar o factor de sustentabilidade. António Costa nunca poderia concordar com isso, se não fosse por convicção – de que as mudanças solicitadas reduzem a competitividade – pelo menos pela inevitabilidade de abrir uma frente de batalha com a Comissão Europeia, no caso da lei laboral, que poderia colocar em causa, isso sim e não o Orçamento, novas transferências do subsídio do Plano de Recuperação e Resiliência.

Sabendo isso o PCP e o BE, a pergunta é: porque fizeram tanta questão num tema em que, sabiam, era impossível de obter acordo? Sabendo até antecipadamente que o Presidente tinha dito que haveria eleições caso o Orçamento não fosse aprovado? Temos de concluir que queriam eleições antecipadas, tal como o PS. Serve aos três partidos, só não serve o País.

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