O ISCTE é uma universidade pública portuguesa que este ano completa 50 anos.

José Veiga Simão, Ministro da Educação em 1970, lança a reforma das universidades, criando instituições fora do modelo tradicional, as quais foram desafiadas a oferecer cursos em novas áreas disciplinares inexistentes nas “velhas universidades”.

Em 1972 o ISCTE abre portas, procurando dar satisfação a novos problemas sociais e à moderna gestão empresarial criando os primeiros cursos: Ciências do Trabalho e Gestão de Empresas. Entrei no ISCTE depois de ter feito engenharia no Técnico e de alguns anos de experiência profissional como engenheiro.

No início dos anos 90 decidi fazer um MBA em Gestão que completaria o que já vinha sentindo como necessário: estruturar-me mais enquanto profissional, dar um passo para a gestão, reunir um conjunto de competências que não trazia de um mundo apenas tecnicista, passar a um outro grau de maturidade profissional e posicionar-me para novos passos na carreira. Quiçá gerindo uma equipa, um projeto maior, uma empresa. Conheci o Eng. Gomes Cardoso, um dos “pais fundadores” do ISCTE, que falava simultaneamente a minha linguagem (engenharia) mas que a traduzia para gestão (a nova língua que eu queria aprender).

Fiz este primeiro percurso e resolvi completá-lo com uma tese de mestrado para ficar com o grau de mestre. Mas, no imediato e ao completar o mestrado, decidi continuar para doutoramento. A área da tese de mestrado, a logística, fascinava-me e completava muito do que trazia da engenharia se olhada sob um ponto de vista de gestão. Em 1995 doutorei-me, dando continuidade à logística e fui, então, convidado a ficar no ISCTE como professor auxiliar. Fui o terceiro aluno do ISCTE a defender uma tese de mestrado em gestão e o terceiro a defender uma tese de doutoramento em gestão. Entrei no ISCTE, então, como professor auxiliar. E, desde então, não deixei o ensino superior.

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Comecei a dar aulas no ISCTE em 1996. Embora já tivesse dado aulas, não contínuas, desde 1989.

No ISCTE tive oportunidades. Passei por direções de mestrado, por direção de licenciatura, por coordenador de várias unidades curriculares, por presidente do Científico do Senado, por diretor do INDEG-ISCTE, por sub-diretor da Escola de Gestão e por coordenador da área de Gestão de Operações no Departamento de Gestão. Neste momento sirvo o ISCTE, para além de professor, atividade de que não prescindo, como responsável pela formação de executivos – ISCTE Executive Education.

Tive hipótese, no passado, de lançar um mestrado em logística conjuntamente com o Técnico e a então EGP, hoje Porto Business School. Uma iniciativa tripartida única em Portugal e que durou 10 anos, pouco mais que até ao falecimento da Profa. Isabel Themido, do IST.

Tive hipótese, no passado, de desenvolver a unidade de projeto aplicado em Gestão e Engenharia Industrial (hoje Gestão Industrial e Logística), licenciatura que criou um modelo de projeto final de curso inovador, na altura, porquanto os alunos resolviam problemas em empresas para empresas e permaneciam nas empresas durante esse período. Não era um estágio. Era um projeto. As empresas candidatavam-se a projeto e tinham de submeter-nos um conjunto de problemas por resolver de tal forma que os alunos, sob nossa orientação, teriam de solucionar. E dissipar e solucionar desenvolvendo um projeto de fim de curso. Este modelo alterou por completo o posicionamento desta licenciatura perante o normal projeto das demais licenciaturas, posicionamento interno que, depois, passou para o exterior, para o mercado.

Tive hipótese de orientar inúmeros alunos em mestrado. Tive hipótese de orientar alguns alunos em doutoramento. Sempre procurei pensar fora da caixa e fazer coisas diferentes e tive essa oportunidade. Tive hipótese de dar muitas aulas de executivos, sentindo-me sempre muito bem porquanto as empresas eram e sempre foram o meu principal habitat. O meu modo de pensar, o meu drive e também o que traduziu o investimento continuado de uma vida. Tive hipótese de criar novos cursos, em particular programas de executivos. Tive hipótese de criar conjuntamente um centro de conhecimento da área de logística e operações, que se designava IN OUT GLOBAL e que prestou serviços vários para o mercado. Ainda durou sensivelmente 9-10 anos e, por razões que competiam à gestão do ISCTE, acabou por ter um fim tal como, de resto, aconteceu com vários outros centros de estudos e de prestação de serviços.

Enfim, fiz muitíssimas mais coisas. Lancei várias unidades curriculares novas, criei programas, criei formas pedagógicas diferenciadas, introduzi dinâmicas percursoras, dei passos grandes e vivi coisas boas e, como em toda as instituições, coisas menos boas.

Saí do ISCTE e passei uns anos na NOVA SBE e mais uma vez ligado à Global Supply Chain e à área de Operations Management, bem assim como à formação de executivos da qual fui Diretor Académico. Voltei ao ISCTE há 3 anos.

Posso dizer, como também li a semana passada de um professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que conheço relativamente bem o ISCTE tal como o mesmo referia relativamente à FDUL. Não tenho para comigo que o ISCTE seja uma casa partidária, uma casa de pensamento uniforme, uma instituição não plural ou um redil capturado por alguns. Se assim fosse, não teria a história que tem, a presença que tem no mercado português e internacional e não teria chegado onde chegou. Mais, eu jamais teria podido fazer o que fiz porquanto nunca fiz parte de nenhum grupo dos que por aí se dizem dominantes na Instituição.

Trata-se precisamente do contrário. O ISCTE chegou onde chegou pela pluralidade, pela liberdade de ideias e complementaridade de pontos de vista, pelo esforço e trabalho árduos, pelo investimento e pelo ânimo que sempre (re)conheci em muitos, mesmo quando notoriamente subfinanciado no seio do sistema de ensino superior público e com ele tendo de competir. O índice de força, i.e., a atratividade de alunos em primeira escolha, está, desde há muito, em primeiro lugar em Portugal, precisamente com o ISCTE.

Há milhares de alumni e de alunos atuais, de colaboradores e de docentes que jamais poderão viver sob o opróbrio da escola partidária ou da escola refém de um conjunto de interesses pessoal ou grupal. Se assim fosse o ISCTE jamais teria construído profissionais de referência, por exemplo, que servem nas principais casas de consultoria e auditoria, banca, indústria, retalho, farma e tantos e tantos outros, aos níveis mais elevados, nas principais empresas, nas principais organizações em Portugal e no exterior. Sugere-se, pois, a todos os que falam da instituição que a respeitem como instituição plural que é. Problemas todas as Universidades têm. Confundi-los com a própria existência de uma instituição com 50 anos e que já tanto deu ao mercado, ao país e ao exterior é desrespeitar todos os que nela viveram, vivem, estudam e trabalham arduamente. A verdade deverá sempre ser apurada e ninguém escamoteia isso mesmo. E estou certo de que será. Mas a instituição ISCTE, essa, nunca será o problema. E permanecerá e sobreviverá a todos nós.

*título adotado a partir do artigo de Miguel Romão, professor da FDUL