Na semana passada, uma mulher no Reino Unido chegou às notícias e às redes sociais por ter sido mandada para casa, sem salário, depois de se ter recusado a usar saltos altos num emprego temporário. Noutros tempos, teriam sido precisos uns meses ou anos de processo judicial para a mulher conseguir “licença” para não usar saltos. Mas o mundo é hoje diferente: bastaram umas horas de atenção na internet para a agência de trabalho temporário mudar de política. São tão bonzinhos.
Ao ler esta notícia, admirei-me por ainda não ser ilegal obrigar uma mulher a usar saltos altos no trabalho. Admirei-me, também, por ter levado tanto tempo até alguém protestar. Pedir a uma pessoa que normalmente não os usa a passar todo o dia em saltos altos, no trabalho, é como pedir a uma pessoa que não é faquir que passe a noite numa cama de pregos. Já me esqueci das dores de parto, mas me lembro muito bem das dores de um par de botas de salto alto que usei durante uma festa em 1996.
O mundo de trabalho exige que todos tenham um aspecto razoável para passar o dia em frente de outros seres humanos, mas quem é mulher, bem, ainda tem de se esforçar mais, porque tem também de ser atraente, sexy, e preferencialmente jovem, bonita e loira. Tudo isso é inteiramente compreensível já que não evoluímos muito nestes últimos 10.000 anos, e o sexo e as primeiras impressões ainda são as coisas que vendem mais.
Mas enquanto uma grande parte do mundo quer que nós, as mulheres, sejamos cada vez mais “femininas”, há um outro sector de opinião que, pelo contrário, pretende que as mulheres adoptem a atitude e os tiques do machão, a fim de sermos ouvidas e subirmos na hierarquia. Essas “neo-feministas” querem que modifiquemos o *nosso* comportamento e a *nossa* linguagem. Bombardeiam-nos com artigos nos jornais e vídeos virais a exigir que “nunca peçam DESCULPA”, “não digam ‘eu ACHO que’, digam ‘É’”, etc., etc., etc.
À primeira vista, estas críticas parecem razoáveis. Sim, se quisermos ser ouvidas amanhã na reunião, talvez tenhamos de sair da nossa zona de conforto, ser mais incisivas, mais chatas, um pouco mais masculinas na nossa comunicação (claro que se fizermos isso, teremos de exagerar o nosso aspecto feminino antes de sairmos de casa, senão seremos consideradas “cabras”).
Mas, alto lá! A razão, a razão absoluta por que o mundo precisa de mais mulheres nos conselhos de administração e nas direcções é por precisamente por que somos precisamente isso: mulheres, e por que agimos como mulheres, temos a experiência das mulheres e abordagens diferentes. Não é por que somos proto-homens.
Estas mensagens contraditórias – sejam muito femininas, sejam mais masculinas – resumem o que toda a gente espera das mulheres. Mas que se lixe o que os homens e as neo-feministas esperam de nós. O que interessa é o que nós queremos e esperamos de nós próprias. Pessoalmente, quero ser ouvida, ser paga, ser levada a sério, enquanto ser humano com qualificações e experiência para ter alguma coisa a dizer. Porque é que, por ser mulher, tenho de usar batom e saltos altos, e ao mesmo tempo fingir que sou homem e falar alto e com arrogância?
Na minha próxima reunião, vou desenhar um bigode na cara. Só para confundi-los.
(traduzido do original inglês pela autora)
Must women be men in lipstick and high heels?
Last week, a woman in the UK got onto the social networks and the news for having been sent home from a temp job, without pay, for refusing to wear high heels as part of the uniform. How things have changed, I thought, when the temp agency, instead of a lengthy, drawn out legal battle, changed their policy after just a few hours of web attention, and now *allow* women to choose not to wear high heels. Oh, how very generous of them.
When I read this, I was surprised that it is still not illegal to oblige a woman to wear high heels at work. I was surprised that it has taken this long for someone to rebel against it. Asking someone who never normally wears high heels to wear them during a work day is like asking someone to keep their their thumbs in a thumb screw and then be nice to customers. I have long since forgotten the pain of childbirth, but I still have the memory of the pain of a pair of high heeled boots that I wore for a night out in 1996.
The world of work requires that everyone looks reasonably turned out for a day in front of other humans, but if you are a woman, well, you have to go the extra mile, and be attractive, sexy and preferably beautiful and blonde. All of this is entirely understandable, really, considering that we really haven’t evolved much in the last 10,000 years, and sex and first impressions are what still sell.
While much of the world wants us to be more feminine, there is a whole swathe of people who want us to be more like the stereotypical man in order for us to be taken into account and to climb the ranks. They want we girls to modify *our* language and behaviour. We are being bombarded by messages from neo-feminists with viral videos and newspaper columns that tell us “don’t say SORRY”, “don’t say ‘I was JUST’”, “be FORTHRIGHT!”, “don’t say ‘I THINK’, just say ‘IT IS!’”, “how come women are BOSSY while men are GOOD MANAGERS?”, etc., etc., etc. At first glance, all these seem like reasonable critiques. Yes, if we want to be heard in a meeting tomorrow morning we may have to come out of our comfort zone and be more forthright, change our language, be more bolshy, be more man-like in our communications (of course, if we plan to do this, we have to have extra prettified ourselves before leaving the house, in a particularly girly way, or we will just be called bitches).
But hang on a goddam minute. The whole point of the world needing to get more women into the board room is because we are precisely that: women, because we behave like women, with different experiences and different approaches to problems and solutions. Not because we are proto-men in high heels.
What all of these mixed messages are telling us girls is what everyone else wants from us, which is missing the point, again, as usual.
Hang what everyone else wants. What do WE want? Personally, I want to do business, be heard, be paid for what I do and be taken seriously, because I am a human being with things to say and experiences to base them upon. Why on earth does it have to be ME trying to be pretty, make my bum stick out further and my legs look better by murdering my poor feet with high heels, all at the same time as wearing a psychological moustache and pretending to be a man?
I’m going to draw a moustache on my face for my next meeting. That’ll confuse them.