Macron cometeu o seu maio erro político em Junho quando convocou eleições antecipadas. Macron tinha um governo e uma maioria parlamentar. Após as eleições, perdeu a maioria parlamentar, não tem governo e a sua presidência está de rastos e pode nem mesmo chegar ao fim do mandato, em 2027.
Depois da queda do governo de Michel Barnier, não será fácil encontrar outro PM que tenha maioria no parlamento. A estratégia de Macron será nomear um PM tecnocrático ou de centro-esquerda, para retirar uma conotação política ao novo governo, e separar o partido socialista da extrema esquerda. Mas mesmo com os votos dos socialistas, a coligação centrista de Macron e os Republicanos, não chegarão a uma maioria absoluta. Serão 263 deputados, ainda longe dos 289 necessários para a maioria. Os dois grupos parlamentares radicais, da extrema-esquerda e da direita populista, chegam juntos à maioria absoluta: 293 deputados. Macron teria que entrar nos extremos para construir uma maioria de apoio a um novo governo. Neste momento, parece impossível tendo em conta que Le Pen e Melenchon defendem a demissão de Macron e eleições presidenciais antecipadas.
Macron arrisca-se a ver o parlamento francês chumbar mais um ou dois governos até Julho, quando já será possível marcar novas eleições antecipadas. Se isso acontecer, a pressão para a demissão presidencial aumentará consideravelmente. Vamos assumir que Macron resiste e marca novas eleições. Olhando para a política francesa hoje, o cenário mais provável será um resultado eleitoral semelhante ao de Julho, ou mesmo uma subida da extrema-esquerda e da Reunião Nacional de Le Pen. Será aí que Macron enfrentará uma crise existencial. Se as eleições legislativas não resolverem a crise política francesa, muitos dirão que só restará um caminho: a demissão de Macron.
Uma coisa parece certa. Se durante os próximos sete, oito meses, Macron não conseguir encontrar um PM com apoio maioritário no parlamento, passará a ser um político abandonado e só. Haverá seguramente um limite para Macron resistir às pressões para a sua demissão e à crescente solidão política.