A mortalidade pela covid que aparece nos telejornais é exageradíssima e não reflecte a realidade porque se reporta apenas aos casos reconhecidos de covid como tal, que são, em quase todos os países, uma pequenina minoria da totalidade de indivíduos infectados.

Mortalidades já calculadas com este facto em conta andam na ordem de 0,1 a 0,35% (equivalente a menos de 3 mortes por cada mil pessoas) e ainda estão falseadas para cima por incluírem como mortes por covid mortes em que o coronavírus tem apenas uma parte da responsabilidade causal.

Mas mesmo este pequenino número é enganador. Muito mais relevante é a referirmo-nos à perda de tempo de vida global causada pela covid.

Em estimativa razoável (“educated guess” dos ingleses, que pondera o predomínio de mortalidade em idosos) podemos presumir uns cinco anos de redução média de vida nos pacientes que morrem essencialmente devido ao vírus, o que representa cerca de 25% dos 80 anos de esperança de vida média atual nas sociedades avançadas. Ou seja, em termos globais teremos que a covid poderia causar nos atingidos cerca de 25% de 0,3 de redução da esperança de vida global nos países avançados — 0,075% apenas! Em dias, menos de 25 dias de redução média de esperança de vida!!!

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Mas mesmo que o vírus fosse deixado em rédea livre, ele não deveria infectar mais que 70% da população.

Portanto, caro leitor, retenha este número — em traços largos, a covid deixada em roda livre levaria em média nacional à perda de menos de 18 dias de esperança de vida por pessoa.

Ora a mortalidade acrescida em resultado do confinamento/afastamento e da depressão económica que aí vem, e que é agravada pela intensidade e prolongamento das restrições em curso, é superior, é incomparavelmente superior. E isto sem contar os numerosos dramas humanos acompanhantes, como desemprego, depressão, conflitualidade, fome, etc..

Como as vacinas ainda estão longe, é mais do que altura de ter isto em conta e de explicar às pessoas estas realidades a fim de tornar socialmente aceitáveis as importantíssimas rectificações de política que se impõem, no sentido de normalizar muito mais a interacção social. O discurso tem que mudar.

Há que assumir que o novo coronavírus nos fará companhia desagradável durante um período prolongado e que teremos que viver — e morrer — com ele de maneira bem mais natural do que aquela que nos têm sido proposta.

Não podemos deixar de gozar a vida e de trabalhar com normalidade. Caso contrário, a cura será muito pior do que a doença.