É verdade que nem tudo vai bem.

A habitação, os transportes, a saúde e a educação, por exemplo, encontram-se num estado deplorável. Não há casas para alugar, e quando as há são a preços mirabolantes, os comboios são erráticos e pouco fiáveis, a TAP é um caos permanente que nos custa uma fortuna, o SNS rompe pelas costuras e a educação caminha para um regime em que apenas os alunos do ensino privado têm aulas. As pessoas exprimem a sua insatisfação com o que se passa através de greves, manifestações e rituais desabafos nas paredes das casas de banho públicas com palavras que o pudor impede mencionar.

Mas convém perceber porque é que isto acontece. E não custa percebê-lo. A ganância e o apetite do lucro fácil dos privados estão por detrás de tudo. Quais víboras lúbricas, querem tudo para eles e não olham a meios para atingir os seus fins. Querem, imaginem, espécie de kulaks urbanos, que as suas casas lhes rendam dinheiro. Querem, quais piratas do ar, tomar posse das nossas caravelas voadoras. Querem fazer da saúde um negócio. E, horror dos horrores, querem ensinar os alunos.

Desenganem-se aqueles que pensam que lidamos aqui com reivindicações desorganizadas e espontâneas. Trata-se, como é bom de ver para alguém com alguma educação teórica e uma concepção socialista da justiça, de um movimento organizado nos seus mais ínfimos detalhes, visando semear um ambiente de desconfiança na sociedade. A história passada ensina-nos como estas coisas se preparam e se levam a cabo. Lembrem-se do complot das gasolineiras e do mais recente complot da grande distribuição. Tudo está lá: o desejo – a ganância –, os meios – a criação do caos – e os fins – a destruição da sociedade.

E quem está por detrás de tudo isto? Urge denunciar, sem tibieza nem meias-palavras: a clique passista-cavaquista, que julgávamos lançada para o caixote de lixo da história, mas que continua a mostrar as suas presas afiadas e o seu velho projecto de terrorismo social. Não é difícil encontrar provas do seu conluio com Trump e Bolsonaro. O projecto, de resto, é o mesmo: destruir tudo o que resta de Abril através de um intenso processo de sabotagem generalizada. Sabotagem das turbinas eólicas. Sabotagem dos painéis solares. Sabotagem da produção de cebolas. Sabotagem da transição digital e reposição do ábaco nas escolas. Sabotagem do PRR. Sabotagem dos navios da Marinha. Introdução de médicos assassinos no SNS. Assassinato dos capitães de Abril e ressuscitação do almirante Américo Thomaz.

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Mas a vitória é nossa e tudo caminhará para o melhor.

Serão derrotados. O nosso povo exige uma única coisa: que estes malditos répteis sejam esmagados, que estes cães sarnentos sejam abatidos. Os tempos passarão, as ervas daninhas e os cardos invadirão os túmulos dos traidores execrados. Na longa estrada, virada a página da última impureza e da última abjecção do passado, todos nós, o nosso povo, guiados por António Costa, continuaremos a ir em frente, sempre em frente, em direcção ao socialismo.

O que é preciso, o que anima a malta, é malhar na direita. Com gosto, proficiência e engenho. Malhar a sério nos que querem destruir a sociedade em benefício da ganância e do lucro, sob a capa de uma hipócrita defesa da liberdade individual. Aliás, basta oporem a liberdade ao PS para se perceber que não estão verdadeiramente a falar de liberdade. Porque a liberdade é, por definição, histórica e logicamente, o PS. Sá Carneiro, embora não o tenha dito exactamente assim, tinha-o percebido. De resto, toda a gente bem informada o sabe, Sá Carneiro era do PS – e da ala esquerda do PS – e adorava malhar na direita. Só a clique passista-cavaquista, com a sua constante falsificação do passado, o finge ignorar. Honremos, pois, a sua memória socialista. E não nos esqueçamos que António Guterres é seu filho e António Costa seu neto. Ditoso neto deste dilecto irmão de Mário Soares. Ana Catarina Mendes, sua bisneta, guarda ainda dele carinhosas memórias. Veem-lhe as lágrimas aos olhos quando se lembra que disse “PS” pela primeira vez ao seu colo. Pacheco Pereira tem, nos seus arquivos, uma fotografia do momento.

De resto, e voltando ao essencial, não temos nós a constituição mais progressista e democrática do mundo? E a nossa vida não melhorou, não se tornou mais alegre? O ser humano, o mais precioso capital, não é hoje em dia mais feliz do que sempre foi? Não nos assegura o Governo todas as medidas necessárias ao nosso bem-estar? A resposta a todas estas perguntas não merece dúvidas. O Governo toma invariavelmente as melhores soluções, de acordo com o mais científico método e os mais sãos princípios. Se encontramos algumas dificuldades no nosso caminho, tal só se pode logo dever à intensa sabotagem da clique passista-cavaquista. Salta aos olhos. Mas as dificuldades serão vencidas. O verdadeiro socialismo está próximo.

PS. Vivi oito anos em Paris, nos anos 90. O pessoal político francês que conhecia desapareceu quase inteiramente. Os partidos que havia igualmente desapareceram, ou quase, ou mudaram de nome (estão sempre a mudar de nome). Uma coisa, no entanto, permanece exactamente idêntica: o gosto dos franceses em andarem à porrada com a polícia. Se nos lembrarmos que no Maio 68 o número total de mortos, apesar de todos os confrontos, se limitou a cinco – dois estudantes, dois operários e um polícia (três dos quais por razões acidentais: um estudante, um operário e o polícia) –, percebe-se que o desporto, apesar de algum pouco risco, compensa ser praticado.