É mais do que altura de deitarmos para o lixo as falsas ideias sobre a Covid e a necessidade quase paranóica da sanitização infindável.

Regressemos a Janeiro e lembremos as notícias da China, que diziam que havia um vírus que passava de animais para pessoas, mas que tinha muito fraca transmissão entre humanos, ao contrário do que tinha acontecido com a SARS-Covid de 2003.

Rapidamente, a progressão da doença mostrou que  ela se propagava – e muito – de pessoa para pessoa. Então, para não contradizerem a propaganda anterior, os chineses vieram com a conversa da transmissão através dos objetos: bastaria um infectado respirar, espirrar, ou tossir sobre uma superfície, para ela ficar imediatamente infecciosa. E se uma outra pessoa tocasse nessa superfície e depois tocasse nos olhos, ou no nariz, ficaria sujeita a um alto risco de infecção.

Surgiram numerosos estudos científicos, prontamente publicados nos media gerais, mas sem terem passado pelo escrutínio da revisão por outros cientistas, dizendo que era possível recuperar vírus de superfícies contaminadas, por períodos que iam até alguns dias.

As autoridades sanitárias reagiram, criando regras infindáveis de higienização, sanitização e limpeza, várias vezes ao dia, etc, e as pessoas ficaram quase paranoicas, desinfectando as moedas, os telemóveis, as chaves, os sacos de supermercado, os sapatos, as roupas e sabe-se lá o que mais. A sanitização, palavra nova, estendeu-se às ruas, aos transportes, aos bancos de praia…

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Ora, meses depois de tudo isto ter começado, é mais do que altura de dizer basta. Todo este teatro não tem base científica, mas tem custos económicos, sociais e ambientais brutais.

Na verdade, o facto de se conseguirem recuperar amostras virais numa superfície, não nos diz, de forma nenhuma, que essa superfície seja contaminante. Para que isso aconteça, é necessário não apenas conter vírus, mas ter vírus vivos e em concentração suficiente. Nunca será demais dizer, que uma pessoa normal, em contacto com um vírus em baixas concentrações, dá cabo dele através dos mecanismos naturais de defesa e não se infecta. Felizmente!

A limpeza sem fim, além de não servir para nada, levou e leva ao desperdício de consumíveis de uso único aos biliões, ao despejo na natureza de milhões de toneladas de desinfetantes poluentes, à suspensão da reciclagem de lixo. Assistiu-se ao aparecimento de dermatites aos milhares por excesso de lavagem e, até, a casos caricatos de telemóveis mortos por afogamento em desinfetantes!

A pandemia veio para ficar por muitos meses, mas o cansaço das populações no cumprimento das medidas de segurança já é evidente por todo o lado. Mais essencial se torna que nos foquemos apenas naquilo que, efetivamente, é importante: distanciamento, máscaras, evitar espaços fechados e mal ventilados, lavar as mãos em 20 segundos um pouco mais vezes.

Se a transmissão do vírus por objectos – papão que justificou este malfadado teatro – fosse um milésimo daquilo que foi presumido no início, bastaria que um doente tossisse sobre um varão de carruagem de metro para que, nos dias seguintes, aparecessem dezenas de novos infetados ao longo do trajeto dessa carruagem – mas isso não aconteceu, nem aqui, nem em qualquer outro lugar do mundo.  Um ou outro caso excecional que possa ter ocorrido de transmissão por objeto não justificaria, de forma nenhuma, os custos desta limpeza louca. Continuar a ver, neste mês de Agosto, um banheiro, de tantas em tantas horas, a despejar desinfetante sobre espreguiçadeiras de praia à torreira do sol, que, por sinal, até destrói o coronavírus, é patético e é ridículo!

Finalmente, o aparato em curso potencia medos irracionais, que levam muita gente a sofrer de problemas psíquicos importantes, afastando-as de viver a sua vida do dia-a-dia com normalidade sensata.  O vírus é coisa séria e o medo é uma coisa boa, mas quando é proporcional, com conta, peso e medida.

Por tudo isto, está mais do que na altura de a Direcção Geral de Saúde assumir, com clareza, que as indicações que foram dadas no princípio da pandemia se baseavam no conhecimento incompleto disponível na altura, mas que agora se sabe mais e que, portanto, chegou o momento de acabar com esta farsa da sanitização louca.

Nota: como é óbvio, estas considerações aplicam-se às pessoas comuns e não a ambientes hospitalares, ou afins, com coronavírus.