Estive a ver a final do campeonato da Europa de futebol entre a Espanha e a Inglaterra. Foi um jogo muito interessante, muito disputado, muito aplaudido pelos comentadores, enfim, um êxito. Pois, para mim, não foi!

Faltou lá a nossa seleção. Jogamos mais, jogamos melhor, somos muito melhores de bola e, por isso, devíamos lá estar.

É uma realidade que nos acompanha. Falta-nos a coragem para ir a fundo, para arriscar tudo, sempre com uma ideia que nos foi colocada no subconsciente de que, se arriscarmos, podemos perder.

Mas é claro que podemos perder. Com coragem ou sem ela, é absolutamente possível que possamos perder. O que não poderemos, seguramente, é ganhar sem essa coragem.

Por isso fico sempre muito confuso e perdido, quando vejo os meus concidadãos a serem negativos nas avaliações dos seus empreendimentos. Naturalmente, devemos entender os riscos que esses projetos representam, e ser cuidadosos na sua escolha e na medida em que nos expomos a eles. Mas, se acreditamos que um projeto merece a nossa atenção, o nosso empenho e o risco que lhe está associado, então há que estruturar uma estratégia que lhe garanta a maior probabilidade de sucesso e dar-lhe os recursos necessários e suficientes para que o seu êxito esteja mais assegurado.

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E aqui surge o segundo problema da nossa cultura nacional. É que, se o projeto é bom, eu não quero dividi-lo com mais ninguém. O resultado, especialmente o financeiro — apesar de todos sabermos que o dinheiro não traz felicidade –, agarramo-nos à mínima hipótese de o ganhar, pelo que não deixamos que alguém o ganhe, mesmo que isso nos dê maior segurança no sucesso. Faço das tripas coração, encavo tudo o que tenho, faço uma imagem distorcida das minhas capacidades para parecerem melhores e convencer (a mim e ao mundo), de que o sucesso está garantido. Todos ficamos convencidos, menos a realidade, essa ingrata que não se deixa convencer, que nos vai mostrando que os recursos eram inferiores ao que necessitávamos e que, apesar de todas as evidências de que era possível, ficámos no meio do caminho.

Isto acontece-nos na nossa vida do dia-a-dia, nos nossos investimentos, nas nossas opções políticas, e até no desporto.

A falta de coragem de partilhar o projeto para conseguir os recursos de que verdadeiramente necessitaria e o medo de apostar absolutamente na vitória indispensável ao sucesso, resulta na insuficiência de capitalização das empresas portuguesas, no seu excessivo endividamento, deixa-as sempre débeis no confronto dos mercados e não lhes permite o crescimento que exigiria atingir os seus resultados. Por outro lado, a falta de confiança dos seus líderes em fazer a aposta correta nos recursos acaba por definir uma estratégia a medo que quase nunca resulta.

É esta falta de coragem de ambicionar completamente a vitória do projeto em que nos envolvemos que me deixa frustrado tanto na política, como nos negócios e como no desporto.

Se temos entrado com a absoluta vontade de ganhar, se temos tido a humildade de reconhecer os recursos de que necessitávamos, se não tivéssemos medo de arriscar poder perder, eu tinha visto outra final.

Uma final aonde aqueles que sabem mais, que são melhores e que são mais capazes teriam estado lá e, acredito eu, teríamos saído de lá com a taça de quem tem a coragem arriscar para ganhar.