Se tem dúvidas em como votar nas próximas eleições recomendo vivamente que preencha um pequeno questionário (eu e a EU) de 22 perguntas com uma escala de um a cinco e ficará a saber qual o partido político que está mais próximo das suas preferências. E se houver dois muito próximos da sua posição, olhe para o cabeça de lista dos dois partidos e escolha. Mas vote. É verdade que, como dizia aqui a representante da delegação da Comissão Europeia em Portugal, Sofia Colares Alves, não se têm debatido as questões europeias, mas essencialmente política nacional. Mas isso em nada diminui a importância destas eleições. A União Europeia é e será cada vez mais essencial para o nosso futuro coletivo.
É mais fácil decidir como votar, do que prever o que irá acontecer no rescaldo das eleições europeias que terão impacto quer a nível nacional, em cada estado membro, quer europeu.
Tabela 1- Parlamento Europeu: Distribuição de mandatos por famílias políticas e países
No parlamento europeu, as famílias políticas europeístas (partido popular europeu (PPE) e socialistas & democratas, S&D) que alternadamente, têm assegurado uma maioria suficiente para fazer progredir a integração europeia, certamente que perderão essa maioria. Hoje representam 53,5% dos mandatos e em 2019, segundo projeções do POLITICO, representarão apenas 42,1%. Tudo indica que a fragmentação do novo parlamento europeu será maior e maior a dificuldade de formar maiorias. Um primeiro resultado, praticamente certo, das próximas eleições é que desaparecendo esta maioria desaparece com ela o poder das duas maiores famílias políticas de escolherem só entre si os nomes para os lugares-chave do projeto europeu (presidente da comissão, presidente do BCE, etc.). Alguém mais terá de se sentar no lugar da frente da integração europeia e o principal candidato serão os liberais democratas (ALDE), com o reforço dos deputados do En Marche de Macron. Crucial para o progresso da integração europeia, quer internamente quer na EU será, por isso, o resultado eleitoral de Macron, dado que é o político europeu com algum peso que tem apresentado propostas mais arrojadas neste domínio. Com a adesão do En Marche, a ALDE passará de quarta, para terceira força política europeia e tornar-se-á um parceiro essencial no futuro da União Europeia, a confirmar-se que, com ela, haverá uma maioria confortável no parlamento europeu. O poder da ALDE dependerá de existir ou não uma coligação maioritária que pode juntar, em certo tipo de legislação, o Partido Popular Europeu (PPE), os Conservadores (ECR, onde está a CDU/CSU de Merkel, na Alemanha, bem como os conservadores britânicos) e os socialistas e democratas (S&D). Note-se que esta coligação hoje tem uma maioria confortável (63,8%), mas deverá ficar muito perto de apenas metade dos mandatos (50,2% segundo as projeções atuais). Uma das grandes incógnitas da noite eleitoral será precisamente se estas três famílias políticas conseguem, ou não, obter uma maioria absoluta no parlamento europeu. Se o conseguirem o poder acrescido da ALDE existirá, mas não será tão grande, pois existe outra coligação maioritária alternativa, mas se não o conseguirem, os liberais e democratas tornar-se-ão os novos pivots das decisões europeias.
Diga-se, contudo, que esta eventual maioria política do “bloco central alargado aos conservadores” (PPE+S&D+ECR) não será tão importante nem tão sólida como a do “bloco central alargado aos liberais” (PPE+S&D+ALDE), em termos do progresso da integração europeia, pois os conservadores (ECR), incluem os britânicos ainda de Theresa May, que são obviamente muito menos pró-europeus que os liberais e democratas da ALDE. Basta lembrar que o Belga Guy Verhofstadt, líder da ALDE, é um fervoroso federalista.
À esquerda e no centro-esquerda, tudo indica que haja um movimento de votos da esquerda unitária (GUE/NGL onde está a CDU e o Bloco de Esquerda) para os verdes (Green/EFA onde não há partidos portugueses, mas onde se sentará o deputado do PAN caso seja eleito). Hoje estas duas famílias políticas têm o mesmo número de mandatos (52) e estima-se que os ganhos dos verdes sejam exatamente a perda da esquerda unitária (3 mandatos), algo que poderá estar subestimado. Talvez isto explique a razão pela qual diversos partidos políticos nacionais têm colocado na sua agenda com saliência as questões ambientais.
Finalmente, outra certeza destas eleições é o peso crescente das forças nacionalistas, populistas e anti-europeias um pouco por toda a Europa incluindo a Alemanha onde a AfD deverá aumentar a sua representação. Se incluirmos os independentes e não inscritos (IN), maioritariamente eurocépticos, o seu peso passa de 13,1% para 22,1% ou seja cresce para quase um quarto dos eurodeputados. Curiosamente, dado que o peso dos ingleses do partido da independência (UKIP de Nigel Farage), neste grupo, é significativo, a eventual saída do Reino Unido da UE, com a consequência da saída de todos os seus deputados, melhorará um pouco este mau cenário, do ponto de vista dos europeístas, onde me incluo.
Tabela 2- Possíveis coligações resultantes das eleições europeias (% mandatos).
Numa nota de optimismo, podemos verificar, a partir das sondagens nacionais, que em Portugal, não deverá haver, a confirmarem-se, tanta fragmentação parlamentar como ao nível europeu. Por outro lado, não se espera que haja a entrada de novos deputados eurocépticos portugueses a partir quer de novos partidos, quer dos que já têm representação parlamentar. Se tal acontecer será em muito menor proporção do que na Europa como um todo.
O futuro da Europa dependerá da nova composição do parlamento europeu, de quem for escolhido para Presidente da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu, e da audácia e engenho dos líderes europeus em reformar a União Económica e Monetária, de preferência antes da próxima crise.