Aproxima-se um momento decisivo na história do nosso país. Com a aproximação das eleições legislativas, Portugal enfrenta uma potencial mudança de rumo, que pode alimentar esperanças ou desfazer sonhos. O ano de 2024 marca uma data importante para a democracia mundial, uma vez que metade da população do planeta irá  às urnas exercer o seu direito ao voto, ou pelo menos terá a oportunidade de fazê-lo. Nos próximos meses, 70 estados realizarão o eleições, incluindo 8 dos 10 países mais populosos do mundo.

Perante um ano tão significativo a nível global, decidi investir tempo para entender o significado e as raízes da democracia, deparando-me inicialmente com a seguinte definição: um “sistema político em que a autoridade emana do conjunto dos cidadãos, baseando-se nos princípios de igualdade e liberdade”. A democracia é construída através  da política, que por sua vez se baseia nos nossos votos, mas não se limita a isso. Ela também se forma a partir de  cada um de nós, cidadãos, e das nossas ações cotidianas, por mais insignificantes que possam parecer.

A realidade é que uma democracia é tanto mais rica quanto maior for o envolvimento e a participação cívica de cada um de nós. A génese  de uma democracia pressupõe que todos, independentemente das nossas diferenças, valores, crenças e ideologias, nos unamos porque temos pontos em comum e não nos afastemos porque temos pontos de diferença.

A valorização da diferença é o ponto de partida para a construção da democracia. Tem sido através da celebração das diferenças, mas, acima de tudo, do que nos une, que têm surgido grupos e organizações jovens demonstrando o desejo dos deste segmento, tantas vezes criticado pela sua apatia, de se envolverem.

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Um desses grupos do qual faço parte é os Global Shapers. Hoje existem mais de 5.000 global shapers, em mais de 500 hubs espalhados por quase todos os países do mundo. São grupos voluntários e apartidários de jovens líderes, guiados por princípios basilares como a integridade, a colaboração, o serviço e a dedicação, que desejam envolver-se com as suas comunidades e contribuir para moldar a sociedade ao seu redor.

O nosso hub local, o Global Shapers Lisbon Hub, foi um dos primeiros hubs a serem criados, tendo nascido há cerca de 10 anos de uma vontade tremenda de contribuir e construir o Portugal que sonhamos para o futuro.  Surgiu da iniciativa de jovens que queriam começar, estar na linha da frente, que se disponibilizaram “a dar a cara” , mostrar respeito pelas diferenças e envolver-se com os princípios básicos da democracia que custou ao nosso país tanto sangue, suor e lágrimas.

Temos uma grande ambição e vários  projetos que demonstram isso ,deixando-nos orgulhosos, como a nossa coluna no Observador, onde semanalmente partilhamos a nossa visão sobre o país – através dos distintos prismas que marcam as áreas de especialidade de cada shaper do nosso hub – o que nos apaixona, o que nos preocupa, e a nossa visão sobre o  futuro, nomeadamente os sonhos que temos para ele.

Coorganizamos com a Líder o Leadership Summit, celebramos o Dia Mundial da Dignidade em diversas  escolas pelo país, partilhamos refeições onde aprendemos com alguns dos líderes e personalidades mais marcantes do país, colaboramos internacionalmente para promover a  literacia financeira, tendo lançado um livro para crianças, “Maria e o Poder da Poupança”, os jovens do amanhã e os adultos do futuro, estando traduzido para mais de 20 línguas e disponível em dezenas de países.

Todos esses projetos são realizados através de  trabalho voluntário, trabalho  fora de horas, trabalho que nos “sai do pelo”, mas, acima de tudo, trabalho que nos permite dormir à noite, um pouco mais tranquilos, sabendo que contribuímos com as nossas ações cívicas, por menores que sejam, procurando contribuir para a construção do país do qual queremos fazer parte

Olhando para trás, lembro-me das vezes sem conta em que o meu avô me contava histórias, ainda em sussurro, sobre um tempo em que a simples palavra democracia tinha de ser pronunciada em segredo. Eu não quero esquecer o privilégio de viver numa democracia, pois é certamente um privilégio. E, por isso, olho para o meu papel na sociedade, enquanto cidadão comum, e tomo consciência do poder que detemos através das nossas ações diárias, e desse modo, da responsabilidade de nos envolvermos na edificação do bem comum.

Refletindo sobre democracia, não posso deixar de  sorrir sempre que releio as palavras, já cansadas de tanto uso, de Churchill, onde este aponta: “a democracia é o pior dos regimes, à exceção de todos os outros”. Na era  em que vivemos, é ingénuo não reconhecermos as fraquezas e limitações da democracia, mas seria também míope não reconhecermos a sua grandeza e pontos fortes.

E porque a democracia é tanto mais rica quanto mais cada um contribui para ela, quero concluir com um apelo: se tens entre 18 e 27 anos, se és inconformado e inquieto e tens uma vontade imensa de te envolver, construir e contribuir para uma democracia mais rica, candidata-te e junta-te a nós, no Global Shapers Lisbon Hub

O Observadorassocia-se aos Global ShapersLisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa. Ao longo dos próximos meses, irão partilhar com os leitores a visão para o futuro nacional e global, com base na sua experiência pessoal e profissional. O artigo representa, portanto, a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.