A diversidade e a abundância literária caracterizam a era moderna, marcando uma diferença significativa em relação ao passado. Mas que vantagens traz essa abundância e diversidade e de que forma é que no meio de tanta pluralidade de temas conseguimos escolher as histórias mais indicadas para cada um de nós?
Hoje, não há escassez de referências ou de ensinamentos. Com a Internet sempre ao nosso alcance, a literatura mundial pode trazer-nos, numa questão de minutos, experiências dos quatro cantos do mundo no idioma que quisermos e no formato que preferirmos, seja impresso, digital ou em áudio. Só em 2023, foram publicados 4 milhões de livros, um salto impressionante quando se considera que, no início dos anos 1990, eram lançados cerca de 50 mil títulos por ano.
Esta quantidade e diversidade acaba por ser transformadora, ao permitir-nos perceber o mundo a partir não só dos olhares “mais imediatamente acessíveis”, mas também através das experiências e imaginações de indivíduos que viveram (e vivem) em países absolutamente distintos do nosso. Além disso, temos a possibilidade de aprender com pessoas que passaram por desafios que desconhecíamos, compreender visões de mundo forjadas em contextos que ignorávamos, saber posicionar-nos como atores mais relevantes, como protagonistas na construção das utopias que, de uma forma ou de outra, todos procuramos.
Não é um exagero afirmar que, hoje, o melhor caminho para a felicidade, tanto individual como coletiva, está nesta diversidade, nesta pluralidade tão absoluta de vozes que desafiam o tempo e o espaço ao estarem à nossa plena disposição. A questão que se pode pôr, aliás, é outra: como é que podemos escolher as histórias que precisamos, os livros que melhor nos vão ajudar a trilhar os nossos caminhos, no meio de uma abundância tão avassaladora de literatura? Aqui, entram as redes sociais.
A mesma força da abundância que gera milhões de livros por ano, produz, afinal, milhares de recomendações e avaliações feitas por pessoas que, ainda que não conheçamos diretamente, aprendemos a confiar. Para se ter uma ideia, o número de recomendações de livros via TikTok é, hoje, tão grande que já responde a 3% de todas as vendas globais do mercado editorial. O TikTok, o Instagram, o Facebook, o YouTube, e até mesmo as páginas de livros nas livrarias online, são veículos absolutamente democráticos de críticas literárias. Tal permite perceber se poderá ser ou não uma boa leitura, como também, quando o feedback é muito positivo, acaba por incentivar o hábito da leitura.
Se, por um lado, nunca se leu tanto, como atestam vários estudos, também nunca se publicou tanto. Tal resulta não só das plataformas de autopublicação gratuitas para autores, mas também de um maior interesse por parte dos leitores que, só em 2023, compraram, 300 milhões de livros autopublicados, uma categoria que já corresponde a aproximadamente 75% do total de novos títulos lançados por ano.
Quando todos podemos contar as nossas histórias, todos podemos também crescer com as visões de mundo partilhadas por essa incrível coletividade da qual fazemos parte. A literatura dos nossos dias gira em alta velocidade por um inédito círculo virtuoso composto pela oportunidade generalizada de escrita, diversidade de opções de leitura e eficiência de canais de recomendação individual. Que aproveitemos este momento único para catapultar as nossas próprias vidas – e o destino da humanidade – a patamares melhores e mais altos que os atuais.