As longuíssimas filas que os telejornais mostram nos centros de testagem Covid revelam bem o desfasamento que existe entre a procura e a capacidade de testagem. Além do que se vê nessas imagens, temos a informação de dias de atraso – cinco dias, concretamente, no caso de um familiar meu – na resposta aos testes.

E a testagem em larga escala é fundamental na luta para travar os contágios.

Ora, esta situação é remediável no curto prazo, se assumirmos a realidade caótica em que o país vive. Embora seja necessário algum alívio regulamentar, não é preciso mudar a Constituição!

Seria óptimo poder aumentar a capacidade de testagem com um estalar de dedos, mas isso é fantasia. No entanto, muitos países já praticam a testagem agrupada, que é uma solução de emergência absolutamente recomendável neste momento, pois multiplica-se instantaneamente o número de pessoas avaliadas com um acréscimo mínimo de recursos materiais e humanos consumidos.

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Na testagem em grupo, as zaragatoas de várias pessoas são analisadas utilizando um único kit de diagnóstico. Se todos do grupo estiverem negativos, o resultado vem negativo e é suficiente; mas basta que uma pessoa esteja positiva para ser obrigatório testar individualmente, ou em subgrupos, os participantes do conjunto original.

A testagem em grupo é particularmente eficaz em situações em que a probabilidade de ter um teste positivo na população em estudo (por exemplo, os residentes num lar) é relativamente baixa, inferior a 5% a 10% digamos, e os agrupamentos poderão ir até cerca de cinco utentes de cada vez.

Haverá, é claro, uma pequena diminuição da sensibilidade do teste relativamente a um teste feito de forma individualizada. Mas essa pequena perda é largamente compensada pela vantagem da resposta efectiva em tempo útil, que agora não está a ser conseguida com a testagem de cada pessoa, isoladamente.

A testagem em grupo tem aplicação ideal em lares, em escolas, em famílias e em equipas de trabalhadores laborando juntos, por exemplo.

Mas pode fazer-se mais.

Nesta situação de carência aguda há que gerir criteriosa, mas criativamente, os testes disponíveis e portanto as indicações de realização do teste PCR – mais seguro, mais lento, muito mais caro –  devem ser revistas e reservadas para pessoas em que o ganho de um diagnóstico positivo ou negativo seja mesmo o mais elevado. Em muitas situações, um teste rápido de antigénio – de zaragatoa ou de saliva -, de menor sensibilidade mas com resultado na hora, será uma escolha não só aceitável, como mais eficiente para o objectivo de impedir a propagação do vírus.

Há outras soluções que foram testadas no estrangeiro e que já deveriam ter sido adoptadas – por exemplo, a testagem das águas residuais dos esgotos.

Há muito que se sabe que a maioria dos infectados elimina o vírus nas fezes. Num lar ou num dormitório com largas dezenas de utilizadores, a análise da caixa terminal de esgotos, que o edifício certamente terá, permite a identificação razoável do vírus e é muitíssimo mais económica do que a testagem dos próprios utilizadores. A testagem dos utilizadores deverá ser feita, claro, no caso da testagem do esgoto ser positiva.

Também aqui, a testagem das águas residuais do esgoto não é tão sensível como a testagem individual. No entanto, ela pode ser feita com uma frequência muitíssimo superior e o resultado final é vantajoso a múltiplos títulos: eficácia, conforto e, inclusivamente, a título económico.

Devemos interiorizar que os testes são muito caros e que a economia está mesmo de rastos. E o dinheiro que desta forma pouparmos terá certamente aplicação mais útil noutros campos…