Devo dizer que o meu interesse nas eleições no PSD corresponde unicamente ao de um eleitor de direita. De resto, não sou militante do PSD e estou muito longe da disputa eleitoral, tão longe como a distância entre Londres e Portugal. Acompanho pela comunicação social e de um modo irregular. Sinto mesmo uma grande fadiga em relação a eleições para a liderança do PSD.
Apesar da distância, forcei-me a seguir as aventuras laranjas por duas razões. Em primeiro lugar, o PSD atravessa uma crise existencial (o Dr. Rui Rio conseguiu, quase, alcançar o que queria: destruir o PSD tentando transformá-lo até se tornar irreconhecível). A crise existencial não significa o desaparecimento do PSD como partido, mas sim um declínio irreversível o qual transformaria para sempre o espaço das direitas em Portugal. A mudança de um grande e de um médio partido (PSD e CDS) para três médios e um pequeno (PSD, Chega, IL e CDS), mesmo que o PSD fosse ligeiramente maior do que o Chega, significaria uma revolução na política portuguesa. Esta revolução tornaria uma coligação das direitas quase impossível. Não há coligações sem líderes. E, para poder liderar uma coligação, o PSD tem que ser bem maior do que todos os outros partidos não-socialistas.
Em segundo lugar, sem um PSD forte não há oposição ao socialismo que está a fazer de Portugal um dos países mais pobres da União Europeia. Quando falo de oposição, não estou a referir-me a ataques e críticas ao governo socialista, como fazem o Chega e a IL, mas sim da existência de uma verdadeira alternativa ao PS. Só há uma alternativa quando uma parte considerável dos portugueses acredita que a oposição se pode tornar governo. Isso nunca aconteceu com Rui Rio. E obviamente a maioria dos portugueses não acredita que o Chega ou a IL possam liderar um governo não socialista. Não há uma alternativa ao PS desde o fim da liderança de Passos Coelho no PSD. E se essa alternativa se esgotou em 2015, é necessário construir outra.
Pelas entrevistas e pelas declarações dos dois candidatos à liderança do PSD, tenho uma certeza e uma dúvida. A primeira é que um PSD de Jorge Moreira da Silva nunca será uma alternativa ao PS. Há um ponto notável nas intervenções de JMS: faz mais oposição ao Chega do que ao PS. Já alguém tentou explicar a JMS que é o PS, e não o Chega, que está no governo em Portugal? A mensagem que JMS passa é que o seu PSD não lutaria para derrotar o PS, mas apenas para ficar à frente do Chega. Um PSD a competir com o Chega, é um PSD que não chega.
Além disso, numa das suas primeiras intervenções, JMS procurou distanciar-se do governo de Passos Coelho, que ele próprio integrou. Um político que não assume o seu passado não tem hipóteses de derrotar os seus adversários. Ou seja, não tem futuro.
Já sei que JMS não serve para líder do PSD. A minha dúvida é se Luís Montenegro será capaz de evitar o declínio do PSD. Para ser justo com Montenegro, Rui Rio transformou a salvação do PSD numa tarefa muito difícil. O PS tem maioria absoluta, a direita está dividida e fragmentada, e o PSD está um partido envelhecido sem capacidade de atração (quais são as razões que levariam os jovens e os insatisfeitos com o PS a votar no PSD?).
Apesar de tudo, Montenegro percebe o essencial: o adversário do PSD é o PS e não o Chega; e o PSD só voltará a ser grande se for uma alternativa ao PS. Mas, se for eleito, terá muito trabalho pela frente. Além do contexto político ser adverso, precisa de muito trabalho para poder ser visto como um futuro PM, e de ainda mais trabalho para que o PSD volte a ser um partido que atraia bons quadros e conquiste eleitores. Neste momento, o PSD afasta, não seduz. O lado positivo é que a maioria absoluta do PS dá tempo, talvez mais do que o futuro líder gostaria, mas menos do que o PSD precisa. Será necessário trabalhar muito e bem. Serão Montenegro e o PSD capazes de fazer o que é necessário? Não sei. Mas sei que Moreira da Silva não será capaz. Compete aos militantes do PSD escolher. O que não me deixa nada tranquilo.