A política brasileira é única e desafia os modelos com que nos habituámos a analisar as democracias ocidentais. A lista dos partidos políticos representados no Congresso parece mais uma liga de futebol do que um parlamento político. No entanto, há mais de vinte anos os candidatos das segundas voltas pertencem sempre aos mesmos dois partidos. Um país profundamente ocidental – Fernando Henrique Cardoso costumava dizer que “o Brasil está no extremo Ocidente” – mas que pretende desempenhar um papel central numa coligação “anti-ocidental”, os BRICS. Um país onde o descentralismo federal coexiste com um Estado central omnipresente, sobretudo na vida económica. Os mesmos partidos aliados nas eleições presidenciais concorrem uns contra os outros nas eleições estaduais. E um partido, o PMDB, que nunca viu um dos seus ganhar as eleições presidenciais nos últimos vinte anos, tem estado sempre no poder, primeiro com Henrique Cardoso e depois com Lula e Dilma. A democracia brasileira é fascinante e ao mesmo tempo uma paródia.
A maioria esperava que Marina da Silva chegasse, pela primeira vez, à segunda volta e muitos previam mesmo a sua eleição. Ficou porém pelo “primeiro turno”. Aécio Neves foi dado como “morto” politicamente, a começar por muitos no seu partido, e passou à segunda volta com mais votos do que José Serra há quatro anos. Depois das surpresas, voltará a política brasileira à normalidade com a reeleição de Dilma? Ou Aécio acabará por vencer as eleições?
Além dos dois candidatos, há dois convidados que desempenharão um papel importante na campanha eleitoral. O primeiro dos convidados é Lula, ainda o político mais popular no Brasil. Sem a distração da eleição para governador de São Paulo, onde Lula se empenhou em ajudar o candidato do seu partido, sem sucesso – o que mostra que o antigo Presidente não é invencível –, o antecessor de Dilma ocupará um lugar de relevo na candidatura do PT. Será a participação de Lula decisiva? Há quem julgue que sim, há quem diga que não. A verdade é que se Dilma for eleita, o mérito irá em grande medida para Lula. A popularidade de Lula e a força eleitoral do PT serão os dois principais trunfos de Dilma.
A segunda convidada será Marina da Silva. Convidou-se a si própria quando decidiu apoiar Aécio Neves. Se fosse neutral, desapareceria. Apoiando um dos candidatos, continuará a participar nas eleições. O que fará para provocar a derrota de Dilma? Conseguirá que a maioria dos seus eleitores vote agora em Aécio? Ou não impedirá a dispersão dos seus? A maioria dos analistas brasileiros acredita que se Aécio ganhar nos quatros “swing states”, Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, será eleito. Isso acontecerá se conquistar cerca de 70% dos votos de Marina. Aécio tem ainda outra vantagem: a taxa de rejeição da Dilma é superior à sua.
Há dois factos que parecem indiscutíveis. A maioria dos brasileiros deseja a mudança. Mas é igualmente verdade que a maioria dos brasileiros vive hoje melhor do que vivia há doze anos quando o PT chegou ao poder. Qual dos sentimentos será mais forte? O desejo de mudança ou o medo de perder as conquistas do passado? Está aqui a chave da vitória.