Carlos César considera “imoral” tentar “retirar vantagens políticas” de acidente que envolveu carro do ministro da Administração Interna. Num primeiro momento a reacção a esta acusação seria lembrar a Carlos César que imoral é o comunicado do Ministério da Administração Interna após o acidente. Um comunicado que omite toda a informação que pode comprometer o ministro – a que velocidade seguia o carro? Porque ia na faixa da esquerda – e que se alonga nos detalhes reais ou ficcionados para não dizer mentirosos que responsabilizam o trabalhador ou a empresa para que trabalhava. Mas a imoralidade é outra. Ou melhor dizendo a mais perturbante imoralidade de tudo isto é outra.

Essa imoralidade é a forma como o PS tem exercido o poder nas última décadas: quando criticados, os socialistas reagem dizendo-se vítimas de ataques imorais. Quando erram não pedem desculpa, dizem-se tristes. Quando lhes pedimos responsabilidades, declaram-se enganados.

Foi graças a esta táctica que, depois de terem beneficiado das vitórias de Sócrates, os socialistas se desembaraçaram dele. Durante anos, os actos de José Sócrates não causaram o menor reparo nem geraram a mais leve dúvida entre os dirigentes do PS a começar por Carlos César, passando por António Costa ou pelo “cientista profissional” Augusto Santos Silva (digamos que a ciência no caso pode ser o caminho para uma muito profissional candidatura à Presidência da República). O Freeport, a tentativa de controlo da TVI, os acordos com Berardo no caso do CCB… nada os inquietava, a não ser claro a imoralidade que viam nas críticas ao líder que lhe dera a maioria absoluta. Mandava então a doutrina socialista que nada havia a discutir a não ser quando e se os tribunais se pronunciassem.

Ora quando as investigações policiais começaram a confirmar em muito pior as críticas, eles, os adeptos da imoralidade das críticas, começaram a ficar tristes. Carlos César foi até um dos mais tristes: “Evidentemente penalizamo-nos muito, ficamos entristecidos” 

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Mas Carlos César ficou triste e penalizado com o PS ter sido cúmplice de tais actos? Com o ter fechado os olhos e os ouvidos ao que era evidente? Com o ter usado a sua retórica e o seu poder para desmerecer as críticas? Não, nada disso. Carlos César falando pelos socialistas disse que ficaram “até enraivecidos, que pessoas que se aproveitam de partidos políticos e designadamente do PS tenham comportamentos desta natureza. Evidentemente que ficamos revoltados. A vergonha até é maior [no caso Sócrates] porque era primeiro-ministro”.

Em resumo, César passou da tristeza para o enraivecimento porque Sócrates se aproveitou do PS! De facto dá dó!

Hoje esta geração que “esteve sem estar” com Sócrates, que se aproveitou dele e agora faz de conta que ele foi um acidente no seu percurso,  não se sente na obrigação de prestar contas sobre o que sabia dos acordos do poder socialista com Berardo ou com Ricardo Salgado. E note-se que se dirigentes como António Costa, Augusto Santos Silva ou Carlos César sabiam e calaram é grave, mas se não souberam grave continua a ser porque tal ignorância a ser verdadeira pressupõe que serão destituídos do discernimento mais básico.

Em “A Ceia dos Cardeais” perguntava-se se o amor era diferente em Portugal. Sem desmerecer no tema o melhor será deixarmos o amor para depois e passarmos ao socialismo, assunto muito mais simples é óbvio. Afinal o socialismo gera sempre o mesmo resultado onde quer que seja aplicado: menos riqueza e uma nomenclatura instalada num aparelho de Estado em que a avidez de recursos cresce a par com a ineficácia.  Já quanto aos meios para chegar ao socialismo, aí sim existem particularismo locais: a nós, portugueses, coube-nos a irresponsabilidade como método. Ou táctica. O último dirigente socialista a debater-se com o peso das responsabilidades foi António Guterres. Não resistiu e, cansado, apresentou a demissão. Foi há vinte anos. (Desde então dedica-se a “salvar o planeta” coisa bem mais viável e reconfortante que salvar Portugal dos seus maus governantes.) Quem lhe sucedeu não voltou a ter tal dilema: o poder de um socialista, em Portugal, mede-se pela sua capacidade de se isentar de responsabilidades. É uma vergonha mas é o que temos.

PS. “Não Transita”, apesar de ter “desenvolvido com excelência as aprendizagens essenciais a todas as disciplinas, exceto a Cidadania e Desenvolvimento por falta de assiduidade. Parabéns” Complicado? O aluno é excelente mas não transita? E os parabéns está aqui a que título?

Esta é avaliação de Tiago Mesquita Guimarães um dos filhos do casal que recusou, por objecção de consciência, que os seus filhos, Tiago e Rafael, participassem nas aulas da disciplina de “Cidadania e Desenvolvimento”. Argumenta o casal Mesquita Guimarães que os conteúdos desta disciplina  “são da responsabilidade educativa das famílias”.

O caso arrasta-se há anos: em 2020, o  secretário de Estado da Educação, João Costa, sobrepôs-se ilegalmente à decisão do conselho de turma e reprovou por despacho os dois irmãos. A família Mesquita Guimarães colocou então uma providência cautelar contra o Ministério da Educação. Venceu. A decisão do ministério foi anulada e os dois alunos, excelentes alunos por sinal, não foram obrigados a recuar dois anos para irem frequentar as aulas de Cidadania e Desenvolvimento.

Agora em 2021, Rafael e Tiago Mesquita Guimarães correm novamente o risco de reprovar. As notas continuam a ser excelentes mas  as faltas às aulas de de Cidadania e Desenvolvimento levam ao tal “Não Transita”. Por enquanto e à excepção do Notícias Viriato  este assanhamento ideológico por parte do ministério da Educação pouco tem sido noticiado. Subestimar o que está em causa é um erro tremendo. Tal como aconteceu com o fim dos contratos de associação com os colégios, também neste caso optar pela indiferença terá um custo caro.