A vida é simples. Mas nós complicamo-la. Porque nos perdemos por entre cogitações. E nos labirintos dos nossos silêncios. A forma como nos distraímos das coisas mais simples leva-nos a entender que a simplicidade, que nos tornaria mais verdadeiros e mais bonitos, parece muito mais arredada dos nossos dias do que devia.

Não é fácil a simplicidade! Não é fácil despojarmo-nos dos nossos mecanismos de defesa de todos os dias. Como não é fácil falarmos da forma como nos sentimos. Ou dividirmos com os outros inseguranças e dificuldades. Regra geral, à medida que ficamos mais velhos ficamos mais seguros. Mas só quando nos conhecemos e não fugimos de nós somos mais simples.

No entanto, há quem fale da simplicidade, transformando-a numa conquista tão fácil que chega a ser simplista. Como se ela fosse, aparentemente, acessível com trejeitos pré-fabricados. Fazendo de nós simplórios. Aliás, a forma como muita psicologia resvala perigosamente para o coaching, transformando a simplicidade em maquilhagem de personalidade, promove, sobretudo, a duplicidade. E torna a simplicidade numa meta longínqua. Porque é impossível ser simples e viver na duplicidade. E narcísico e simples ao mesmo tempo. E alimentar o individualismo casando-o com a simplicidade. Ou nos retocarmos com soluções amigas do falso self e sermos, ainda assim, simples.

A simplicidade não é a versão minimalista da complexidade. Mas a complexidade na sua dimensão mais depurada. É o destino mais difícil a que se chega com a complexidade humana. Simplicidade exige verdade. E autenticidade. Transparência. E espontaneidade. Modéstia. E humildade. Elegância. E bom gosto. A verdadeira simplicidade é sinónimo de sabedoria. E de ingenuidade. No sentido dela se erguer sem preconceitos e sem maldade.

A simplicidade precisa que não fujamos de nós. Desde os sonhos mais luminosos aos capítulos cheios de obscuridades da nossa vida. Ou da fantasia até às memórias que mais nos perseguem. Não há simplicidade sem que sejamos, tendencialmente, um e um só. Chegar à simplicidade por atalhos é construir uma casa pelo telhado. É procurarmos a transparência acarinhando a opacidade. E chegar à verdade promovendo a mentira.

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