Estranhamente, o tempo é visto como inimigo da beleza. Como se se assumisse que quanto mais velhos somos mais feios nos tornamos. Mas, vendo melhor, e colocando o tempo ente nós e o que somos, há duas “categorias” de pessoas: aquelas que, com o tempo, se tornam mais bonitas. E as outras que ficam agrestes, azedas e… “feias”. As que ficam mais bonitas, ganham luz. Tornam-se serenas. Escutam com mais delicadeza e atenção. São vivas e alegres. E sorriem, de forma transparente. As outras, permanecem tensas e austeras. Sempre mais ou menos agitadas. Fechadas sobre si. E distantes. As pessoas poderão não mudar por vontade própria mas, com o tempo, esbatem-se muitas das defesas atrás das quais elas se escondem. Mudam “sem querer”. Porque ficam mais iguais a si próprias. O tempo é o primeiro degrau da mudança.

É claro que há quem seja mais desassombrado e afirme que “as pessoas não mudam”! Os casmurros continuam casmurros. Os impostores seguem sendo impostores. Os altivos permanecem fechados na sua altivez. E os que se alimentam de pequenos melindres melindrados estarão. “As pessoas são o que são”. Como se as mudanças não fossem de se esperar.

São estranhas as reservas que se colocam diante da mudança. Até porque todos mudamos. Mudamos com a forma como nos “adaptamos” a um novo amor. Mudamos com uma perda. Mudamos quando somos pais. Mudamos quando nos deixamos arrastar pela força dos dias. Mudamos! Talvez sejam mudanças que se vão dando devagarinho. Diante das quais não opomos nem resistência nem reservas. Mas mudamos! Esse é o segundo degrau duma mudança: a surpresa de mudar.

E, depois, há um terceiro degrau: o desejo de mudar. As transformações que nos propomos fazer, para nos transformarmos. Porque assumimos que é indispensável refazer partes de nós. Porque é que evitamos tanto reconhecer uma transformação a partir duma escolha “só” nossa? Porque nos falta a coragem de assumir o que temos de feio. A humildade de lutarmos por nós. E a perseverança de, depois de cair, se retomar uma transformação, numa luta diária. É o medo que nos faz assumir que as pessoas não mudam. Porque o quarto degrau duma mudança será mudar para sempre. E isso assusta.

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